terça-feira, 10 de março de 2015

A Julen o que é de Julen

Este texto sai propositadamente antes do jogo com o Basel. Não quer ser um texto oportunista se o FC Porto garante o apuramento para os quartos-de-final (primeira vez desde 2009, já lá vão seis longos anos) nem pessimista se o improvável – a julgar pelo que passou na Suiça, suceder e voltemos a cair com um rival à nossa altura (como passou em Málaga). E sai agora porque Julen Lopetegui o merece.

É muito difícil – diria mesmo quase “colinhamente” impossível – que o treinador basco conquiste o titulo que escapa desde que Vítor Pereira vergou Jorge Jesus com um golpe de 92 graus Kelvin. Todos sabemos o que se passa, semana sim, semana também, nos relvados portugueses. Não vale a pena dar mais voltas, apenas lutar até ao ultimo suspiro como exige a camisola e culpar aqueles que realmente permitiram este controlo quase absoluto das instituições arbitrais na sombra, esses que vestem traje. Com a Taça de Portugal perdida – e mal perdida, é certo e inequívoco – e a Taça da Liga no número 374 das minhas prioridades do ano (logo a seguir ao titulo de bilhar), sobra a Champions League. E Lopetegui tem o claro objectivo de colocar o FC Porto no top 8 da Europa. Se o fizer terá cumprido com uma parte importante da sua missão. Terá merecido o nosso aplauso porque, já nos diz a nossa história recente, não tem sido fácil chegar longe na Champions. Há outros que acham que são os melhores treinadores do Mundo, não a jogar Playstation mas a treinar na Europa League. Níveis de exigência distintos, está claro.

Lopetegui vai ficar um ano mais inequivocamente e pode ficar com esse bom registo europeu e um subcampeonato que, se tudo correr bem, com vitória na Luz incluída, pode obrigar o clube da capital a sofrer até ao último jogo do ano depois de tudo ter procurado fazer (em jogos próprios e alheios) para ser campeão mais cedo e tranquilamente. Lá chegaremos. Mas se hoje as coisas correrem mal, o cenário afinal não será diferente dos Jesualdos, Vítor Pereiras, Co Adriaanses e afins nos palcos europeus. Nada a que não estejamos habituados. O que sim é preciso reconhecer é o trabalho de fundo realizado. E aí é preciso dizer que a Julen o que é de Julen.
Não considero que seja um grande treinador na esteira de grandes treinadores que o FC Porto já teve nas suas filas. Não é preciso procurar exagerar para fazer justiça. Fui critico com Lopetegui quando chegou, fui critico com as suas decisões, poderia sacar o oportunismo de não ser campeão (como é provável) para dar-me a razão mas acho que o treinador mereceu não só o segundo ano no banco como o meu respeito. E fê-lo sem estridências, sempre com uma ideia concreta. Fê-lo sendo fiel a si mesmo, a mesma fidelidade que transformou uma defesa com vários erros posicionais quando a dupla era Maicon-Indi numa defesa de ferro muito mais bem estruturada quando jogam Maicon e Marcano. Critiquei a incorporação de Marcano e graças a Lopetegui hoje posso dizer que me enganei. Como o treinador, não está nem sequer no top 10 dos melhores centrais que vi de dragão ao peito em vida. Não está. Mas traz essa tranquilidade e organização que faz tanta falta num projecto novo como este. Marcano é um exemplo. Um de muitos.


O crescimento espantoso de Danilo, hoje um dos melhores do Mundo na sua posição, deve-se sobretudo ao trabalho de Lopetegui que lhe meteu ordem e confiança na cabeça depois do desnorte que foi servir no ano passado. Danilo é um desses jogadores que, bem polidos pelo treinador, vai longe. Este ano prova-o. Uma pena que tenha perdido um ano de carreira por uma decisão presidencial nefasta. Mas não é único sinal positivo. Longe disso. A esperança de um futuro menos doloroso depois da sua inevitável saída, com Ricardo Pereira a jogar, também é obra do treinador que pegou num extremo que tinha feito a posição para ensiná-lo, como fizeram no passado com Conceição de forma inversa, a que tem as condições para dominar o carril completamente.
A transformação mental – sobretudo mental – de um Tello que jogava para si e tomava sempre a decisão final errada num Tello que joga para todos e que, graças a isso, aprendeu a sacar a espinha individual de golos que tinha atravessada, também é mérito seu. Lopetegui é o homem que lançou Ruben Neves – a maior prova de confiança de um treinador do FC Porto na formação desde que o Octávio Machado lançou o Ricardo Carvalho – mas não o queimou, dosificando um miúdo que há um ano jogava encontros de 80 minutos e passeava anónimo nas ruas. Foi o treinador que recuperou emocionalmente Herrera – e que desastre foi Herrera no ano passado – para o transformar num jogador mais colectivo ainda que continue a ser para mim uma peça a mais na sua ideia geral e uma dor de cabeça para quem segue o jogo e se asfixia nas suas correrias sem sentido. Brahimi, Oliver, Alex Sandro, todos têm crescido com a ideia de jogo colectivo de Lopetegui porque esta implica potenciar as suas valências dentro de um bloco colectivo organizado, tudo aquilo que não se viu no ano passado.

Se considero – e considero – ainda que algumas das suas petições pessoais em Julho foram tiros falhados totalmente – Andres Fernandez, Opare, Campaña – isso não pode tapar o bom trabalho que fez em potenciar alguns dos jogadores que já por cá havia. Nem todos, é certo. Quintero parece perdido em ser sempre Quintero e Quaresma está condenado, já o sabemos, a ser Quaresma. Mas são casos pontuais – e um treinador não é um milagreiro – num colectivo que parece cada vez mais mentalmente unido em trabalhar em conjunto. Oito meses depois de ter começado a trabalhar com grande parte do plantel, esse é o maior mérito do treinador.

Lopetegui tem uma ideia que o clube partilha e que implica resultados a médio prazo, algo pouco habitual em que parece ter vivido os últimos anos no imediatismo absoluto. A carteira tem algo a ver com essa mudança (aparentemente) de visão. Nessa ideia há espaço para crescer o produto da casa – o Gonçalo é bom exemplo e há mais a caminho, dêem-lhes tempo e dêem-lhes oportunidades –  mas também potenciar negócios da SAD como tem sido habitual. Danilo é o melhor exemplo (quem pensava há um ano que se poderia sacar lucro de um investimento como o seu?) mas a seguir vêm Aboubakar (do qual só temos 30%), Alex Sandro e se tudo correr bem na sala de aulas pode ser que Indi ponha em prática conceitos que, seguramente, conhece de sobra.


Depois dos tropeções iniciais – os por culpa própria como o Boavista, a mancha mais negra no "reinado" do basco, e os por culpa alheia como o jogo em Guimarães – a equipa está a uma vitória na Luz e um tropeção do Benfica do conseguir o que parecia impossível depois de subir o Evereste com uma sucessão de demonstração de superioridade inaudita frente a rivais complicados. E sem colinho, vejam lá. Há muito, muito trabalho por fazer. Muito. O nosso jogo de bola parada é fraco. A nossa eficácia ofensiva também, para a superioridade com a bola que geramos. Exige-se que uma equipa que domina totalmente o processo de construção de jogo seja capaz de rematar mais vezes e de forma mais acertada do que fazemos. O trabalho ofensivo, sobretudo de recuperação e posicionamento melhorou de forma tremenda e hoje somos uma das melhores defesas da Europa. A equipa joga como um bloco, pensa como um bloco e actua como um bloco, para o bem e para o mal. Quem viu o perigoso que pode ser uma anarquia no relvado, no ano passado, sabe do que falo.

Espero sinceramente que o Lopetegui possa hoje à noite riscar um dos objectivos do ano e trabalhar sem pressão até Maio (porque como estão as coisas aqui a pressão sobra) e a continuar a pensar na sua ideia de FC Porto para 2015/16. Sem ser um treinador que me enche as medidas e que me faz parar para ouvir o que tem a dizer com devoção, como fiz com outros que ocuparam o seu lugar no banco das Antas e do Dragão, não deixa de ser um homem que está determinado a deixar um legado. E a esse tipo de homens sempre há que respeitar e esperar para ver que Ás vão sacar da manga.

31 comentários:

José Correia disse...

Sem concordar com tudo o que o Miguel escreveu, concordo com grande parte e, acima de tudo, concordo com o tom geral e com os elogios a Lopetegui.

E esta parte do artigo...
"o treinador mereceu não só o segundo ano no banco como o meu respeito. E fê-lo sem extridências, sempre com uma ideia concreta. Fê-lo sendo fiel a si mesmo"
...resume bem aquilo que eu também penso.

Silva disse...

É um passo...mas discordo na mesma :) Considero JL um dos grandes, já hoje. E tenho a grande confiança que nos deixará (infelizmente) como um dos maiores (títulos incluídos). Top 5, não Top 10. Creio que faltará pouco para concordar comigo...

João Machado disse...

Excelente comentário, Miguel. Também a mim Lopetegui conquistou. Aliás, eu páro para o ouvir. Debita muitos lugares comuns, mas acho sensato da parte dele proteger-se dessa forma e já se percebeu que quando tem de ser mais contundente, o faz com qualidade... Mas há mais: é inegável que Lopetegui desconhecia o futebol português. Não se lhe pode pedir que nos primeiros meses cá tivesse comentários ao nível dos de Mourinho ou AVB...

Quanto ao jogo jogado, muitas melhorias. Claro que não acerta sempre e há coisas a melhorar, mas acredito que vamos acabar bem a época e em crescendo...

Quanto aos comentários sobre jogadores, concordo com quase tudo... Quanto a Quintero, pelo que parece e se ouve, o problema é de Quintero, não de Lopetegui. Quanto a Quaresma, acho mesmo que Lopetegui fez um trabalho fantástico. Quaresma tinha potencial para minar todo o seu trabalho e Lopetegui parece tê-lo conquistado para a equipa. Quanto ao seu rendimento, Quaresma sempre foi isto, com mais agilidade e velocidade há uns anos, por ser mais novo. Erra quase sempre na decisão, mesmo quando faz golos ou assistências. Julen conseguiu pô-lo a errar apenas onde impacta menos a equipa e não o alienou da mesma... nota muita positiva para o espanhol.

Que logo se confirme o bom trabalho, mas quem achar que vai ser fácil, está enganado... O Basileia não é pêra doce, ao contrário do que o Miguel pensa...

Filipe Sousa disse...

Nao sei se o Lopetegui vai conquistar títulos ou nao, mas uma coisa é certa: gera 1000x mais empatia que o patarata do Paulo Fonseca.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Silva,

Top 5 vs Top 10, estamos a falar de Marcano ou de Lopetegui?

Lopetegui é treinador de um clube que já foi treinado por - entre outros - Bella Guttman, Dorival Yustrich, Miguel Siska, Otto Gloria, Jose Maria Pedroto, Artur Jorge, Bobby Robson, Tomislav Ivic, Jose Mourinho, Vitor Pereira, Carlos Alberto Silva, AVB...é muita areia ainda para o seu camião!

Se for de Marcano então, é preciso ainda um menor exercicio para falar de imensos centrais que jogaram no FCP e só nos ultimos 30 anos há, como minimo, de F. Couto a Pepe, de J. Costa a R. Carvalho, de Aloisio a J. Andrade, seis nomes muitissimo superiores.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Como digo no artigo Zé, continua a haver muito que fazer e o Lopetegui está longe, sequer, de ser um dos 10 treinadores de maior impacto da história do clube - pode que mais até - e não vejo que possa sair de ali um Mourinho que esteja escondido no seu interior. Mas merece ter um segundo ano para demonstrar o que vale, entre outras coisas, porque com uma liga viciada como esta é dificil fazer melhor!

José Rodrigues disse...

Para mim, o q Lopetegui conquistou (presumindo q nao mete muita água logo) foi o beneficio da duvida para continuar na px época.

Mais do q isso (ainda?) nao, o seu trabalho está longe de me entusiasmar até ao momento.

Carrela disse...

Quaresma vai ser sempre Quaresma?
Não é evidente que Quaresma está melhor?
Mais jogador de equipa?
Menos "vedeta"?
Eu acho que sim...

E outra coisa, falo por mim claro, farto-me de fazer "rewind" das suas intervenções com a imprensa... o Homem é do melhor que temos tido!
Não nasceu cá, que eu saiba não é ou pelo menos não era Portista, mas parece... tem "Portismo" no sangue!

Mas obviamente que o mais importante é a evolução do jogo da equipa... que tem sido mt bom e é sinal de qualidade na liderança!

Mesmo muito satisfeito com Julen, espero que continue no nosso FCP por vários anos!

Miguel Lourenço Pereira disse...

JON,

O Basel é uma equipa tacticamente muito bem organizada, que sai com 2 ou 3 jogadores em lances rápidos a ocupar os espaços deixados por equipas a quem entrega a bola. Sobretudo em jogos fora. Naturalmente que é uma equipa perigosa para jogos a eliminar onde um golo fora complica tudo. Mas é de longe a pior equipa das que estão nos 16avos de final.

Em relação ao Quintero estou de acordo. O problema está e tem estado na sua incapacidade de adaptar-se ao jogo colectivo. Já Quaresma melhorou esse aspecto mas "burro velho não aprende linguas" e apesar de prejudicar menos o colectivo continua a ser um "verso solto".

O crescimento da equipa como um todo - sobretudo o processo defensivo e recuperação da bola - são os grandes méritos do JL. Na construção ofensiva e na eficácia, bem como nas bolas paradas há um mundo pela frente. E por isso o JL merece esse segundo ano para comprovar as sensações.

Outra coisa, JL não conhece o futebol português mas, como já passou com o Jesualdo, tem sido deixado só a denunciar as injustiças arbitrais de uma realidade que desconhecia e isso parece-me um comportamente bastante desleal de quem o contratou!

João Machado disse...

Eu também acho que é a pior. Mas de ser a pior a ser fácil vai uma boa diferença...

"Continua a ser um "verso solto"" é uma boa expressão. Para mim a boa notícia é que não se fala na sua renovação... Esta época tinha de ir jogando porque Lopetegui não o podia ostracizar, sob pena de perder adeptos e balneário...

Quanto a JL ter de dar o peito às balas sozinho, estou completamente de acordo... É uma tristeza.

True Blue disse...

Modéstia à parte, o que hoje dizem (e bem) de JL eu já o afirmava em Setembro, Outubro!!

Alguns fait divers:

JL é um treinador que dá preferência a quem trabalhe. Quintero tem de trabalhar, esforçar-se, suar mais.

Opare não foi uma compra de JL, foi da SAD.

Quaresma, com a idade que tem, finalmente aprendeu que não pode extrapolar. Ele é apenas mais um para somar e não para dividir.

O FCP joga hoje uma cartada importante na CL.. Os pasquins invejosos e hipócritas de Lisboa optam por desdenhar, ignorar, assobiar para o ar!!

Escolhem dar destaque à vitória sofrida do 3º contra o último classificado!!

País de Malmequeres (mal me queres), pegas de marcha-atrás e Ervilhas de cheiro!!!


Silva disse...

Lopetegui, claro! De acordo em relação ao outro espanhol.

Miguel Lourenço Pereira disse...

E dentro desta lista que citei o Silva coloca directamente o Lopetegui depois de oito meses no cargo?

Miguel Lourenço Pereira disse...

Não disse que seria fácil - nunca o é na UCL - mas sim que há uma obrigação clara - mais jogando em casa - de evidenciar a nossa superioridade e seguir em frente. E que em Basileia, por muito bom que tenha sido o nosso plano de jogo, o Basel não tentou muito mais porque não queria, claramente, expor-se a deixar espaços para sofrer mais do que um eventual golo que os obrigava a um jogo no Dragão que não sabem jogar!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Carrela,

O Quaresma está ligeiramente mais colaborativo com os colegas, de aí a dizer que deixou de ser vedeta vai um passo muito largo que não dou.

Em relação às entrevistas, flash-interviews ou conferências, acho que o JL tem defendido muito bem os interesses do clube - como outros não fazem - e está de parabens por isso mas continuo a achar o seu discurso um pouco repetitivo e cheio de lugares comuns!

Unknown disse...

Boa tarde Sr. Miguel Lourenço.
Desde ja´os meus parabens quer pelo texto (concordo em quase tudo) quer pela sua opinião mudada reativamente ao treinador.
Não é fácil elogiar algo, que no inicio começamos a criticar.
Mas é muito mais dificil fazer prognosticos no ínicio que no fim. Eu próprio fui contra a politica de contratações ( e continuo a não gostar de jogadores emprestados) eu próprio considerei o Tello sem estofo para jogar numa grande equipa eu próprio questionei Marcanos, Evandros e hoje posso dizer que me enganei mas ainda bem que me enganei. Prefiro, dar o braço a torcer e o meu clube ganhar.
Só espero é que o seu texto não dê azar para logo. Penso que teremos um jogo complicado, contra uma equipa que, concordo consigo é a mais fraca das 16 mas tem valor. O Mónaco vai arrumar uma equipa em que o favoritismo pendia para essa mesma equipa, e isso pode acontecer connosco. Não gostei nada das palavras do Casemiro ( nem gosto dele como jogador), penso que ele deveria ter elogiado a equipa do Basileia. Muitas vezes estes jogos ganham-se antes. Escrevi aqui no dia após o empate em Basileia que o Paulo Sousa e o seu capitão começaram a preparar muito bem a 2ª mão elogiando muito o FCPORTO, e disse que espero que a estrutura filtrasse isso, mas após a conferência de imprensa do Casemiro fiquei algo preocupado. Espero estar enganado.
É muito importante passar esta fase, dá dinheiro ( e muito) e mais que isso dá uma motivação enorme, e concordo com o Srº José Correia, para mim chegar aos Quartos da Champions é igual a ganhar a Liga Europa.
Quanto as capas dos jornasi, apenas pego numa das frases do Mestre.
" A mim preocupa-me é quando A BOLA, comelar a fazer capas com o FCPORTO, aí estarei muito preocupado", portanto deixem eles continuar a trazer capas vermelhas, capas de campeão antecipado, de futebol espetáculo, as contas só se fazem no fim. Prefiro amãnha um cantinho pequenino a dizer " FCPORTO nos 8 melhores da Europa" do que uma página completa com a nossa eliminação.
Já disse e continuo a dizer que, se á 20 anos atrás precisavamos da comunicação social ( era a única via pela qual nós sócios e adpetos tinham informações do clube) atualmente nós sócios e adeptos não precisamos de jornais para nada. Temos excelentes blogues ( na qual incluo este) onde temos toda a informação necessária. Penso até que atualmente temos aqui noticias masi rápidas que o próprio site do clube.
Bruno Miguel Guedes - 28061.

João disse...

"Na construção ofensiva e na eficácia, bem como nas bolas paradas há um mundo pela frente."

Em abono da verdade, as bolas paradas foram o primeiro aspecto onde se começaram a ver dinâmicas treinadas e algum estudo. Recordo-me de um canto que se identificou imediatamente que tinha ido buscar ao Paulo Fonseca, de um lance similar a um livre que se tinha visto noutro campeonato nessa semana, dos cantos curtos e de várias tentativas de meter a bola na zona de tiro.

Em abono da verdade, é onde tem menos "ovos" (defesa) e no sector mais criticado (meio campo) que a equipa mais tem evoluído, o que será mais bom que mau sinal.

Eu, que já lhe questionei inclusive a inteligência, tenho que reconhecer a excelente série de jogos (não resultados, mas também resultados) em que o Porto está, espero que tenha aprendido a não dar primeiras partes de avanço (Alvalade) e jogos inteiros de borla (Estoril, Boavista) com as sua opções. Já era um começo.

E, que fique bem claro, Lopetegui este ano era campeão por dois dígitos de diferença, não fosse a influência directa da arbitragem, e isto é inequívoco. Aliás, a única dúvida reside em quem seria o 2º classificado, mas nunca por curta margem.

JB disse...

Completamente de acordo! Julgo que ainda há coisas a melhorar, mas penso que a evolução do jogo da equipa é notória.

Concordo também no tema de Quintero. É dos jogadores com maior potencial da equipa, pelas suas características físicas/técnicas (e pela capacidade de jogo interior, o que ainda vai faltando à equipa). É pena que ainda pense que um jogador com as suas funções seja medido na quantidade de passes de ruptura que faz. Devia ter convivido mais com Lucho.

Miguel Lourenço Pereira disse...

As bolas paradas são um calcanhar de Aquiles. A eficácia é nula. Quando há equipas que as treinam a sério como o Atletico de Madrid e delas sacam pontos importantes torna-se claro que sem a repetição constante de exercicios em treino que o sucesso é impossível. E aí há muito que trabalhar.

Quanto ao resto, ninguém, acho que nem mesmo os benfiquistas, duvidam que este ano o titulo seria justamente nosso se vivessemos num pais sério!

João Machado disse...

Atenção que não há tempo para tudo... O processo defensivo do Atlético, por exemplo, é muito mais simples de treinar do que o nosso. É mais fácil mandar baixar linhas e encostar lá trás, do que jogar subido e reagir forte à perda...
Quero com isto dizer que o tempo de treino não é infinito e se calhar o Lopetegui tem dado mais tempo a umas coisas que considera mais importantes para já.

Luís Vieira disse...

Miguel, apesar de concordar com o tom elogioso do artigo em relação ao Lopetegui, que não está em 1º lugar quase exclusivamente devido à roubalheira a que se tem assistido semanalmente na Liga Portuguesa e a que se pode somar os equívocos da rotatividade e da facilitação no 1º semestre, alguns pontos de discórdia:

1. O Jesualdo não pode ser metido no mesmo saco, do ponto de vista dos desempenhos europeus, do Co Adriaanse (decididamente) e do Vítor Pereira (mais moderadamente). É uma profunda injustiça e uma rasura histórica que o Miguel continuamente lhe faz.

2. Não consigo ser tão optimista quanto ao futuro do Ricardo enquanto lateral direito. É certo que é um jogador abnegado, cumpridor e que tem margem de evolução, mas não antevejo tanta potencialidade assim. O jogo no Bessa serviu para comprová-lo.

3. A recuperação do Herrera não foi apenas emocional (para isso, porventura, terá contribuído mais o Mundial), mas táctica também. O Herrera está bem integrado no colectivo, é um jogador fundamental de quem o treinador não prescinde e as "correrias desenfreadas que o asfixiam" são não raras vezes determinantes para o bom desempenho da equipa que agora elogia.

4. Quaresma está condenado a ser Quaresma e bem. O Lopetegui soube domá-lo e inseri-lo no colectivo, um pouco à imagem do Adriaanse e do Jesualdo - sem o brilhantismo de outrora naturalmente, mas com competência e, acima de tudo, portismo.

5. A comunicação do Lopetegui é um ponto forte: decidido, destemido e com conteúdo. Aculturou-se muito bem à mística do clube (ser basco e ter jogado em Barcelona ajudam) e, neste momento, é o nosso maior defensor.

Independentemente do título, também espero que continue na próxima época. Neste momento, apenas lhe "exijo" a passagem aos quartos-de-final da Champions, mais logo, e a conquista da Taça da Liga.

DC disse...

Só venho subscrever tudo. Acho que não lia nada pelo RP com que concordasse tão claramente há muitos meses.

Miguel Lourenço Pereira disse...

JON,

No caso do Atlético falo, exclusivamente, das bolas paradas.

Madjer disse...

Obrigado pelo esclarecimento da venda de metade do estadio,coisa que desconhecia.

Esta epoca Lopetegui ja lançou R.Neves , Gonçalo Paciencia e Ivo Rodrigues..

Nos proximos anos deve lançar Moreto Cassama e Rui Pedro as 2 maiores perolas que temos na formação.

Mefistófeles disse...

Parabéns, Miguel. Excelente texto, gostaria também de lhe dizer ( especialmente pq não raras vezes discordo de si) que lhe fica bem este reconhecimento, mostrando assim ser um homem lúcido e justo, e pelo timing em que o faz.

a pessoa disse...

Sim Miguel, mas o que quis dizer é que JL pode ter tido de optar, face ao tempo que teve, por treinar mais o processo defensivo e menos as bolas paradas. Ao passo que Simeone, para além de levar vários anos na equipa, pode ter optado mais pelo inverso. O tempo é um recurso escasso, até para os treinadores...

JON

Miguel Lourenço Pereira disse...

JON,

Entendo e tem a sua lógica mas sabendo que hoje o futebol se decide por detalhes não é de menos guardar umas boas sessões anuais para treinar as bolas paradas colectivamente (individualmente os jogadores podem e devem treinar, como aliás se viu ontem, os livres directos e as grandes penalidades).

Só espero sinceramente que o JL não pertença a uma estirpe de treinadores, filhos do Cruyfismo, que defendia que não se deviam treinar bolas paradas porque isso roubava tempo precioso ao treino de campo. Era habitual os lances de bola parada do seu Barcelona serem muito fracos e o Guardiola não mudou radicalmente essa situação.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Mefistófeles,

A única coisa importante é o FCP. Se por cada vez que eu dê uma opinião contrário o tempo me provar enganado o mais provável é que o FCP tenha saido beneficiado. E não há nada melhor que isso!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Obrigado!

Mefistófeles disse...

Sem dúvida. Por isso tem o meu respeito e admiração, ainda que continue a discordar aqui e ali dos seus textos. Não é que não tivesse antes, apenas ficam mais reforçados.
E viva o FC Porto !

Silva disse...

Sem hesitar Miguel. E desde o exato momento da sua escolha. Acho, por exemplo, disparate perfeito a condescendência do "ganhou o direito a mais um ano". Discordo! São mais dois anos e muita tristeza por não serem 10. Sim, Top5 já, Top3 em 2017. Ora aqui está um prognóstico antes do jogo...