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Isto traduz-se num aumento de 30% em relação à época anterior (1,75 milhões €), e corresponde a uma remuneração média por pessoa de cerca de 40mil €/mês.
O primeiro comentário que isto me suscita é o seguinte: numa época em que o rendimento desportivo foi em quase tudo idêntico ao anterior (vitória no campeonato, 1/8s de final na Liga dos Campeões) é à primeira vista difícil de compreender um aumento tão significativo.
A outra grande novidade (surpresa, mesmo, já que não foi anunciado antes dos factos) é que o esquema de remuneração mudou em relação ao passado, nomeadamente no que diz respeito aos bónus: anteriormente estes eram pura função do lucro do exercício; agora passaram a ser pura função do rendimento desportivo.
Sempre defendi que a remuneração do C.A. da SAD dependesse do rendimento desportivo, já que este é o principal objectivo do futebol do FCP. Logo acolho essa mudança de forma positiva.
No entanto penso que nem tanto ao mar, nem tanto à terra... o desempenho financeiro é também importante: não porque um dos principais objectivos da SAD seja distribuir dividendos, mas sim porque a competitividade desportiva a médio prazo (e às vezes até mesmo a curto prazo) depende certamente do desempenho financeiro, já que os jogadores não são pagos com amendoins. Como diz o ditado popular: “sem dinheiro não há palhaços”.
Mas se concordo em princípio a 100% com um esquema de bónus em função do desempenho desportivo, como dizem os ingleses: “the devil is in the details”...
A remuneração de base da SAD em 2007/08 foi de 1,6 milhões €, o que para simplificar dá uma média de cerca de 30,000€/mês por membro do C.A. (mas ressalve-se que Pinto da Costa ganha mais do que os outros, sendo presidente do C.A.). Este é o valor que eles recebem, “faça chuva ou faça sol” (i.e. mesmo que o FCP fique em 7º lugar no campeonato e/ou a SAD faça um prejuízo de largas dezenas de milhões €).
Para além disso o esquema de bónus é como se segue:
- 50% no caso do FCP terminar o campeonato em 2º ou 3º lugar
- 75% no caso do FCP ganhar o título
- 100% no caso do FCP ganhar a taça UEFA
- 120% no caso do FCP ganhar a Liga dos Campeões
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Este valor de base parece-me extremamente exagerado, principalmente quando não estamos exactamente em risco de ver um Fortis Bank ou Lehmann Brothers vir-nos roubar um Adelino Caldeira ou um Reinaldo Teles oferecendo-lhes propostas milionárias...
Aliás, muitos bons gestores internacionais (quanto mais em Portugal...) em cargos de maior responsabilidade de um ponto de vista empresarial (em empresas multinacionais) ganham menos do que este valor de base dos gestores da SAD, mesmo após a contabilização de bónus por desempenho que recebem nas suas empresas.
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Aliás, nem temos que temer que um tal salário os afastasse para cargos fora do FCP: isso é uma questão teórica que nem se coloca, já que sabemos que os administradores estão na SAD apenas por amor ao clube. E cá entre nós: que grande empresa é que vai querer contratar um Reinaldo Teles? [já agora, aproveito para lhe aqui deixar os mais sinceros votos de melhoras]
Considero pois que o grande problema neste esquema de remuneração está no elevado salário de base + bónus por 2º ou 3º lugar no campeonato. A partir daí a progressão (bónus em % do salário de base) em função das conquistas desportivas (vitória no campeonato e competições europeias) parece-me mais ou menos correcta, embora pudesse fazer sentido introduzir uma etapa intermediária na Liga dos Campeões (acesso aos 1/8s de final) e talvez ajustar um pouco a % exacta para os diferentes títulos.
Para além disso considero que o desempenho financeiro também devia ser tomado em conta (com um peso de, digamos, metade dos bónus por desempenho desportivo, já que este é sem dúvida mais importante). Ao não existir, podemos assistir a uma situação de injustiça em que um bom trabalho financeiro não é recompensado, ou inversamente em que uma eventual gestão ruinosa não seja punida (nesse caso o C.A. que se seguir que se desenrasque).
Considero finalmente que um eventual bónus por desempenho financeiro devia ser em função dos lucros acumulados ao longo do mandato de 3 anos (de forma a evitar distorções como tem acontecido nos anos anteriores: uma época com dezenas de milhões de prejuízo não foi punida, mas já uma época com lucro deu direito a 6% do mesmo para o C.A.).
Como sabemos, o lucro do exercício depende imenso do volume de mais-valias nas vendas de jogadores, algo que varia imenso de ano para ano (curiosamente e de forma muito sui generis, a SAD considera estas transacções com passes como algo “operacional”). Faria mais sentido olhar para o cômputo geral de 3 anos, em vez de uma única época.
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Será que os jogadores também recebem bónus se acabarmos o campeonato nesse lugar? Eu diria que nesse caso o mais provável é que hajam umas pedradas nos seus carros...