terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os ovos, as omoletes e o cozinheiro (II)

O FC Porto é uma boa montra, particularmente por ser um dos clientes mais assíduos da principal competição de clubes do Mundo – a Liga dos Campeões. Os jogadores sabem-no e os empresários também. Além disso, nos últimos anos tem exportado jogadores de grande qualidade para os campeonatos mais fortes da Europa onde, apesar da enorme exigência, esses jogadores têm chegado e “pegado de estaca” (cá em Portugal é que se continua a dizer que os jogadores precisam de um ano de adaptação...).
Daí não ser surpresa que, no final da época 2006/07, dois dos melhores jogadores do FC Porto - Anderson e Pepe - tenham saído para Manchester United e Real Madrid, em duas transferências por valores irrecusáveis (o total ascendeu aos 61,5 milhões de euros).

Relacionado também com a saída de jogadores, vale a pena chamar à atenção para o facto do plantel ter sofrido uma sangria de brasileiros. Assim, para além de Anderson e Pepe, foram dispensados mais seis - Ezequias, Bruno Moraes (por lesão), Ibson, Jorginho, Alan e Adriano (embora este ainda hoje se mantenha vinculado à FCP SAD).
Tratou-se de uma “limpeza de balneário” ou foi apenas coincidência?


Coincidência ou não a partir daí começou a haver uma aposta mais forte da SAD em sul-americanos de outras origens, principalmente da Argentina.

Apesar do FC Porto ser bi-campeão e do treinador se manter, foi feita uma remodelação profunda no plantel para a época 2007/08. A FCP SAD abriu os cordões à bolsa e investiu cerca de 20 milhões de euros nos seguintes empréstimos/contratações: Fernando, George (Leandro) Lima, Lino, Edgar, Edson, Luís Aguiar, Bolatti, Farias, Mariano Gonzalez, Stepanov e Kazmierczak.

Desafortunadamente, e pelo segundo ano consecutivo, as contratações revelaram-se um fiasco (será apenas um problema de sorte e azar ou é algo mais?).
Como nenhuma das 11 contratações mostrou ter valor para conquistar um lugar no onze titular (alguns nem sequer no plantel) Jesualdo teve de recompor a equipa recorrendo ao que já tinha. Assim, Pedro Emanuel, recuperado de uma lesão gravíssima (esteve um ano sem jogar), ocupou o lugar de Pepe; Tarik, depois de meio ano de empréstimo, aproveitou a oportunidade para se impor como extremo/ala direito e Lisandro passou de ala/extremo esquerdo para a posição que mais gosta – ponta-de-lança móvel.

A equipa-tipo 2007/08 foi a seguinte:
Helton, Bosingwa, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Fucile, Paulo Assunção, Raul Meireles, Lucho, Tarik, Quaresma e Lisandro.


Com cada vez menos “ovos” de qualidade à sua disposição – as saídas de McCarthy, Diego, Hugo Almeida, Anderson e Pepe não foram colmatadas por jogadores cuja qualidade fosse minimamente comparável -, o “cozinheiro” Jesualdo teve a felicidade de nenhum dos jogadores do núcleo duro se ter lesionado com gravidade, o que lhe permitiu manter os mesmos 10/11 jogadores na maior parte dos jogos.
Beneficiando de já ter um ano de trabalho e dos jogadores demonstrarem ter assimilado os métodos do treinador, a equipa evidenciou uma consistência superior à da época anterior e o tri-campeonato foi um passeio (os 20 pontos de avanço relativamente ao 2º classificado dizem quase tudo).


Na Liga dos Campeões o desempenho da equipa melhorou pelo segundo ano consecutivo. Primeiro, obtendo o 1º lugar na fase de grupos, à frente de dois clubes de países do top 5 – Liverpool e Marselha; depois, nos oitavos-de-final, a passagem aos quartos-de-final da LC esteve por um fio (à distância de um desempate por penalties).

05/03/2008, FC Porto – Schalke 04: Dando sequência a uma exibição fabulosa, Manuel Neuer defende o penalty decisivo no desempate por penalties

Também na Taça de Portugal, embora assumidamente não seja uma prioridade, houve um melhor desempenho, com o FC Porto a chegar à final do Jamor onde, para além do Sporting, enfrentou uma arbitragem vergonhosa de Olegário Benquerença, que contribuiu para que não ganhasse o troféu.

Apesar de ter à sua disposição um plantel qualitativamente curto, Jesualdo foi capaz de moldar em 2007/08 o melhor FC Porto desde Mourinho. A dupla Lucho-Lisandro funcionou em pleno, Bosingwa e Bruno Alves subiram mais uns degraus despertando a cobiça internacional e Quaresma, apesar de alguma inconstância, teve momentos de genialidade absolutamente decisivos.

Tango argentino, uma constante durante a época 2007/08



Como principal aspecto negativo, e apesar do marketing que envolve o projecto 611, a ausência de uma aposta consistente e continuada em jovens portugueses. O FC Porto tem nos seus quadros alguns dos melhores valores nacionais – Paulo Machado, Vieirinha, Bruno Gama, Hélder Barbosa, Castro, etc. – e, olhando para o plantel, custa a crer que, mesmo após rodarem em vários clubes, nenhum deles tenha valor para singrar no FC Porto.

Se no final da época 2006/07 a continuidade de Jesualdo foi pacifica, no final de 2007/08, perante os resultados alcançados, o consenso em torno do treinador era ainda mais alargado (claro que ninguém reúne a unanimidade, nem sequer Pedroto e Mourinho o conseguiram).

Mantendo-se o treinador, é lógico que para 2008/09 o objectivo fosse que a equipa continuasse a evoluir. Para tal, seria necessário que a sangria dos titulares fosse limitada e que as novas contratações viessem injectar no plantel a qualidade que este vinha perdendo.


(continua - A época 2008/09, a descaracterização do plantel)

8 comentários:

miguel87 disse...

"Desafortunadamente, e pelo segundo ano consecutivo, as contratações revelaram-se um fiasco (será apenas um problema de sorte e azar ou é algo mais?).
Como nenhuma das 11 contratações mostrou ter valor para conquistar um lugar no onze titular (alguns nem sequer no plantel) Jesualdo teve de recompor a equipa recorrendo ao que já tinha."

Será mesmo assim?? Que hipoteses tiveram os reforços de entrarem na equipa? Um ou outro jogo amigavel? Um jogo da taça da liga em que entram 9 ou 10 ao mesmo tempo na equipa? (aqui com a agravante deste treinador, reconhecidamente por jogadores que já sairam (Ibson, B.Moraes), NÃO DISPENSAR QUALQUER TEMPO/PREOCUPAÇÃO NOS TREINOS COM AQUELES QUE NÃO FAZEM PARTE DO NUCLEO DURO DE 12/13 JOGADORES!) Nestas circunstancias é dificil, para não dizer impossivel, que qualquer jogador mostre que é reforço.
Senão, compare-se com os casos dos reforços do tempo anterior a Jesualdo: mesmo ao fim de uma época, quem destes mostrou que era reforço: Bosingwa, Pepe, B.Alves, Assunção, Lisandro???

Tudo bem que para entrar e pegar de estaca é preciso ser um fora de série, mas um ou dois jogos mal conseguidos quando entram de novo numa equipa não torna necessáriamente um jogador em mau jogador/refoço (ex. Guarin ou Hulk).
Da mesma maneira que a insistencia em jogadores que teimam em não acertar os torne em bons jogadores, muito menos a curto prazo (ex.Mariano).

Ainda hoje comentava aqui com um amigo Portista, ao falar do jogo de ontem do Braga, onde o treinador está a potenciar ao máximo os jogadores que tem disponiveis, o seguinte: por muito má que seja a politica de contratações do Porto, não deixamos de ter o melhor plantel entre a nossa concorrência! Agora o que é certo e cada vez mais flagrante é que não temos treinador capaz de reentabilizar esses recursos.

Exemplos práticos:
que fez Alan de errado para não conseguir um lugar no plantel como tem o Mariano por ex?
Quantos jogos fez o Renteria na equipa do Porto para ser assumido como fiasco?
Quem temos no plantel que possa fazer o papel que podia ser do Luis Aguiar?
Que médio temos (alem do Lucho quando em forma) com a categoria do Ibson?
Qual a necessidade de constantemente adaptar jogadores nas alas quando não se perdia nada em apostar em Vieirinha, H.Barbosa, B.Gama??

Mário Faria disse...

Acho que o Miguel tem em parte razão. Não estou suficientemente certo para ilibar JF nas contratações feitas nestas duas últimas épocas (Kas é apenas um exemplo seguro dessa influência), incluindo a escolha do "seu" actual adjunto, bem como nos défices físico/tácticos do FCP, desta época.
Vamos ver se esta "crise" é conjuntural ou sistémica.
Temos de esperar para ver, se possível com alguma calma e tolerância.

O Anti Lampião disse...

o polvo tem os tentaculos bem grandes e parecem-me que chegam a muito lado:
"Penhoras ao Sporting e ao Benfica desapareceram As cópias de autos de penhoras efectuadas pela Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) a vários clubes de futebol, entre os quais o Sporting Clube de Portugal (SCP) e o Sport Lisboa e Benfica (SLB), desapareceram de um envelope selado que se encontrava na gaveta de uma funcionária da administração fiscal e foram substituídas por folhas para reutilizar na impressora. A informação é dada pela própria funcionária da DGCI no âmbito do processo que decorreu no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa no seguimento da queixa do anterior director-geral dos Impostos, Paulo Macedo, relativa às fugas de informação da DGCI. O desaparecimento dos documentos foi abordado pela primeira vez numa informação enviada em Outubro de 2005 ao então director-geral pelo director distrital de Finanças de Lisboa. Este responsável relata o desaparecimento de autos de penhoras feitas a clubes de futebol e, face à denúncia, Paulo Macedo pede à Judiciária para averiguar a situação. Mais tarde, já no âmbito da investigação do DIAP, é apresentado um ofício do director distrital de Finanças de Lisboa que não é mais do que o relato feito pela funcionária do fisco a quem alegadamente foram roubados os documentos. A funcionária explica que lhe foi entregue um mandado de penhora em nome do executado SCP e que, no seguimento desse mandato, foram executadas diversas penhoras ao clube. A funcionária diz ainda que fez três cópias do documento. Arquivou uma cópia junto ao processo que decorria naquela direcção de finanças; outra no arquivo mensal da equipa a que pertence; e uma outra num envelope onde já se encontravam cópias de outras penhoras a clubes de futebol, nomeadamente ao SLB. A funcionária garante ainda que o envelope se encontrava fechado com fita-cola. Mas o inesperado aconteceu. Foi solicitado à funcionária informação sobre as ditas penhoras efectuadas ao Sporting e ao fazer essa informação tentou juntar a documentação. Mas tal não foi possível, porque o processo estava na sua mala pessoal, que tinha, naquele dia, deixado em casa. E foi então procurar o envelope com as cópias que tinha deixado na sua secretária. O envelope estava onde o deixou, mas toda a documentação que lá tinha deixado tinha sido substituída por um volume de folhas já impressas e que se destinavam a ser reutilizadas. Perante este relato dos acontecimentos, a funcionária foi chamada a depor no DIAP, tendo reafirmado os mesmos factos, acrescentando que não se tinha apercebido que os documentos tivessem sido usados. Disse ainda que não tinha como identificar o autor do roubo porque as suas gavetas estavam abertas e trabalhava num espaço aberto com mais 25 pessoas. O DIAP concluiu que, apesar de poder estar perante um crime de furto, não havia elementos que possibilitassem a identificação do seu autor e arquivou o processo. O director-geral dos Impostos, Paulo Macedo, pediu à Judiciária uma investigação sobre o caso dos autos."

Zé Luís disse...

"que fez Alan de errado para não conseguir um lugar no plantel como tem o Mariano por ex?
Quantos jogos fez o Renteria na equipa do Porto para ser assumido como fiasco?
Quem temos no plantel que possa fazer o papel que podia ser do Luis Aguiar?
Que médio temos (alem do Lucho quando em forma) com a categoria do Ibson?"

O Alan não sei o que fez de mal, mas 95% dos adeptos queriam vê-lo pelas costas...
o tal colombiano foi uma fraude...
Ibson foi a troca necessária para entrar Paulo Assunção e não se perdeu nada com isso.

Há para todos os gostos, caro miguel87.

Mário Magalhães disse...

Meus caros ao longo deste 2 anos e 2 meses que este senhor está a frente dos destinos da nossa formação, tem metido os pés pelas mãos, relembro e pergunto quantos defesas esquerdos já foram contratados na era dele??? Digo e afirmo que o melhor defesa esquerdo que o Porto tem está emprestado ao Palmeiras do Brasil. Porque esta viragem repentina para o mercado argentino??? Quem terá intereses naquele mercado??? Quem tem ido negociar aqueles jogadores??? Não será um Director da mesma região que o nosso treinador??? Não terá comissões a dupla??? Ou será mais alguem??? Deixo estas questões em aberto porque muita coisa se passa... Só quero ver esta dupla fora do PORTO

Miguel disse...

Carissimos,

Concordo com muito do que o miguel87 disse. E ninguém me tira da cabeça que se não fossem por ordens superiores, nem o Rodriguez entrava no onze inicial desta época por ter de passar por uma fase de "adaptação".

Em relação à responsabilidade do Jesualdo ou não nas contratações, nem sei se o Kas não terá sido por interesses entre o FCP e o Boavista. Mas mesmo sendo uma contratação da responsabilidade do treinardor, todos os treinadores têm as suas pancadas (quem não se lembra da insistencia de José Mourinho em Tiago!).

Em relação ao que disse Mário Magalhães, essa do defesa esquerdo tem muito que se lhe diga (mesmo concordando que o Leandro seria nesta altura um óptimo reforço). Não se esqueçam que se fosse pelo Co, teriamos contratado o lateral direito holandês e quem sabe se o bosingwa não estaria hoje a sair do FCP a custo zero envolvido num qualquer negócio da treta.

Sinceramente, não me importa se foi o Jesualdo que escolheu os reforços ou não. O que me interssa é que é notório que ele não consegue por as pedras da equipa a funcionar. E torno a insistir na mesma tecla: apesar de ser óbvio que temos algumas lacunas, o plantel não é tão mau como o querem pintar.

Metz disse...

"o tal colombiano foi uma fraude..."

O único crime que esse cometeu, foi falhar um golo na Luz... Apartir daí foi votado ao ostracismo sem sequer lhe darem uma oportunidade de jeito...

Enfim...

Cumpz

PMF disse...

"O FC Porto tem nos seus quadros alguns dos melhores valores nacionais – Paulo Machado, Vieirinha, Bruno Gama, Hélder Barbosa, Castro...." - pessoalmente, não concordo, de todo, com esta afirmação. E, de resto, quase todos os nomeados tiveram hipóteses (oportunidades) de se mostrarem e de se afirmarem no plantel. Tirando o Bruno Gama (ainda uma incógnita, dependente da sua evolução nos próximos tempos imediatos), não acho que sejam jogadores à altura das exigencias do porto....O que não quer dizer (e, aí, concordo) que as aludidas contratações sejam fossem melhores.