sexta-feira, 8 de junho de 2012

Relatório e Contas do 3o trimestre

Dando uma vista de olhos pelo R&C consolidado do 3o trimestre, retiro algumas observações.

A situação continua mais ou menos sob controlo (principalmente ao antecipar-se uma venda de Hulk por grandes valores nas próximas semanas), ainda que de forma bastante apertada e cada vez mais dependente de grandes vendas de jogadores, mais do que nunca.

Esse é para mim o ponto principal: fazendo contas, verifico que apesar de já termos encaixado 55 milhões brutos em vendas de passes em 11/12 (acima de tudo Falcão, Micael e Guarin), será preciso vender mais alguém até ao fim do mês de forma a não fazer prejuízo. No passado não era assim. 

Não me parece que haja qualquer inevitabilidade nisso, nem muito menos que seja desejável estar tão dependentes de grandes vendas para equilibrar minimamente as contas. Isto é fruto não de uma diminuição nas restantes receitas, mas sim de um aumento nos custos: acima de tudo de uma inflexão recente na política da SAD, nomeadamente de passar a gastar aos 40 ou 50 milhões por época em novas aquisições, gastando como um clube rico: continua-se a contratar imensos jogadores, mas com um custo médio muito mais elevado. 

Nestes 9 meses gastamos 56 milhões na aquisição de passes de jogadores, com Danilo à cabeça com um custo de 18 milhões (e chegando apenas 6 meses depois de ser comprado), um valor totalmente impensável ainda há 3 ou 4 anos atrás - parece que a ideia de «comprar barato para vender caro» foi mandada às malvas (já agora, uma curiosidade é que em Dezembro se gastou 1 milhão em 20% do passe do Fucile, em vésperas de ser dispensado e numa altura de enorme aperto de tesouraria, tanto que se vendeu % de jogadores como Moutinho a preço de custo). Segue-se Alex Sandro com 10, Defour com 8 e Mangala com 7,5 (todos estes entrando no top10 dos jogadores mais caros de sempre do FCP).

Falando já agora de Moutinho, de assinalar que num curto espaço de tempo se vendeu e re-comprou 22.5% do seu passe, com o balanço das duas operações a traduzir-se num prejuízo de cerca de 2 milhões de Euros, o que não é muito fácil de se compreender, muito menos que as entidades a quem se vendeu e comprou não foram as mesmas (Mamers MV e Soccer Invest Fund, sejam lá quem sejam).

De resto, a pior notícia é que os custos e perdas financeiros (acima de tudo juros de empréstimos) quase que duplicaram, passando de 4,9 para 8 milhões (gastos em 9 meses) no espaço de um ano. Esta é uma razão clara porque considero necessária alguma contenção nos gastos, de forma a abater em parte o passivo e diminuir estes imensos milhões gastos em juros. 

Outra má notícia é que os custos em FSE (Fornecimento e Serviços Externos) dispararam, já descontando uma mudança de contabilidade de Corporate Hospitality. Isto parece ter a ver com a criação de uma nova empresa no grupo SAD, mas isso fica para outro artigo nos próximos dias porque parece merecer-me um artigo próprio. Também os custos com pessoal aumentaram perto de 10% em relação ao ano anterior (apesar de parte dos custos terem sido transferidos para FSE neste período, a tal nova empresa de que falei).

As boas notícias são que as receitas de TV aumentaram uns 2 milhões, como já tinha sido anunciado em função da renegociação de contrato; e as receitas de merchandising aumentam (ainda que 400mil euros), isto sim novidade. Quanto às receitas de bilheteira e patrocínio, diminuiram sem grande surpresa em cerca de 10%.

Algumas curiosidades soltas (a maior parte já conhecida): vendeu-se 25%, 15% e 11% dos passes de Djalma, Kelvin e Iturbe, e cedeu-se 33% dos passes de Defour e Mangala; Prediger foi também vendido (não se sabe por quanto ou a quem, a não ser que foram peanuts); as comissões na compra de Danilo foram equivalentes a uns 30% do passe (5 para 13); o lucro nos 40 milhões de Falcão foi apenas de metade desse valor (e isto se o A. Madrid chegar a pagar a totalidade do que deve); detemos 80% dos direitos económicos de Hulk.

Para concluir: 

1) a curto prazo (~1 ano) a situação está bem controlada, principalmente se o A. Madrid cumprir os prazos de pagamento e presumindo que Hulk é vendido por mais de 40 milhões (aliás, para além de Hulk perspectiva-se a saída de pelo menos mais um titular, com A. Pereira à cabeça). 
2) A médio prazo, a situação estrutural está pior do que há 9 meses atrás
3) felizmente estamos em melhor situação que os rivais internos (principalmente SCP, que esta´falido na prática)
4) tal como o país, a FCP SAD contraiu ao longo dos anos uma situação vulnerável no que diz ao endividamento, gastando imenso em juros. Ao contrário do país, a palavra «austeridade» é completamente desconhecida, enveredando-se mesmo na direção oposta gastando-se mais em praticamente todas as vertentes (jogadores, funcionários, despesas externas).

12 comentários:

José Correia disse...

«os custos e perdas financeiros (acima de tudo juros de empréstimos) quase que duplicaram, passando de 4,9 para 8 milhões (gastos em 9 meses) no espaço de um ano»

Assustador.

José Correia disse...

«apesar de já termos encaixado 55 milhões brutos em vendas de passes em 11/12 (acima de tudo Falcão, Micael e Guarin), será preciso vender mais alguém até ao fim do mês de forma a não fazer prejuízo»

Se num dos próximos anos não for possível encaixar dezenas de milhões de euros em vendas de jogadores, como é que vai ser?

José Rodrigues disse...

"Se num dos próximos anos não for possível encaixar dezenas de milhões de euros em vendas de jogadores, como é que vai ser?"

Parece-me inevitavel que o FCP dependa de vendas de jogadores para equilibrar as contas, se quiser ser competitivo na Europa.

No entanto tamanha dependencia e' exagero. A resposta 'a pergunta do Ze' Correia e': se isso acontecer (e depende de varios factores que a SAD nao controla) ter-se-a' que apertar o cinto bruscamente, nao gastanto praticamente nada em contratacoes enquando se vende na mesma uns 3 titulares.

Precisamente de forma a evitar travancos bruscos, "conduzindo" em apenas 2 velocidades (5a ou 1a) e' q considero q seria ser mais prudente nas contratacoes (principalmente em numero, que nao necessariamente valores medios), tentar garantir pelo menos 2 ou 3 lugares no plantel (q nao na equipa titular) para prata da casa, e cortando na "gordura" na maquina administrativa - com a consequencia de q se poderia abater parte da divida de forma a gastar menos milhoes por ano em juros.

Penso q e' possivel fazer isso de forma gradual e suave de forma a evitar chegar 'a eventual situacao de sermos obrigados a vender jogadores por ofertas pouco interessantes ao mesmo tempo q nao ha' dinheiro para substitutos.

Estou convencido q e' possivel baixar os custos anuais em digamos uns 10 milhoes sem beliscar a competitividade desportiva da equipa. 10 milhoes/ano ja' e' bastante dinheiro, mesmo nao sendo uma mudanca drastica.

De resto isto de gerir no fio da navalha em termos de tesouraria ja' teve esta epoca efeitos secundarios nocivos quando falhou uma tranche de pagamento do Falcao, obrigando-nos a entrar em incumprimentos e obrigando a vender % de passes de jogadores a valores pouco interessantes.

José Rodrigues disse...

De resto uma coisa q nao me agrada ao ler o R&C e' que temos uma sarrabulhada de operacoes com passes, com um numero de parceiros e compradores "fantasma" q ninguem sabe bem quem sao e com comissoes bem consideraveis por tudo e mais alguma coisa (quando se compra, quando se vende, quando se renova contratos, etc).

Por exemplo, pq diabo e' q precisamos de pagar comissoes quando se renova contratos? Nao temos gente competente para negociar directamente com o jogador e empresario, e e' um processo tao complicado como isso?

Ja' agora, a criatividade semantica da SAD nao para de me surpreender. Agora ate' ja' temos cedencia (que nao venda) de % de passe em "regime de associacao economica" [sic],o q quer q isso queira dizer ao certo.

José Rodrigues disse...

De resto uma coisa q nao me agrada ao ler o R&C e' que temos uma sarrabulhada de operacoes com passes, com um numero de parceiros e compradores "fantasma" q ninguem sabe bem quem sao e com comissoes bem consideraveis por tudo e mais alguma coisa (quando se compra, quando se vende, quando se renova contratos, etc).

Por exemplo, pq diabo e' q precisamos de pagar comissoes quando se renova contratos? Nao temos gente competente para negociar directamente com o jogador e empresario, e e' um processo tao complicado como isso?

Ja' agora, a criatividade semantica da SAD nao para de me surpreender. Agora ate' ja' temos cedencia (que nao venda) de % de passe em "regime de associacao economica" [sic],o q quer q isso queira dizer ao certo.

HULK 11M disse...

Parabéns José Rodrigues pela excelente análise.
Estes resultados surpreendem-me negativamente por 2 razões:
1. - Invertem a tendência de lucros que se vinham a registar nos últimos exercícios do "reinado" de Fernando Gomes, período em que se notou um acentuado esforço de reduzir, de forma sustentada, o passivo.
2. - O "sucessor" de Fernando Gomes, anunciou, ainda antes de concretizada a transferência de Falcão para Madrid, que a SAD não tinha necessidade de efectuar qualquer venda de jogadores para equilibrar as contas. Nessa altura a SAD tinha já encaixado as verbas da cedência de VB ao Chelsea e mais alguns milhões com as cedências de passes de alguns jogadores.
Que se terá passado, entretanto, que fez gorar, de forma estrondosa, as expectativas do actual responsável pela área financeira da SAD e que é um profissional altamente conceituado pela sua competência?

José Rodrigues disse...

"Invertem a tendência de lucros"

Bem, nao se pode dizer ja' isso, porque estamos a falar dos resultados de 9 meses. Vendendo-se mais alguem ate' ao fim do mes (como se preve^ q va' acontecer), e' de esperar q haja lucro no exercicio 11/12.

"Que se terá passado, entretanto, que fez gorar, de forma estrondosa, as expectativas do actual responsável pela área financeira da SAD?"

Uma carrada de dinheiro em contratacoes (e e em menor medida o aumento de juros), digo eu?

De qq forma era ja' bem expectavel em Julho que fosse necessario vender mais alguem para fazer lucro (por ex a subida de juros era expectavel, e tb era quase certo q ainda se iam fazer mais contratacoes seja no verao seja no defeso de inverno). Nao sabia q o Angelino tinha dito isso, mas se o fez nao tenho a certeza q tenha dito mesmo o q pensava (i.e. de forma totalmente honesta)...

Duarte disse...

José Rodrigues, parabéns pela sua análise. Sendo eu praticamente um leigo em matérias económicas, sinto que fiquei com uma ideia mais clara da situação financeira do FCP.

Só uma nota em relação à transferência do Falcao. O Atlético terá de pagar mais tarde ou mais cedo. Convinha que fosse mais cedo do que mais tarde, mas terá de pagar. E de qualquer maneira, pelo menos, já recebemos 20 milhões de euros, o que é bem diferente de termos mandado o jogador a custo zero, como aqui já foi insinuado (não por si).

Pedro disse...

De notar que cada vez mais os clubes europeus praticam uma espécia de esquema Ponzi futebolistico.

Ou seja compram, não pagam durante anos, dando como garantias as suas próprias vendas que também ainda não foram pagas por outros clubes que por sua vez têm o mesmo problema.

Suspeito que clubes como o Atlético de Madrid neste momento lidem com dinheiro que já nem existe sequer. Da mesma forma que é inaceitável que Bruno Alves ainda tenha parcelas a abater...dum clube russo aparentemente rico mas com dividas astronómicas.

Luís Carvalho disse...

As comissões nas renovações são aquilo que se paga ao "empresário" para ele "convencer" o "seu" atleta a renovar.
Os famosos "serviços de intermediação" são, deste modo, feitos pelo próprio "empresário" do jogador. Ou seja, a pesar de jogar num dos lados, é também ele o "árbitro" da coisa.

Tem sido esta a "evolução" do futebol: 1 - Durante anos e anos, os "empresários" nem sequer eram necessários (e, pasme-se, o futebol sobreviveu!); 2 - Surgiram então os tais "agentes" que, em teoria, só teriam direito ao pagamento de "luvas" por parte do clube comprador; 3 - Em pouco tempo, passaram a ter direito a verbas quer por parte do clube vendedor quer do clube comprador e também em todas as renovações, "direitos de imagem" e sabe-se lá no que mais…

E, ao que parece, até já têm direito a medalhas públicas...

José Rodrigues disse...

Luis, atencao q 'as vezes ha' terceiros que tb recebem comissoes nestas operacoes...

De resto pelo q me apercebo isto nao e' universal: em Inglaterra por ex e pelo q sei nao ha' comissoes sistematicas a terceiros tanto nas compras como nas vendas.

Os agentes sao umas autenticas sanguessugas do mundo do futebol do sec XXI, mas tb me parece q ha' dirigentes de alguns clubes que "vao nessa historia" de plena vontade, nao sendo necessariamente obrigados a tal.

De qq forma o q me deixa muito desconfortavel e' q temos muitas operacoes com passes e comissoes a "empresas" q nao tem mais do que "postbox" na sua morada (na Holanda ou no diabo a quatro), nao se sabendo minimamente quem sao.

Ha' mais transparencia nisto do q havia no passado, o q se sauda, mas nao deixa de ser uma area muito nebulosa.

rogério almeida disse...

O que Angelino Ferreira disse foi relativo às contas da época passada, durante a apresentação do 3º T de 2010/11. Convém não serem ditas inverdades, deturpando a realidade, só pelo prazer da crítica fácil. O que ele afirmou foi não serem necessárias entradas avultadas de dinheiro para que o exercício de 2010/11 fechasse positivo. Entretanto, no 4ºT, aconteceu a entrada dos 15ME referentes a AVB e não foi sequer premente (nem aconteceu) a venda de qualquer jogador. Falcao pertence ao exercício de 2011/12, aquele que está em curso e que só fecha, obviamente, a 30 de Junho de 2012. O exercício atual engloba as compras de Danilo, Alex Sandro, Defour, Mangala, Janko... Daí o resultado negativo apresentado ao fim de 9 meses. Com execpção de Janko, todas as outras compras resultam de antecipação de investimento. Os de "mau agoiro" e crítica fácil não têm que ficar tão "preocupados" pois previsivelmente fecharemos pelo 6º ano consecutivo com resultados positivos e, pasme-se, com mais um título de Campeão Nacional.

O curioso nisto tudo é que certo tipo de comentário vai sempre dar ao mesmo. Se o responsável pela área financeira é Fernando Gomes, este é criticado e o "salvador da pátria" passa a ser Angelino Ferreira. Se é Angelino Ferreira que está no cargo, então é este que é atacado, clamando-se por Fernando Gomes.