terça-feira, 13 de março de 2012

Incapacidade gritante

O FC Porto não ganhou porque não foi capaz, não foi competente”.
Não podemos entrar em mais nenhum jogo com esta falta de agressividade e sem capacidade para resolver as dificuldades colocadas”.
Demos 45 minutos de vantagem ao adversário. Na primeira parte, não existimos como equipa. Faltou-nos agressividade, do ponto de vista ofensivo e defensivo; a equipa foi lenta, denunciou muito o jogo. Depois, tivemos de ir atrás do prejuízo.”.
Não quero justificar a má primeira parte com a equipa de arbitragem. Nem sequer queria ir por aí, porque o que define o jogo é uma primeira parte que, do nosso lado, não existiu.


Todas estas declarações foram feitas por Vítor Pereira, no final do FC Porto x Académica.
Vítor Pereira fala em incapacidade, incompetência, inexistência como equipa e eu, que vi o jogo atentamente, não poderia estar mais de acordo com ele. Mas, quantas vezes já ouvimos este discurso?

Eu admito que jogos de menor motivação possam acontecer pontualmente ao longo de uma época, principalmente se a vantagem na classificação for de modo a proporcionar algum amolecimento aos jogadores (na época passada, para evitar que isto pudesse acontecer, André Villas-Boas ia anunciando objetivos intermédios). O problema é que esta incapacidade, incompetência e inexistência de que fala Vítor Pereira, referindo-se à equipa que ele próprio orienta, fazem parte de um “filme” que esta época já vimos N vezes e em que ele é um dos protagonistas.
De facto, Vítor Pereira mostrou lucidez na análise que fez ao FC Porto x Académica, mas ele não é comentador, nem jornalista. É o treinador principal da equipa de futebol sénior do FC Porto e dele os portistas esperam soluções, até porque tem à sua disposição o plantel mais caro de sempre do futebol português (se é o melhor, ou se é um plantel equilibrado, é outra conversa).

No seu comentário ao jogo, o meu companheiro do blogue Mário Faria, escreveu: “ou o treinador não é capaz de passar a mensagem e os processos, (…) ou então são os jogadores que não lhe ligam nenhuma, não aprendem ou acham que o que lhes pede é algo sem nexo”.
Tal como o Mário Faria, eu também não sei o que se passa mas, em qualquer das situações, eu diria que o treinador não fica bem na fotografia.

Quando Vítor Pereira passou de Nº 2 a Nº 1 e assumiu o comando técnico do FC Porto, o que herdou?
Uma equipa que tinha ganho o campeonato (sem derrotas!) e a Taça de Portugal, acumulando várias vitórias históricas e categóricas perante o principal rival, a que juntou a conquista da Liga Europa. E, para além dos resultados, tínhamos uma equipa que jogava de forma fantástica (lembram-se de haver quem a comparasse ao Barça?), que bateu recordes, que vencia contra as arbitragens e que fez os adeptos sonhar com a repetição dos sucessos a nível interno e um trajeto longo na Liga dos Campeões 2011/12.

Ora, há quem pense que o núcleo duro de jogadores que, sob o comando de André Villas-Boas, atingiram estes patamares de excelência, são os mesmos que esta época querem “tramar” o seu ex-adjunto. E, por quererem “tramar” o Vítor Pereira, ignoram o que ele diz, jogam deliberadamente de forma apática, não têm vontade de ganhar os jogos e, no limite, até vão perder o campeonato de propósito.
Para eu alinhar nesta tese rebuscada, vão ter primeiro de me explicar o que é que os jogadores ganhariam em, propositadamente, prejudicar-se a si próprios!

Também há quem sustente que os jogadores são meninos mimados e que jogam pouco porque já estão com a cabeça em transferências milionárias para o Chelsea, Manchester United, Juventus, etc.
Bem, isto parece-me um contrassenso, porque para suscitar o interesse dos grandes clubes europeus e levá-los a abrirem os cordões à bolsa, os jogadores têm de dar nas vistas pela positiva, ou não?

A minha perspetiva é outra e muito mais simples. Na análise que faço ao desempenho da equipa azul-e-branca, penso hoje o mesmo que pensava em Setembro/Outubro passado, ou seja, o FC Porto dispõe de um plantel de boa qualidade (globalmente) e com provas dadas, mas em que se destacam duas lacunas graves:
i) falta de um ponta-de-lança ao nível do restante plantel;
ii) incapacidade gritante do treinador em motivar, potenciar e tirar pleno partido dos jogadores que a Administração da SAD colocou à sua disposição.

Faltam disputar oito jornadas para terminar o campeonato e, ao contrário do slb, o FC Porto só depende de si para revalidar o título que é seu. Contudo, mesmo que a equipa consiga manter até ao fim a posição que ocupa atualmente, Pinto da Costa e Antero Henrique devem refletir profundamente em tudo o que se passou esta época. Os erros de planeamento e de casting não se podem repetir na próxima época.

P.S. O facto de noutros artigos ter destacado diversos casos de arbitragem que ocorreram nesta jornada, não invalida que também reflita sobre os problemas internos que afetam a equipa do FC Porto. São dois aspetos distintos e ambos têm forte influência no desempenho da equipa e nos resultados dos jogos.

27 comentários:

Pedro Reis disse...

Excelente artigo, na mouche!
E já repararam que até o Lucho ao fim de 3 jogos já parece amorfo e o Janko depois de marcar em 3 jogos seguidos está-se a eclipsar ao mesmo ritmo que desapareceu o Kléber?
É gritante a falta de capacidade demonstrada pelo Vitor Pereira praticamente desde o início da época e só não vê isso quem não quer... No Dragão tem sido quase sempre assim, entrar a dormir e só na 2ªparte correr atrás do prejuízo. A questão é que nem sempre vamos a tempo!
E o Presidente e restantes admnistradores da SAD que se habituem a assumir os erros e a corrigi-los quando são detectados, porque só os burros não mudam...
Nomeadamente o PdC que sabe que tem uma larga margem de manobra junto dos adeptos, era mais sensato assumir erros e corrigi-los do que insistir no erro!

Mário Magalhães disse...

Não poderia estar mais de acordo com o que é dito neste artigo.
É patente a falta de competência do mister e da sua equipa técnica para a motivação dos jogadores para certos jogos, talvez por isso o upgrade do Paulinho Santos para treinador adjunto e o douwgade do Rui Quinta para um cargo que não sei bem onde fica... Para jogos com os grandes essa motivação não é necessária porque os jogadores já estão motivados, mas agora para jogos de menor exigência a mensagem não consegue passar e está patente na derrota em Coimbra, Barcelos e neste jogo em casa, porque até existem jogos que as coisas correm bem e o resultado aparece, mas como este ultimo as coisas complicaram-se e mostrou uma falta de competência extrema do treinador e saber mudar as coisas e em motiva-los.
Julgo mesmo ganhando o campeonato que o único caminho que a administração tem é a mudança de toda a equipa técnica para não voltar-mos a ter uma época de sofrimento e maus resultados como esta.

Hugo Silva disse...

Gostei muito desta análise que está correctíssima. Dei por mim, no final da 1ª parte contra a Académica a pensar: "Ora, entrámos com os melhores, nos sítios certos. A defesa bate certo, o meio-campo é o esperado e no ataque até o James é titular. Temos melhor que este 11? Não, não temos". Alguém me explica o porquê desta forma de jogar? E o que mudar? Incapacidade é claramente o termo certo e indicado. Eu estive na luz a celebrar a nossa vitória e vi como os nossos jogadores lutaram. Porque é que numa semana se tornaram em autênticos sonâmbulos? Eu não encontro explicação. E isso preocupa-me. Muito.

eumargotdasilva disse...

Concordo com o seu texto, e a análise, só que : porra, os jogadores não são crianças . São homens. Então, eles precisam de ter alguém a motivá-los, e a encontrar uma meta intermédia - ladaínha cansativa que todos usam desde que o Mou começou com isso em público - ?? - Infelizmente com as excelentes vendas feitas ao longo dos anos, os jogadores já só usam o Porto como um trampolim... Essa é que é a verdade. Por mais profissional que se seja, que não sei até que ponto alguns são, se se está com a cabeça noutra aventura, os dias apenas servem para serem riscados um a um...
Claro que isso não explica tudo, mas explica muito.
Podemos ver como no Chelsea, um bom treinador virou uma merda, só porque os jogadores não o queriam... - quem quer ficar no banco?...
Acresce que o presidente ainda vem dizer que o jogador tal é que é indispensável !!....

O que não quer dizer, que o discurso do VP não seja chato, chato...
Outra verdade indesmentível é que as comissões subiram à cabeça de muita gente, e houve contratações incompreensíveis...o plantel não é assim tão equilibrado. Já para não falar na tal falta de um ponta de lança...
- Quanto à sangria de jogadores, acho que não restam dúvidas que foi para tentar ter mais tranquilidade...

Pedro M. disse...

Estou totalmente de acordo com o post.

A função de um treinador é motivar os jogadores apresentando-lhes um plano onde os jogadores percebam que aquilo que lhes é pedido vai beneficiar o colectivo.

Ora, suponhamos aqui que ele pede ao Hulk e ao James para sempre que possível flectirem para o meio e rematarem ou fazerem tabelas com os medios enquanto pede ao Janko para aparecer na area para responder aos cruzamentos. Neste caso vai estar a obrigar o Janko ou a nao jogar nada ou a desrespeitar as ordens do treinador para poder tocar na bola e valorizar-se um pouco.

Este é um exemplo mt básico que não acredito que aconteça mas também nao duvido que aquilo que o VP pede aos jogadores tenha incongruencias deste genero, o que provoca uma descrença nos jogadores (jogam o melhor que sabem ou jogam de acordo com uma estrategia que eles sabem estar destinada ao fracasso??).

Franco Baresi disse...

@ reine margot:
Totalmente de acordo com a sua opinião. Só fiquei a reflectir na questão dos jogadores não serem crianças... Não serão? Não podemos esquecer que se trata da equipa com a média de idades mais baixa da liga. Note que muitos são meninos de 19, 20, 21,...,24 anos. Que maturidade podemos exigir? Não tenho a certeza.

José Correia disse...

reine margot disse...
Infelizmente com as excelentes vendas feitas ao longo dos anos, os jogadores já só usam o Porto como um trampolim... Essa é que é a verdade. Por mais profissional que se seja, que não sei até que ponto alguns são, se se está com a cabeça noutra aventura, os dias apenas servem para serem riscados um a um

O facto de muitos jogadores, principalmente os sul-americanos, verem a sua passagem pelo FC Porto como um mero trampolim para um dos grandes (endinheirados) clubes europeus, decorre do modelo de gestão adotado pela SAD na última década.
Mas, mesmo que isso seja visto como um problema (e eu não tenho a certeza que o seja), é algo que não é especifico, nem começou nesta época. Os treinadores que antecederam a Vítor Pereira também tiveram que lidar com esta situação.

José Correia disse...

reine margot disse...
Podemos ver como no Chelsea, um bom treinador virou uma merda, só porque os jogadores não o queriam... - quem quer ficar no banco?...

Ao nível da gestão dos planteis, os problemas do Chelsea e do FC Porto são bastante diferentes.
Ao contrário do FC Porto, desde a época passada que era óbvia a necessidade de ser feita uma profunda remodelação no envelhecido plantel do Chelsea, o qual tinha 7 ou 8 jogadores (pelo menos) com mais de 30 anos, que tinham sido o núcleo duro do Chelsea de Mourinho, mas que estão na fase final/descendente da sua carreira.
O facto de Abramovich não ter percebido uma coisa que entrava pelos olhos dentro e não ter dado condições para o André Villas-Boas fazer essa limpeza/renovação, é um mistério.

Anónimo da Silva disse...

Se os jogadores precisam de motivação para depois de terem 3 pontos de vantagem e vencerem no campo do maior rival, vencerem 9 finais para se sagrarem campeões, então só peço uma coisa: dispensem-nos.
A motivação devia ser jogar no Porto, a motivação devia ser ganhar títulos. Se a motivação é valorizar-se para ir para outro clube ganhar dinheiro então é deixá-los ir. Tenho a certeza que jogadores como Castro ou Tiago Ferreira deixarão a pele em campo, quem quer sair é deixá-los não precisamos de jogadores ingratos e mimados!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Zé,

Na mouche. Há aqui um clara deficit de atitude do balneário, nem mesmo o resgate de Lucho para criar uma liderança espontânea, parece ter resultado. Tacticamente e no alinhamento não vi muitos defeitos contra a Academica mas aquele grupo de jogadores tem a atitude de um solteiros contra casados na esmagadora maioria dos jogos que disputamos este ano. Isso é o mais grave e aí o VP tem muito quinhão de responsabilidade.

um abraço

PeidoMestre disse...

discordo da análise. e discordo porque uma equipa que faz um jogo como o que fez na Luz e se predispõe a jogar os últimos 9 jogos como finais afinal...começa mal. dirão alguns, mas motivar os jogadores para 1 jogo como o da luz é fácil, dificil é motivar os jogadores pra jogos como os da academica...
até aceito esse argumento, mas depois do que fizemos na luz, quem não deu continuação á exibição foram os jogadores ! e bolas, não estamos a falar de crianças, nem de analfabetos! mas ainda ninguém percebeu que o problema está nos "mimos" dos jogadores e em outros aspectos do foro interno do clube. a equipa entra sempre sobranceira, todos eles por ganharem o que ganharam o ano passado acham que o peso das camisolas mais cedo ou mais tarde fará com que a bola entre na baliza...na realidades as coisas não têm sido assim...

não quero com o meu comentário dizer que o treinador tem feito o seu trabalho de forma excelente, não, de todo, o que quero expor é que há muitos jogadores que com a saída do André sonharam em dar o salto e fechar também o seu ciclo no Porto...a atitude de 1 jogador pacifico como Rolando evidencia uma espécie de, "eu quero, posso e mando"!

"parece-me um contrassenso, porque para suscitar o interesse dos grandes clubes europeus e levá-los a abrirem os cordões à bolsa, os jogadores têm de dar nas vistas pela positiva, ou não?"

eu acho que não!! mas os jogadores do Porto precisam de mostrar mais o quê? e a quem? toda a Europa já não assistiu?

"Para eu alinhar nesta tese rebuscada, vão ter primeiro de me explicar o que é que os jogadores ganhariam em, propositadamente, prejudicar-se a si próprios!"

mas acha que os jogadores ao terem 1 atitude de relaxamento pensam nisso? só quem nunca jogou futebol de alta competição pode colocar a questão segundo esta premissa. a atitude é mais de 50 % que a inspiração e quando a cabeça não está a 100% no jogo e no clube, não há tática, nem treinador que alterem isso! o caso do André no Chelsea é sintomático...depois de ganhar o que ganhou e da forma que o fez, desaprendeu tudo de 1 ano para o outro?!

eles sabem que o titulo só depende deles, e isto,por si só,deveria ser a motivação para entrar todos os fins de semana e resolver a coisa da forma mais rápida possivel.

cumprimentos a todos

miguel87 disse...

A questão focada pela Reine Margot é crucial e acho que é o aspecto mais negativo e dificil de gerir no plantel do FCP, com a agravante de se acentuar a cada ano que passa, principalmente em anos seguintes aos de grandes sucessos.

E o exemplo desta época é gritante: depois dos jogadores terem ouvido do treinador anterior o discurso do "se eu fosse o jogador tinha calma e pensava duas vezes antes de querer sair para um clube mais rico à primera proposta" e chegam ao inicio da época e vêem o sujeito a ser o primeiro a dar o salto, como ficam com aquelas cabeças?

Alguem disse aqui muito bem que a maior parte deles têm entre 19 e 24 anos, não são crianças, mas não estão muito longe disso!

Junte-se a isso a pressão/influência dos empresários e imagine-se a dificuldade de um treinador em lidar com estes egos no dia a dia!

O treinador tem um discurso chato e confuso (pelo menos para o exterior) mas daí a atribuir-lhe a exclusividade das culpas da falta de motivação dos jogadores é um exagero.

Carlos Teixeira disse...

Bem lembrada a questão dos empresários: de há uns anos para cá, acontece uma coisa que não era habitual no FC Porto - TODAS AS SEMANAS HÁ EMPRESÁRIOS (DOIS, TRÊS, O REPRESENTANTE NA ITÁLIA, NA ESPANHA, ETC...) QUE VEM FALAR SOBRE O JOGADOR, O JOGADOR TEM ESTA E AQUELA VONTADE, ESTOU A NEGOCIAR COM ESTE E AQUELE CLUBE - e isto mina o espírito dos jogadores. Acrescenta-se o fenómeno redes sociais em que os jogadores vão desabafar (ou alguém por eles) as suas frustrações publicamente...
Não sei se serão factores controláveis, mas contribuem de forma negativa para o que aqui se discute.

PeidoMestre disse...

@José Correia

"O facto de muitos jogadores, principalmente os sul-americanos, verem a sua passagem pelo FC Porto como um mero trampolim para um dos grandes (endinheirados) clubes europeus, decorre do modelo de gestão adotado pela SAD na última década.
Mas, mesmo que isso seja visto como um problema (e eu não tenho a certeza que o seja), é algo que não é especifico, nem começou nesta época."

agarrando na resposta do José Correia, penso que o grave da gestão de balneário reside nos ciclos dos jogadores. Olhando para casos como Bruno Alves, Meireles, Quaresma, penso que já se devia aprender como funcionam estas coisas no futebol...os jogadores quando ganham tudo o que há para ganhar e se lhes acena com €, isso cria mossa naquelas cabecinhas.
no actual plantel do Porto quem é o sul americano que neste momento é desconhecido na Europa? Álvaro pereira? Hulk? James? Ou por outras palavras quem destes já não tem o trampolin mais que feito? aí reside o problema...É difícil gerir todas estas cabeças, ainda pra mais quando atingem o topo do mundo e acreditam que só o peso dos títulos lhes trás a vitória numa bandeja.

culpo o VP no sentido de não ter conseguido potenciar e lançar, por outras palavras fazer a tal limpeza, de outros jogadores na 1ª equipa, como Iturbe, Mangala, Castro, Alex Sandro. o único caso de sucesso, neste caso, é o de Maicon.

José Correia disse...

@Anónimo da Silva, PeidoMestre, miguel87
Parece-me claro que o problema não se restringe à maior ou menor motivação dos jogadores.
Quando escrevi que entendia haver uma incapacidade gritante do treinador em motivar, potenciar e tirar pleno partido dos jogadores estava a referir-me a esse e a outros aspetos que fazem parte do trabalho de um treinador.

No tempo do Pedroto, dizia-se que o grande Zé Boné fazia de um “cepo” um jogador útil e transformava bons jogadores em craques. E era verdade.
E, mais recentemente, Mourinho comprou dois laterais medianos na loja dos 300 – Paulo Ferreira e Nuno Valente – e fez deles jogadores de nível internacional, titulares da Seleção portuguesa; transformou Maniche num médio box-to-box de top europeu (eleito para as equipas ideais do Euro 2004 e Mundial 2006); e pegou em Vanderlei Fernandes Silva (mais conhecido como Derlei) e transformou-o no Ninja, um avançado todo o terreno, que jogava (e bem) no centro do ataque ou na ala esquerda.
O Vítor Pereira foi capaz de fazer algo semelhante? Isto é, foi capaz de potenciar os jogadores que se tem à sua disposição?

José Correia disse...

E até o tão contestado Jesualdo Ferreira, contribuiu para o crescimento de vários jogadores que treinaram e jogaram sob o seu comando. Podia dar vários exemplos, mas dois foram notórios e reconhecidos pelos próprios: Hulk e Falcao.

José Correia disse...

miguel87 disse...
Junte-se a isso a pressão/influência dos empresários e imagine-se a dificuldade de um treinador em lidar com estes egos no dia a dia!

Os problemas causados pela pressão/influência dos empresários é algo que não é novo. Os treinadores que antecederam Vítor Pereira também tiveram que saber gerir situações destas.
Haverá “empresário” mais chato que o pai do Bruno Alves, o qual, durante a última época do jogador no FC Porto, dava entrevistas quase todas as semanas?

José Correia disse...

miguel87 disse...
O treinador tem um discurso chato e confuso (pelo menos para o exterior) mas daí a atribuir-lhe a exclusividade das culpas da falta de motivação dos jogadores é um exagero

Nem a eventual falta de motivação dos jogadores é o único problema, nem ninguém disse que o treinador é o único responsável desse facto (se é que ele existe).

O que me parece óbvio, pelas razões que já expus em comentários anteriores e outras de que venho falando ao longo da época, é que Vítor Pereira é parte do problema e não parte da solução.

PeidoMestre disse...

José Correia

Peço desculpa mas o Sr. está a comparar coisas incomparáveis, passo a explicar. Dá o exemplo de JM transformar jogadores da loja dos 300 em grandes jogadores, mas esqueceu-se de 1 grande pormenor...eram jogadores na altura com características completamente diferentes e a própria realidade da SAD era outra. Vamos lá a chamar os bois pelos nomes, quando fala de Paulo ferreira, maniche, derlei e Nuno valente quem os contratou? O treinador ou a SAD? E mais, que idade e que estrutura competitiva tinham já estes jogadores? Eram da mesma idade que um mangala, um iturbe, ou até 1 defour? Eram jogadores mais que experimentados e todos eles já treinados por mourinho, excepto, penso eu, Paulo ferreira. Há que distinguir que mourinho era uma espécie de manager do FCP o que obviamente VP não é. Essa diferença tem de ser tida na análise que faz, e em momento nenhum do seu comentário você o inuncia.

Se jesualdo contribui para o crescimento de hulk e falcão, VP terá contribuído para o crescimento de um maicon e veremos o que faz de mangala e djalma.

Quando me falam em motivação, eu pergunto, dps de estarmos a 5 pontos e passarmos pra frente com mais 3, faltando 9 jogos é preciso moralizar alguém? Só falta a tese reboscada que o homem tenta é desmotiva-los...

Mário Faria disse...

I

Choca-me que o FCP não seja capaz de ultrapassar este tipo de adversários que utilizam sempre a mesma receita. Porém, acho que não é tarefa tão fácil como alguns prescrevem.

A receita que tem servido essas equipas, valeu à selecção portuguesa dos sub-20 chegar a vice-campeão mundial e a Grécia a ganhar um europeu. O FCP ganhou assim ao Dínamo de Kiev – uma das melhores equipas que vi jogar – por duas vezes. O City por duas vezes deu-nos a bola, inteligentemente como dizem os comentadores, e venceram no conjunto das duas mãos por 6-1.

Chamam-lhe táctica , outros estratégia e alguns mais cartesianos acham que é mais uma questão de filosofia de jogo. O SCP venceu o City, com idêntica filosofia-estratégico-tactica. O Sá Pinto foi um artista a motivar a rapaziada, quase tão bem como foi Domingos no Braga. No SCP o nosso Mingos enganou-se no guião, depois de um período brilhante em que colocou a sua equipa a morder nos calcanhares dos seu rivais de sempre.

Não basta dizer que temos o mesmo plantel da época passada (o que neste momento é meia verdade) para extrapolar que esta época podia ser tão boa como a da época passada, ou andar lá próximo. E essa extrapolação não serve, porque no futebol não se pode tomar nada como certo: porque os jogadores poderiam não ser capazes de manter o rendimento anterior, porque poderia haver uma pré-época atípica a atrapalhar a preparação, porque as arbitragens nos poderiam prejudicar mais, porque os adversários poderiam estar mais fortes, porque o treinador poderia não ser capaz de treinar a actual equipa do FCP com igual êxito, em função de todas essas desvantagens a que se juntariam as diferenças que lhe são próprias .

O futebol joga-se com adversários e os mais próximo de nós nunca nos deram o conforto de cavar uma diferença pontual idêntica à da época passada. Este ano, há cinco equipas que têm um rendimento que não tem equivalente ao ocorrido na época anterior. E, esse, facto só por si não permite que se tenha um raciocínio tão linear, na minha opinião.

Fernando B. disse...

Claro que tem razão José Correia ! Aliás, pensemos um pouco... se no que nós vemos e ouvimos, a capacidade de comunicação e motivação, é o que se vê, imaginemos no balneário a "comandar" atletas famosos e... caprichosos!!!
Para mim, é nitidamente um "economista" daqueles que vemos na TV todos os dias, a explicar porque as ideias deles não resultaram !!! Isto pega-se !!!

Mário Faria disse...

II

A posse e o ataque continuado tem de contar com jogadores completos e que se completem. O FCP não parece ser capaz de jogar noutro registo. E, como em muitos momentos do jogo nem sequer consegue atacar pela oposição do adversário, a equipa perde-se e não é capaz de desequilibrar porque lhe resta um único jogador com perfil para o fazer de forma não isolada : Hulk.

E joga-se muito atrás e perde-se muitas bolas porque não conseguimos livrar-nos da pressão do adversário. E, temos muita dificuldade em ganhar espaços naquela selva de pernas montada à frente da área dos adversários.

Sei que deveria ser mais fácil, mas parece que não é. E quando a bola não chega à frente para que serve Janco ? James é muito bom de bola, mas não é um rompedor e não consegue manter um ritmo alto durante todo o jogo e tende a perder alguma influência, agora ainda mais, porque Lucho e ele pisam os mesmos terrenos.

Aliás, James tem tido os melhores registos quando sai do banco. Alvaro ataca muito , mas o proveito é escasso, ou porque o último passe não sai de jeito ou porque falta presença na área.

Por outro lado, a ”posse de bola” não permite que se projecte e se faça jogo directo. Posse é posse. Por outro lado, como não dispomos de homens com boa colocação à distância, e não pressionámos porque estamos a ser pressionados em todas as zonas do campo, excepto os dois centrais com quem não perdem tempo, a equipa vai perdendo clarividência a cada minuto que passa e fica sem soluções. Para pressionar teríamos que dividir mais o jogo, mas como fazê-lo se os adversários não querem a bola, ou seja apenas a tomam quando podem jogar em contra-golpe e têm toda a vantagem. S ó assim arriscam.

Mário Faria disse...

III

Insisto : o actual plantel é curto e a qualidade é entre o bom menos (a maioria) e alguns poucos muito bons. Varela tem estado para o fraco, Beluschi assim esteve e Guarin quase não jogou e ambos acham-se melhores do que são.

Fucile não se sentia bem e Sapu anda com remorsos pelo pontapé que deu ao steward. Os que chegaram ainda nada provaram de forma sustentada o seu valor nem estão integrados. Parecem ainda não conhecer o caminho e como percorrê-lo dividindo as tarefas com os companheiros. Lucho gosto muito dele, mas é minha convicção que precisávamos doutro tipo de jogador. James faz de Lucho, neste momento, com evidentes vantagens.

O treinador não pode ficar de fora desta análise e parece não ser capaz do papel que achamos cumpre por inteiro ao treinador : moldar uma equipa, com a matéria prima que tem e que a torne um grupo capaz de se bater com qualquer adversário de forma competente, como tem sido timbre do FCP, quase sempre. Não podemos estar entusiasmados e não me chega estar em primeiro lugar. De facto, temos motivos para não estar confiantes.

Gostaria muito que o FCP fosse capaz de superar os actuais constrangimentos e que VP pudesse sair pela porta grande.

miguel87 disse...

Bem, mais uma vez o Sr. Mário Faria faz uma analise com mestria e clarividência únicas! Parabéns, subscrevo tudo, excepto a última parte do desejo que VP saia...

miguel87 disse...

José Correia rebateu quase tudo o que escrevi, ponto a ponto, excepto a questão que acho indiscutível e inédita que foi a mossa feita pela saída de AVB nos contornos em que aconteceu e após as declarações dele que mencionei.

Por outro lado, tal como há dias, voltou a insistir na valorização que JF deu a alguns jogadores do Porto (e apontou exemplos certíssimos)...mas e o resto? Qual foi a valorização que deu a Vieirinha, Alan, Paulo Machado, Candeias, Ibson ou até Bolatti (quando chegou era internacional Argentino) e Pelé (que começava a despontar no futebol italiano na equipa do Inter)?? E o que dizer da diferença de rendimento de Guarin e Belluschi entre a época de JF e AVB??

E então o VP só tem desvalorizado jogadores? Alguém tinha visto o Maicon jogar a este nível (é o mesmo jogador que chegou ao Porto com JF!) O que se disse de Djalma no inicio da época (simples arma de arremesso na guerra com o Maritimo) e os elogios que já se fizeram depois das últimas exibições!
E o James? quantos golos/assistências marcou7fez na época passada e nesta?

Last but not least... alguém quer comparar o nivel de benfica e braga dos 3 primeiros anos de Jesualdo com o actual?? Como tão bem escreveu Mário Faria: "O futebol joga-se com adversários (...) Este ano, há cinco equipas que têm um rendimento que não tem equivalente ao ocorrido na época anterior. E, esse, facto só por si não permite que se tenha um raciocínio tão linear, na minha opinião."

M. Teixeira disse...

A forma como o Porto entrou neste jogo diante da Académica foi, provavelmente, das piores coisas que já vi no Dragão/Antas. É inacreditável e sintomático das enormes lacunas que existirão no seio do plantel, do balnerário, da sad...

Treinador:

Apesar de não estar lá no dia-a-dia, parece-me pouco arriscado dizer que o VP não terá grande capacidade para liderar e motivar um plantel com a exigência deste Porto. Também já referi várias que geralmente reage mal às incidências do jogo, não o sabendo "ler" e, por conseguinte, desbloquear ou "vencê-lo a partir do banco". Tal não tem sido o caso nas últimas jornadas onde, na minha opinião, tem mexido muito bem na equipa.

Jogadores:

Vamos lá ver... alguém acredita sinceramente que aquela VERGONHOSA primeira parte é unica e exclusivamente culpa do VP, só porque preparou mais um terrível texto para o discurso de lançamento deste jogo?!?!? Alguém acredita que este plantel (que tudo ganhou no passado) após mais uma épica vitória na Luz, perante 37.000 espactadores no SEU estádio... não tinham mais do que razões para estar motivados e entrar em jogo COM TUDO?!?!

Adeptos/ Árbitro

Não me quero alongar muito na minha opinião sobre os adeptos... já a dei várias vezes e, em forma resumida, limito-me a dizer que também nós estamos bem longe de cumprir o nosso papel. Tão longe que damos por nós a relativizar, e de que maneira, a VERGONHOSA arbitragem cujos pontos altos foram dois penalties por marcar e um fora-de-jogo mal tirado que deixou Hulk isolado frente ao GR. ~3 casos flagrantes de golo... mas preferimos dizer que o VP é uma porcaria e que não sabe motivar os meninos!

Todos têm culpa... o VP não é treinador suficiente, não consegue fazer da soma de jogadores uma equipa coesa, regular e capaz, não lidera aqueles homens que bem precisavam de liderança e bem precisavam de jogar mais, muito mais. Nós adeptos, podíamos apoiar bem mais, mas preferimos voltar ao síndroma "Jesualdo Ferreira.

Da SAD já nem falo que não vale a pena... é a única que está a escapar pelos fios da chuva e talvez seja a que mais culpa tem nesta época lamentável.

Vamos acreditar até ao fim... mas cada jogo é uma caixinha de surpresas... que a próxima jornada seja uma boa surpresa!

Saudações Portistas

Nuno de Campos disse...

Mais do que culpar A ou B, há que reconhecer que este elenco - Sad, equipa técnica e plantel - não estão a produzir um bom cozinhado no contexto da presente época. É esta conjugação de factores que pode explicar o que se passa.

Para além do treinador, o que mudou da época passada? Mudaram acma de tudo as circunstâncias.

A época passada, substituiu a raiva dos túneis pelo sentimento do dever cumprido e fortes expectativas de recompensa. Isto torna o trabalho de motivação de VP muito mais complicado do que o de AVB.

O plantel iniciou partiu de férias ouvindo o discurso de 2003: sacrificar as finanças por um ano e tentar ganhar a Liga dos Campeões. AVB foi atrás das libras e deixou todos para trás, agarrados a um projecto desportivo coxo e amplamente defraudados.

A Sad encaixou 55 milhões com as saídas de AVB e Falcão, pagou-se bonus generosos, e não utilizou esses fundos para os substituir. Ora, como se pode sustentar um discurso de vontade de vencer acima da tentação de enriquecer, quando de cima vem o exemplo oposto?

No ano passado as circunstâncias foram muito propícias à união de todos os intervenientes no interesse dos êxitos desportivos.

Esta época por uma variedade de causas, a que não são alheias a saída de AVB e de Falcão, actuação da Sad na sequência dessas saídas, essa união de interesses deixou de existir.

O VP, não sendo a mais brilhante e carismático treinador que passou pelo clube, tem o seu trabalho muito dificultado em relação a AVB na época passada.