sábado, 12 de fevereiro de 2011

Deloitte Football, 2000 a 2010


Mais do que apenas chapar a(s) tabela(s) da Deloitte Football Money League, referentes às receitas geradas pelos clubes na temporada de 2009/2010, o site Maisfutebol fez uma análise comparativa da evolução verificada no século XXI, isto é, de como era a realidade em 2000 e como é agora.

Convém salientar que as receitas dos clubes consideradas neste ranking da Deloitte não incluem transferências e são divididas em três categorias:
- Receitas de Bilheteira (inclui os lugares anuais);
- Direitos TV (inclui a venda de direitos TV nacionais e internacionais);
- Comércio (inclui todos os patrocínios e merchandising).

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Sete ingleses, quatro alemães, quatro italianos, três espanhóis e dois franceses. Em 2011, estes são os países que colocam clubes entre os que maiores receitas produziram no último ano. Maisfutebol foi ver como era em 2000, de acordo com o mesmo estudo, produzido pela Deloitte. As diferenças são grandes.

Em 2000, no relatório que costuma acompanhar a divulgação da tabela dos clubes mais ricos do mundo (em rigor, são os que geram maior receita, não necessariamente os mais ricos, as despesas ficam fora da análise), previa-se que o domínio inglês desse período podia em breve estar ameaçado.
Essa previsão concretizou-se. Em 2000, o Manchester United dominava a tabela, seguido do Bayern de Munique. Entre os cinco primeiros só havia um espanhol, o Real Madrid, e o Barcelona era apenas sexto. Por essa altura, em Itália e Espanha os clubes assinavam novos e lucrativos contratos com a televisão. E a Deloitte previa que isso pudesse alterar a tabela dos mais ricos. Certo. No entanto, identificava a Itália como principal ameaça ao domínio inglês, o que a história acabou por não confirmar.

Em 2000, a Inglaterra colocava oito clubes entre os 20 maiores. Agora tem sete. A Itália tinha seis, hoje está reduzida a quatro. A Espanha somou o Atlético Madrid ao Real Madrid e ao Barcelona. A Alemanha passou de dois para quatro representantes e a França surge na lista em 2011, facto que não se passava há dez anos. Nessa altura, Glasgow Rangers e Celtic faziam figura entre os maiores. Agora a Escócia foi retirada do mapa.

A primeira década do século XXI permitiu ao Real Madrid passar de terceiro para primeiro, mas o grande salto foi dado pelo Barcelona, que antes era sexto e hoje ameaça a liderança do clube de Florentino. O Manchester United caiu de primeiro para terceiro e o Bayern Munique de segundo para quarto.
O crescimento dos dois maiores clubes espanhóis não significa que a riqueza tenha sido bem distribuída. É verdade que o Atlético Madrid conseguiu aceder ao top 20, mas só isso.

Do ponto de vista da geração de receitas, os clubes ingleses continuam a impressionar. Claro que alguns ficaram pelo caminho. O Leeds, histórico, é o maior exemplo. Em 2000 ainda era poderoso, agora anda no segundo campeonato inglês, depois de dias de amargura. Está na luta pelo acesso à Premier League, ao lado de outros para quem a última década foi penosa: Nottingham Forest, Ipswich Town, QPRangers ou Middlesbrough.

Em 2000, a tabela ainda era ordenada em milhões de contos. Feita a conversão, a diferença é enorme. Os clubes tornaram-se em verdadeiras máquinas de fazer dinheiro. Recebem mais das televisões e dos patrocinadores, afinaram a bilheteira e a relação com os adeptos, a quem vendem hoje muito mais produtos. Descobriram também mercados novos, o asiático antes de todos.

Todos os clubes do top 20 geram hoje mais receitas do que em 2000. Alguns têm mesmo muito mais receitas.
Eis a comparação (2010 vs 2000):
Real Madrid (438 M / 124 M)
Barcelona (398/91)
Manchester United (349/180)
Bayern Munique (323/135)
Arsenal (274/79)
Chelsea (255/96)
Milan (235/88)
Liverpool (225/75)
Inter (224/80)
Juventus (205/95)

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Em 2000, o Manchester United destacava-se com receitas de 180 milhões de euros. Dez anos depois, há 10 clubes com receitas acima dos 200 milhões de euros por ano.
Sendo esta a realidade, ainda hoje me interrogo como é que foi possível o FC Porto ter ganho a Liga dos Campeões em 2004.



Olhando para o gráfico anterior, verifica-se que as receitas de televisão (direitos de TV) representam uma fatia muito significativa das receitas dos clubes mais ricos da Europa. No caso do AC Milan, Inter e Juventus, representam mesmo mais de 60% das suas receitas.

Gráficos e Tabelas: FutebolFinance, Deloitte Football Money League

4 comentários:

eumargotdasilva disse...

direitos de tv - "No caso do AC Milan, Inter e Juventus, representam mesmo mais de 60% das suas receitas." - o que, diga-se de passagem, não só é muito triste, como um perigo imenso...
ainda para mais lá, que o dono da imagem é o porno-berlusconi...

enfim, o futebol como todo o resto terá que se re-inventar (no que diz respeito ao negócio, claro!) porque essa dos ricos estarem mais ricos e os pobres pior já conhecemos doutros carnavais e com as consequências que se está a ver!...

Alexandre Burmester disse...

Em matéria de direitos televisivos o Barcelona e o Real Madrid gozam da vantagem, sobre os clubes ingleses e alemães, de os negociarem directamente, enquanto que nas liga inglesa e alemã a negociação é centralizada e a distribuição das receitas mais equitativa (em Inglaterra 1/3 delas é dividido em partes iguais pelos 20 clubes da Premier League, outro 1/3 é distribuído conforme o número de jogos transmitidos de cada equipa e outro 1/3 conforme a classificação final da equipa). Embora os direitos televisivos ingleses sejam muito superiores aos de qualquer outro país, isso faz uma diferença.

A disparidade de receitas em Espanha está a transformar o campeonato espanhol numa espécie de campeonato escocês mais bem jogado, mas nem os números fabulosos aqui apresentados garantem o equilíbrio financeiro dos clubes, pois, por exemplo, ainda no último verão o Barça teve de se financiar quase que de emegência na banca.

Acresce que quanto mais dinheiro o futebol gera, mais os jogadores e seus inevitáveis "agentes" abrem a boca, ajudados por verdadeiros especuladores como Roman Abramovich e o Sheik Mansour.

José Rodrigues disse...

É preciso ter algum cuidado com os números avançados.

Antes de mais nada assinalo que muitos destes clubes (sendo privados) não publicam relatórios e contas; e além disso os tipos da Deloitte parecem ser um bocado desleixados na forma como obteram certos números.

Por exemplo: dizem eles que o slb teve receitas de 98M€ (excluindo vendas de jogadores), incluindo 40.2M€ em bilheteira (e quotas) e 41.2M€ em receitas comerciais (o que até leva o slb a entrar no top20 destas duas rubricas).

Ora bem, segundo o R&C do slb os proveitos TOTAIS (já incluindo uma outra rubrica menor q não entra nestas contas da Deloitte) foram de 66.8M€.

Ou seja, a Deloitte exagerou as receitas do slb pelo menos nuns 50%, o q não é exactamente um pequeno erro. Estavam drogados, ou quê?

José Rodrigues disse...

NB: quando digo "slb" no comentário anterior, quero dizer naturalmente "slb SAD". O clube não é para aqui chamado.