segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quando Hulk não resolve...

«A Liga 2012/13 só começou no papel para o F.C. Porto. O filme é o mesmo visto várias vezes ao longo da época passada e que, apesar de ter corrido bem na Supertaça, não voltou a ter final feliz. Entrada amorfa, futebol pouco esclarecido, dois pontos perdidos. (...)

A tarde era de muito calor e o F.C. Porto entrou para não suar muito. (...) Com o Gil lá atrás, à espera de um contra-ataque milagroso, o resto cabia ao F.C. Porto. Tão natural como a sua sede, já dizia o anúncio. Esperado, quase obrigatório. Mas faltou pimenta ao ataque portista. Havia mais F.C. Porto, mas faltava um F.C. Porto organizado. O jogo começou assim, continuou assim e acabou assim. Perto do fim, houve a natural tentativa desesperada dos bicampeões nacionais. Mas o desespero quase nunca é bom conselheiro. (...)

James pouco ou nada inspirado, Jackson ainda a aprender e Hulk para o resto. Só Hulk. Sempre ele, como se tivesse sido chamado para matar as saudades dos adeptos. Correu, rematou, mostrou alguns pormenores do costume, misturou-os com erros de início de época. Tentou, como sempre.
Entrar mal no jogo nem é uma novidade para o F.C. Porto de Vítor Pereira. Uma tecla tão batida na temporada passada que continua a ser incompreensível como não gasta de vez. É verdade que a bola esteve quase sempre do lado azul e branco, mas também é certo que quase nunca foram tomadas as melhores opções com ela. O F.C. Porto parecia esperar o que o jogo poderia dar. Como em tantas outras ocasiões. Não sossegou os adeptos, não quis resolver cedo. Arriscou e foi permitindo que o Gil respirasse, naquele estilo em bloco. (...)

Para o F.C. Porto fica o aviso: é preciso mais. Tem de haver mais. A oportunidade de começar a Liga na frente de Benfica e Sp. Braga ficou para trás. Resta perceber se a capacidade de resposta que valeu um título na época passada continua pelos lados do Dragão.»
in Maisfutebol, 19-08-2012


Subscrevo esta análise ao Gil Vicente x FC Porto, da autoria do jornalista João Tiago Figueiredo e publicada no site Maisfutebol uns minutos após o final do jogo. De facto, quando Hulk não resolve os jogos com as suas arrancadas, assistências ou golos, tudo se complica e vêm ao de cima as insuficiências desta equipa.

É verdade que o mercado ainda não fechou e que há jogadores, principalmente Hulk e Moutinho, com legitimas expectativas em saírem do FC Porto para clubes mais endinheirados de campeonatos com outra projecção mediática, mas situações destas acontecem todos os anos (basta recordar os casos de Quaresma e Bruno Alves) e, apesar disso, ontem Hulk voltou a ser o melhor;
É verdade que há jogadores importantes - Hulk, Danilo e Alex Sandro - que não fizeram a pré-temporada no FC Porto, mas todos eles já cá estavam na época passada e, por via disso, conhecem perfeitamente quer os companheiros de equipa, quer os métodos do treinador;
É verdade que na passada quarta-feira houve uma anedótica data FIFA para jogos particulares das selecções, mas jogos do campeonato antecedidos de deslocações e mini-estágios das selecções é algo com que todos os treinadores do FC Porto têm de saber lidar, sendo o preço a pagar por terem um plantel recheado de internacionais (o Paulo Alves do Gil não tem "problemas" destes...).

Seja como for, mesmo com estes handicaps, a equipa do FC Porto tem de jogar muito mais do que jogou em Barcelos, principalmente se levarmos em conta que o adversário foi uma equipazinha do nível deste Gil Vicente. E o pior é que a exibição da equipa portista no jogo de ontem foi um remake cansativo de muitos (demasiados) "filmes" de má qualidade que se viram na época passada.

O treinador principal do FC Porto, que tem à sua disposição um plantel de mais de 100 milhões, o qual inclui jogadores do nível do Hulk, Moutinho, James, Lucho, Danilo, Alex Sandro, etc., não pode chegar ao fim de um jogo destes e apresentar como desculpa a "relva altíssima", as "dimensões mais reduzidas do campo" ou o anti-jogo permanente da equipa adversária.
O treinador principal do FC Porto tem obrigação de saber que, no campeonato português, a maior parte das equipas recorrem a estes e outros expedientes do género para travar os dragões. Compete-lhe a ele encontrar antídotos para este tipo de armadilhas e, em vez de um futebol lento, mastigado e sem ritmo, pôr a equipa a jogar, desde o apito inicial, um futebol veloz, pressionante e eficaz (se puder ser também bonito tanto melhor).

Chega de desculpas após exibições destas. Depois de uma limpeza generalizada do balneário e da contratação de um ponta-de-lança que "era muito desejado pelo treinador" (foi Pinto da Costa quem o disse), que mais falta ao actual treinador principal do FC Porto para pôr em prática o futebol que prometeu e que este plantel de luxo possibilita? Depois de um ano de transição, será que esta época podemos sonhar com um cheirinho do futebol que vimos na época 2010/11, quando Vítor Pereira era adjunto de André Villas-Boas?


P.S. A manter-se este tipo de futebolzinho, nem quero pensar no destino da equipa azul-e-branca se o "abono de família" Hulk sair.

Nota: Os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

Fotos: Maisfutebol

14 comentários:

Anónimo disse...

sem comentários? Hum, não será isso também um indicador?
Quem é pequenino, nunca cresce...

Silva Pereira disse...

Boa tarde,

Excelente... EXCELENTE

Para quem diz á mais de um ano que o FCP vai jogar num pressing alto, eu nem sequer vejo pressing, vejo sim é marcação com os olhos.
Como diz o prof. Jorge Araújo joga-se como se treina, ora como nas bolas paradas incluindo penalidades, vejo o mesmo à 13 meses, apetece-me perguntar se ainda não teve tempo de preparar esse tempo de jogo (desculpem a redundância).
O FCP tem o mais baixo índice de aproveitamento, e sempre pelos mesmos atores.
Quando é que o JM larga a bola e deixa o James também tentar e porque é que o Maicon marcava na falta de Hulk e não alterna, até parece que VP deixa ao livre arbítrio dos 2.
Ontem se não me engano foram 17 cantos marcados pelo JM (corria da esq para dir e vice versa deve ter feito mais 1Km) e só um foi perigoso se calhar foi um “calhas”
Caso ele fique no FCP vou fazer essa estatística.
Parece que esse é um mal congénito pois nos B vejo o mesmo defeito.
Já agora fiquei feliz pelo cabo-verdiano que vai á seleção (Rolando) o molenga que demora uma eternidade (que chego a adormecer) a decidir passar a bola, mas ontem o Maicon parecia que tinha que lembrar esse molenga.
Cumprimentos

José Correia disse...

Silva Pereira disse...
Ontem se não me engano foram 17 cantos marcados pelo JM (corria da esq para dir e vice versa deve ter feito mais 1Km) e só um foi perigoso se calhar foi um “calhas”

Do lado direito do ataque portista quem marcou os cantos foi o James.

Daysleeper80 disse...

Quando se tem um treinadorzinho, só se pode esperar por um futebolzinho deste género..

Duarte disse...

José Correia, o seu último parágrafo não podia estar mais na mouche. Ainda nem o tinha lido e já tinha dito a mesma coisa a amigos meus.

RuiAlvados disse...

Não tem a ver com o post, mas li no Público 17-08-12 um original palmarés da Liga:o Benfica tetracampeão nas 5 primeiras edições(nunca o foi, mas sim depois o Sporting) e o FCPorto sem o pentacampeonato!!É só conferir.

Mário Faria disse...

O treinador tem todo o direito a referir que o Gil fez antijogo e que o árbitro promoveu esse crime de lesa futebol. O Hulk queixou-se do mesmo. As quebras constantes no ritmo de jogo não ajudam nada ao bom desempenho.
Não há época em que não ocorram más exibições, derrotas e com os melhores treinadores. Não tenho dúvidas que é difícil jogar com equipas que não querem jogar e, raramente, o futebol pode ser de qualidade. Fora dos nossos muros, pior ainda.

Porém, o treinador não deveria ter dito em rodapé que a equipa tinha jogado mal. A equipa acomodou-se, não foi agressiva , criou poucas oportunidades e nem uma soberana ocasião de golo. E nisso há demasiada reincidência. Como na exibição dos jogadores: até Moutinho esteve a um nível demasiado modesto.

Estamos preocupados e famintos de um futebol compatível com o nosso prestígio. O futebol é caro e temos todo o direito em ser exigentes. Não podemos ficar agradados com um padrão de baixa bitola e pelo cumprimento de serviços mínimos. Até não sou muito critico relativamente ao discurso de VP para o exterior, com isso posso bem. Somos Porto e quero que a equipa jogue de acordo com o seu estatuto. O treinador com a vitória no campeonato ganhou um respaldo que lhe faltou durante toda a época. Porém, a margem de manobra é curta se a equipa se exibir como o fez nos últimos dois jogos. Não quero que cada jogo se torne num ”martírio” para os sócios e um enorme bocejo para quem aprecia o bom futebol. Só isso.

agostinhop disse...

A sensação que fica é que a diferença de um FCP com classe e categoria para um FCP banalíssimo, são 2 ou 3 jogadores, casos de Hulk, Moutinho e pouco mais.

João disse...

Mentalizem-se lá de uma coisa - pese embora ser, de longe, o pior treinador que à frente do Futebol Clube do Porto (já vou na etapa complementar dos 20's) o Vítor Pereira tem que fazer referência aos penaltys por assinalar. Por uma razão muito simples. Se nã o fizer, eles são imediatamente branqueados. Basta ver a peça que a SIC faz sobre o jogo, refere o lance do Otamendi, sugerindo subtilmente que devia ter sido marcado (nunca aquilo é penalty em campeonato algum do planeta) e não faz uma ÚNICA referência aos 3 penaltys por assinalar (acabei de rever o do James, é penalty CLARO). Se não tivessem que fazer outra peça com a conferência de imprensa do VP, NINGUÉm ouvia falar disso. A época passada foi um exagero deste tipo de situações. E o facto é só um - qualquer uma das 3 grandes penalidades por assinalar (a última a meio metro e com visibilidade total do árbitro que pura e simplesmente não a quis assinalar) mudava o jogo e provavelmente tínhamos 3 pontos por esta altura. Estar a escamotear isto é idiótio. Não jogamos nada, rigorosamente nada.
Porque 1) não há um sistema de jogo, não há dinâmicas estudadas, não há NADA. Ou, aliás, há. Há aquela palhaçada do canto marcado para o Lucho que eles devem treinar a semana toda porque garantidamente não treinam mais nada. E 90% das vezes dá remate à figura o que seria hilariante se não fosse tão grave 2) temos jogadores em claro subrendimento e logo os mais importantes (Moutinho, Fernando e Hulk neste jogo, Lucho desde que aterrou no Sá Carneiro) e 3) a falta de um plano de jogo, de um plano qualquer para o que quer que seja ECLIPSA por completo quem podia aparecer a resolver (porque com esta "táctica" só mesmo com rasgos individuais se chega lá) - James e Atsu principalmente.
Nem vou entrar pelo facto de gozarmos todos os dias com a mourama por causa do Melgarejo e jogarmos com um central a defesa esquerdo que é só uma nódoa complete e do outro lado do campo estar um lateral de origem que consegue ser pior que ele. Não. Com quem lá está, chega e sobra para ir a Barcelos fazer a 2ª parte em modo de turismo com 0-2 ou 0-3 ao intervalo. Mas enquanto se continuar a desculpar o único treinador que não fez um ÚNICO jogo com fio para o campeonato e se continuar a aplaudir a direcção pela péssima gestão de plantel é isto que vamos ter. E é muitíssimo bem feito. Para ver se acordam..

Só duas perguntas: 1) quem é que paga 100 e tal, 200 euros para ver esta miséria ao vivo? E 2ª, há alguma forma de pôr o José Guilherme Aguiar a pelo menos ler a merda da blogosfera azul para ver se não vai sempre fazer figura de tronco para o Dia Seguinte?

Joao Goncalves disse...

@ Mario Faia

O treinador não tem direito nenhum de dizer isso... isso podia-lhe ser dito por qualquer um de nós, antes do jogo começar.

Afinal de contas estamos a jogar com um treinador, ou com um analista que faz relatórios pós jogo?

VP torna a incompetência uma palavra demasiado meiga para tanta asneira que faz e continua a fazer.

Empatamos porque um treinador incapaz, não sabe montar uma equipa, tão simples como isso.

É só mudarmos a sintonia para Espanha e ver se o Real e Barcelona não enfiaram mais de 100 golos cada um, no campeonato passado, a equipa tal como o Gil que fazem anti-jogo e defendem com 5 autocarros.

A única pequena diferença é que essas equipas tem treinador e mais importante que isso, SISTEMA DE JOGO, coisa que o Porto não tem.

E o sistema de jogo dessas equipa, assenta na intensidade e em resolver a questão o mais rapidamente possível com intensidade, velocidade, dinâmica e combinações rápidas... enfim

PMF disse...

Concordo, no essencial, com a análise do post.

Reservo, no entanto, uma apreciação mais fundamentada, para o jogo com o V. Guimarães.

Deixo algumas questões, independentemente do que é referido no post: não seria de começar-se, com os jogadores que o plantel tem, a evoluir para um esquema diferente, mais próximo do 4-4-2?

Porque é que o meio-campo não apresenta capacidade de desiquilibrar, de abanar o jogo? Falta de capacidade (das respetivas apetências, individualmente), da parte dos jogadores?

Desconforto dos jogadores com a respetiva disposição/colocação em campo?

Incapacidade de os "alas" seguirem, com apoio, até à linha final, ou seja, de abrirem efetivamente o jogo?

meirelesportuense disse...

-No reclamado 3º penaltie, ele é penalidade dupla(!) porque depois do Kléber ter sido abraçado, agarrado e puxado pelo defesa gilista, o remate posterior da direita feito pela nossa equipa é desviado no chão pelo braço do nº 44 do Gil!...Vejam bem o minuto 85!...
-No lance do Otamendi, no seu salto, paralelo e virado à linha de fundo, ele tem o braço encostado ao corpo e dobrado -como humanamente não pode deixar de ter- e a bola tocada do lado direito num arco exterior, bate-lhe no cotovelo e ressalta para trás, para fora da área...Se lhe batesse na mão ou no antebraço iria para o lado contrário, para a baliza ou linha de fundo.

O2T disse...

Casa onde não há pão (golos) todos ralham e... Bastava UM dos penalties ser marcado e dar golo...
É início de (pré-)época. Hulk, AlexS, Danilo, treinaram 1x, Moutinho jogou mal (cansaço da selecção?). Vamos melhorar.

porquinhodaindia disse...

Excelente análise! O Futebol Clube do Porto iniciou a época com um futebol que (agora não restam dúvidas) reflecte a ideia que o seu treinador tem do jogo: ritmo baixíssimo, transições lentas (e que terminam invariavelmente em movimentos interiores de Hulk), objectividade nula (impressionante o número de oportunidades de golo criadas), pressão inexistente. Parece-me evidente que é assim que VP entende o futebol!

Agora das duas uma: ou VP entende que o Futebol Clube do Porto deve jogar assim (e assim sendo está redondamente enganado - com jogadores de tamanha qualidade dá para ganhar o campeonato mas nunca dará para a Liga dos Campeões - ) ou VP entende que o Futebol Clube do Porto deve jogar de outra maneira mas é incompetente e não consegue fazer com que a equipa jogue de maneira diferente!

E chega de desculpas que de tão ridículas nem chegam a sê-lo (algo também habitual em VP): relva "altíssima"? Penalties? Anti-jogo? O Futebol Clube do Porto deixou-se empatar com uma equipa mediocre que, muito simplesmente, fez o que o Futebol Clube do Porto treinado por VP não conseguiu fazer: lutar até ao último segundo com as armas que tem!