quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Em estratégia que ganha não se mexe !


Foi uma AG bem comportada e mais animada do que o costume. Obviamente que estando presente o Alexandre Magalhães, alguma fricção teria que ocorrer, mas nada que passasse das normas. Não houve necessidade de recorrer ao amarelo.
Houve variadas intervenções e foram as contas e a política de remunerações da SAD os pontos que foram objecto de maior discussão.

O Dr. Fernando Gomes (FG) tomou a seu cargo, como vem sendo habitual, a apresentação e defesa do relatório, o que fez de forma segura e sucinta, seguindo o comunicado resumo dos resultados consolidados em 2008/9, presente à CMVM. A defesa do documento seguiu o guião habitual. FG esmiuçou um ou outro ponto, nomeadamente que o aumento dos custos com pessoal decorreram dos prémios concedidos aos jogadores no quadro de uma época recheada de vitórias e aos aumentos introduzidos para evitar novos casos Paulo Assunção. Aliás, a sua intervenção não poderia ter sido muito diferente, pois a SAD segue a sua linha estratégica vencedora em todos os escrutínios, quer junto dos sócios quer dos accionistas, como as votações de 27 e 28 de Outubro de 2009 comprovam.

FG não prevê sequer um Plano B no caso de ocorrer uma não presença na CL e/ou a alienação de passes dos jogadores não gerar as mais valias expectáveis. O próximo relatório já dispõe de mais valias confortáveis – com as vendas de Lisandro, Cissokho e Ibson - e acredita a direcção que o ciclo se vai manter, porque o sistema se renova automaticamente, consubstanciado na onda de sucessos que veio para ficar. Aceita (FG) que há riscos, mas este é o plano traçado e porque não apresenta contra-indicações vai continuar.

Outro tema que esteve na berlinda foi a não reposição dos capitais próprios e o incumprimento das disposições do artigo 35º do Código das Sociedades Comerciais, pouco entendível segundo um accionista, que disse não compreender a relutância da SAD na adequação dos capitais próprios às disposições legais.
Se no passado recente a SAD tencionava em momento próprio debater o assunto em Assembleia Geral, é neste momento convicção da Administração que a estrutura de capitais da sociedade vai sair tão melhorada, que vai dispensar o recurso de qualquer medida extraordinária. Já não se fala de AG para o efeito, neste RC.

Para reforçar a sustentabilidade da sociedade, FG disse que a solvabilidade da empresa nunca esteve em causa e que a SAD do FCP não tem qualquer receita adiantada já contabilizada, o que é uma excepção no panorama futebolístico/contabilístico cá do burgo.

A uma afirmação de um outro accionista que considerava que 10% de encargos financeiros era um exagero e uma condição que nos colocava perigosamente demasiado dependentes da banca, FG respondeu que a SAD continua a ter acesso “fácil” à contratação de empréstimos e que as vendas dos passes a outros emblemas (nomeadamente ao Lyon e ao Marselha) caucionaram empréstimos negociados junto do Millenium BCP e BES, respectivamente.

O Orçamento foi apresentado e segue a metodologia e os indicadores anteriores, como indicia um aumento dos proveitos de 6,64% e de custos de 11,34%, para um lucro estimado de 3m€. À pergunta se era expectável ocorrerem compras ou vendas em Janeiro a resposta foi negativa.

Sobre a política de remuneração um representante da comissão interveio para dizer de sua justiça. Falou do mercado, do benchmarking e fez uma defesa da proposta pouco esclarecedora, ao ponto do FG ter tido necessidade de intervir para dar explicações suplementares.

Alexandre Magalhães que já tinha feito uma intervenção sobre o RC, neste ponto foi duro e considerou um escândalo as remunerações da SAD, tendo exigido saber quais eram as remunerações fixas para poder chegar às compensações variáveis. Ficamos a saber que o Presidente vence 400.000 € e os restantes administradores 60% deste valor. Como compensação variável, 75% do valor fixo pelo facto do FCP ter sido campeão nacional. Alguma polémica (pelo método proposto e pelos valores) e tanto silêncio. A grande maioria era silenciosa e aprovou a proposta.

No final uma troca de galhardetes entre PdC e AM. Já depois de terminados os trabalhos o Presidente fez uma declaração para agradecer a prova de confiança dada à Administração, como comprova o facto que do capital representado na AG de 62,6%, apenas 0,0173% tenham votado contra.

AM pediu o direito de resposta por uma questão de honra e declarou que era incompreensível aquela atitude do Presidente pois como accionista tinha o direito de votar segundo o seu juízo e que tal direito deveria ser respeitado sem acinte pelo Presidente da Administração. Colateralmente, aproveitou para dizer que o conhece há 60 anos e conhece bem aquele tipo de reacção tão própria do antigo amigo.

Foi das AG’s a que assisti a mais interessante e mais participativa. Estas notas são feitas de memória. Espero não ter atraiçoado o sentido das intervenções e penalizo-me por não ser capaz de ser mais exaustivo, mas temo não reproduzir com exactidão razoável o que foi expressado.
Para o ano há mais.

Em estratégia que ganha não se mexe. Perceberam!

13 comentários:

fiona bacana disse...

Caro Mário,
Muito obrigada pelo seu relato; é mto importante para quem n pode ir às AG's.

Queria só perguntar a quem percebe mais de economia/gestão do que eu, o porquê desta notícia "porto já n precisa de vender"...se percebo q o orçamento é maior, tb entendo que há questões graves de tesouraria a curto prazo...estas duas situações não são sobreponíveis?

Cumps

Pedro disse...

Ana,

Basicamente este orçamento não prevê lucros. Já os considera assegurados. Sem a necessidade sequer de incorporar as mais valias provenientes das vendas de Lisandro, Cissokho e Ibson.

A redução efectiva na dívida aos bancos, e a certeza de que o FCP obtem crédito com muita facilidade permite com alguma dose de certeza assegurar as dívidas de curto prazo.

Mais, se o FCP mantivesse este cashflow por mais 4 anos... o passivo poderia inclusive chegar a zero.... O que resta saber é se o FCP consegue diminuir a carga salarial da sua estrutura, e manter as receitas sem a venda de jogadores.

Mas uma certeza fica, no próximo ano não precisamos de vender, o que significa que vamos vender à mesma, mas com um conforto negocial que poucos clubes neste momento têm.

Alguém aposta no valor do Hulk? Eu lanço uma aposta. Se o FCP atingir os oitavos da Champions e for penta campeão... 60 milhões de euros.

Anónimo disse...

Eles dizem que não têm de vender neste exercício - que termina a 30 de Junho. Portanto, se venderem alguém a 1 de Julho, não terão mesmo vendido ninguém no decurso do exercício. Na minha terra chama-se a isso esperteza saloia. Se estivessem assim tão bem de fundos não precisariam de novo empréstimo obrigacionista

Anónimo disse...

Eu, o Pedro das 17:26, não sou o mesmo das 16:14. :-)

José Correia disse...

Pedro disse...
«Basicamente este orçamento não prevê lucros. Já os considera assegurados. Sem a necessidade sequer de incorporar as mais valias provenientes das vendas de Lisandro, Cissokho e Ibson.»

As mais valias provenientes das vendas de Lisandro, Cissokho e Ibson fazem parte do orçamento 2009/10. Sobre isso, não há qualquer dúvida.

José Correia disse...

«O Orçamento foi apresentado e segue a metodologia e os indicadores anteriores, como indicia um aumento dos proveitos de 6,64% e de custos de 11,34%»

Foi explicada a razão de os custos irem aumentar 11,34% no Orçamento da época 2009/10?

Pedro disse...

Pedro das 17:16, suspeito que desconheças o que é um emprestimo obrigacionista, e o que são despesas de curto prazo. Esta obsessão com o passivo e empréstimos não deixa ver a totalidade da saude das contas. Que me parecem incomparavelmente mais claras, transparentes, e seguras que dos nossos rivais da 2ª circular. Alguém sabe se o SLB reduziu as dividas aos bancos como o FCP fez? Consta que aumentaram 25%.... Dai a necessidade de enviar directamente o dinheiro do patrocinio da cerveja para o BES.

Este orçamento é bem claro, basta saber ler. O orçamento será cumprido, sem necessidade de vendas. Se vai vender ou não no fim da época é outra questão que nada tem a ver com isto. A execução destas contas não necessita de vendas.

E sim José Correia, por lapso coloquei as mais valias das vendas passadas, quando me queria referir ás futuras.

A única excepção aos traços gerais é no caso de em Janeiro se reforçar. Ai terá de obter mais valias para cumprir com o lucro previsto.

Pedro disse...

"FC Porto devia 76 milhões de euros, sendo que no final de Setembro já estavam liquidados 17 milhões de euros, reduzindo o total em dívida para 59 milhões de euros "

Que eu saiba não foi dada qualquer explicação sobre os aumentos dos custos operacionais em 11,34%. Sendo que o FCP vendeu alguns dos jogadores com salários mais altos, reduziu o número de jogadores com contrato profissional... só vejo 2 explicações. Renovações de quase todo o plantel profissional até final da época, algumas já ocorreram. E aumentos dos custos com pessoal da estrutura da SAD. Só team managers são mais que as mães...

Mas, se o FCP não for campeão, não atingir os oitavos da Champions, os prémios da SAD não serão pagos. Pelo menos os que dependem de resultados desportivos.

"a SAD do FCP não tem qualquer receita adiantada já contabilizada, o que é uma excepção no panorama futebolístico/contabilístico cá do burgo." - Isto sim anima-me. Pensar que o tal clube de benfica depende deste tipo de receitas nos próximos 5 anos.. assusta-me duma forma positiva.

José Rodrigues disse...

"Mais, se o FCP mantivesse este cashflow por mais 4 anos... o passivo poderia inclusive chegar a zero..."

Ó Pedro, não sei o q é q andas a fumar mas tb quero! ;-)

Para se baixar o passivo significativamente só há 2 maneiras: ou se aumentam os lucros significativamente (o q não está minimamente previsto), ou se reduzem consideravelmente os activos (presumindo lucro zero).

A SAD tem um passivo de 160 (CENTO E SESSENTA) milhões de euros. Para chegar a zero em 3 anos, das duas uma: ou passamos a fazer um lucro de 50 e tal milhões por ano, ou então tendo um lucro nulo vamos deixar sair os jogadores todos e passamos a jogar com ex-juniores e jogadores a custo zero (baixando pois os activos)...

Enfim, um gajo às vezes lê cada barbaridade q até fica parvo.

HULK 11M disse...

"Este orçamento é bem claro, basta saber ler. O orçamento será cumprido, sem necessidade de vendas. Se vai vender ou não no fim da época é outra questão que nada tem a ver com isto. A execução destas contas não necessita de vendas."

Se isto for conseguido e se for mantido nos próximos anos será excelente. Como é provável que façamos algumas "vendas" milionárias, então estaremos a utilizar essas receitas extraordinárias para reduzir o passivo, o que, em meu entender, é o caminho certo e contrário ao que tem sido seguido, em que as receitas extraordinárias com vendas têm servido apenas para cobrir despesas ordinárias.
Mas pelo histórico das contas dos anos anteriores, estou pouco credulo que isso vá acontecer.
HAJA CONFIANÇA!

HULK 11M disse...

"a SAD do FCP não tem qualquer receita adiantada já contabilizada, o que é uma excepção no panorama futebolístico/contabilístico cá do burgo."

Mas é evidente que as nossas contas não têm nada a ver com as "pseudo-contas" dos nossos rivais.
Mas com o mal dos outros posso eu bem!!!
Preocupa-me é o meu FCP! Mas tenho esperança que, finalmente, vamos entrar no bom caminho, porque os sinais são muitos!

Já agora, e uma vez que penso que este "post" está a ser seguido por portistas com conhecimentos da área financeira, já pensaram porque é que os nossos rivais estão obcecados em renovar contratos com activos, estipulando "cláusulas de rescisão" absolutamente irrealistas?

Pedro Mota disse...

A mim só me preocupa a não conquista do titulo,pois caso isso aconteça podemos passar por dificuldades na venda de jogadores,e sem isso as contas vão se ressentir e muito..onvem não esquecer que todos os anos temos que realizar 35M em mais valias,o que é muito dificil de conseguir sem exitos..No plantel do Porto vejo apenas Hulk,Falcao e B.Alves como jogadores capazes de gerar mais valias,e n caso de Hulk e Falcao nem o passe todo temos..Resumindo,é imprescindivel sermos campeões,tudo o resto é secundário...

Anónimo disse...

Pedro das 16:14 disse condescendentemente:

"Pedro das 17:16, suspeito que desconheças o que é um emprestimo obrigacionista, e o que são despesas de curto prazo. Esta obsessão com o passivo e empréstimos não deixa ver a totalidade da saude das contas. Que me parecem incomparavelmente mais claras, transparentes, e seguras que dos nossos rivais da 2ª circular. Alguém sabe se o SLB reduziu as dividas aos bancos como o FCP fez? Consta que aumentaram 25%.... Dai a necessidade de enviar directamente o dinheiro do patrocinio da cerveja para o BES."

Pois suspeitas mal. Um empréstimo obrigacionista, como o nome indica, continua a ser um empréstimo, e despesas de curto prazo são aquelas que incidem sobre o ano fiscal em curso. Em lado nenhum eu falei em falta de transparência, por isso não percebo a que propósito isso vem. E quero lá saber se o SLB pagou aos bancos ou não pagou.

Quanto à não necessidade de vendas, essa é uma boa e merece um prémio, pois as vendas já foram feitas - só que no início do exercício! Abre os olhos e deixa de te armares em professor dos outros.