quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Os "media" que temos (Parte II)

Num artigo anterior assinalei a dualidade de critérios gritante, nos meios de comunicação social, entre a avaliação das temporadas do slb na época passada e do FCP na presente.

Mas será essa dualidade minimamente compreensível, "necessária para vender jornais", como alguns (tipicamente benfiquistas, mas não só) às vezes afirmam? Pessoalmente divido os meios de comunicação social (para aqui relevantes) em 3 categorias distintas:

1) meios de comunicação estatais
2) meios de comunicação privados mas em regime de monopólio (ou quase), para efeitos práticos
3) meios de comunicação privados com uma concorrência considerável

Na primeira categoria temos a RTP, paga com o dinheiro de todos os contribuintes e supostamente totalmente neutra, como se requer - requer não, exige - a um órgão do Estado.

Na segunda temos uma Sport TV, uma TVI ou uma SIC: quando transmitem um jogo de futebol detêm para todos os efeitos um monopólio desse serviço (mas já detêm concorrência no que diz respeito a programas de notícias). A Sport TV tem ainda a particularidade de depender muitíssimo pouco do número de espectadores aquando dos programas noticiosos, ou até mesmo aquando dos jogos, já que a grande maioria dos seus proveitos advém das subscrições (e cada vez mais da revenda de jogos a outros canais, estrangeiros incluídos) e não dos anúncios publicitários.
Na terceira temos os jornais desportivos. Esses têm que lutar por consumidores dia-a-dia e têm uma feroz concorrência.


Vou começar pela última categoria: não me choca muito que os records e bolas deste mundo definam os benfiquistas, anti-portistas (e, em menor medida, sportinguistas) como audiência-alvo. É uma escolha deles (ainda que muitas vezes enviando o código deontológico às malvas de uma forma só comparável a colegas no 3o mundo), e aos portistas cabe-nos apenas apontar as suas palhaçadas e, acima de tudo, desprezá-los. No que me diz respeito, recuso-me mesmo a ir aos seus sites na Internet. Penso que a estratégia por que optaram é algo obtusa, mesmo de um ponto de vista racional, mas é lá com eles. Sobra mais para a concorrência.


Já uma Sport TV, enveredando pelo mesmo caminho, é motivo de indignação e muito menos compreensível. Detendo o "produto" (transmissão dos jogos) não têm qualquer necessidade racional de antagonizar os adeptos do FCP e bajular os do slb - pelo contrário, podem ficar a perder clientes. Não deixei de reparar por exemplo que no Braga - FCP tinham apenas um comentador de serviço que era... um benfiquista dos 4 costados do Minho, de seu nome V. Paneira que - sem qualquer surpresa - nos brindou com um número considerável de "pérolas" do mais faccioso que há.

Será que a Sport TV vai ter o João "Broas" Pinto como comentador do SCP - slb?

Estando muitos portistas (que não todos) "reféns" da subscrição, cabe-nos protestar alto e bom som e por diversas formas. Cabe também no entanto à SAD equacionar seriamente o rompimento de laços, enveredando por um projecto próprio ou em parceria com outros canais de cabo num esquema pay-per-view (no que me diz respeito, re-encaminharia de bom grado o que pago à Sport TV para um projecto semelhante, que penso ser hoje perfeitamente viável ao nível económico, havendo alguma coragem e pachorra).

Finalmente, o que dizer de uma RTP? Aqui não só é motivo de indignação, como dos mais elevados protestos.

Mas porque agem assim? O fio comum nestes órgãos nacionais é que têm uma representação desproporcional de "vermelhos" na sua direcção que não conseguem "despir a camisola" (e muitos deles cresceram no pré-25 de Abril); e estão maioritariamente sediados em Lisboa, com tudo o que isso implica no relacionamento com os clubes - o poder de coacção e clientelismo perante o slb (lugares no estádio, viagens com a equipa, etc) é um factor a não menosprezar.

13 comentários:

mega disse...

Boas.. De acordo com practicamente tudo, principalmente em relação aos pay-per-view's.. Não sou cliente sport tv, não têm a minha audiência a não ser que conte os streams que se vai arranjando via net, mas estaria mais que disposto a pagar para ver só o que me apetece, como os jogos do meu clube.. Apoiado..

Um aparte, logo, 0-2, Falcao e Rolando.. Vai tudo atrás do Nico Otamendi nas bolas paradas e o Rolando aparece solto a aliviar..... para a baliza ;)

zeportista disse...

Já seriamos dois...Eu também não pago à Sportv ( felizmente é mesmo só opção...) e estaria disposto a pagar outra alternativa.

Traficante de pneus disse...

Para já ainda não vi nenhum enviado especial da RTP a Sevilha, Poznan e Glasgow.
Querem apostar que na próxima semana vamos ter um em Estugarda e com direito a directos nos telejornais?...

Zé Luís disse...

José Rodrigues,

percebo a pertinência e acerto geral do comentário pessoal, mas devo sublinhar duas incongruências significativas que resultam, julgo eu, do desconhecimento da matéria e de não ter porventura condições de aferir com mais rigor o que está em causa.

Primeiro,
está demonstrado, amplamente demonstrado, e os próprios sabem disso, que os jornais não vendem por causa dos clubes, mas por causa do seu trabalho seja com que clube for desde que seja um trabalho honesto.

Já repliquei esta matéria várias vezes, por ter conhecimento de causa: o boom dos jornais desportivos diários rendeu-lhes vendas como nunca tinham tido e nunca mais tiveram, precisamente nos anos do Penta do FCP, de 1995 (os diários desportivos partiram em pé de igualdade em 1995) a 1999.

Se tem noção desse tempo, e volto a falar com conhecimento de causa, o trabalho então realizado era muito profissional. Equilíbrio, espaço, atenção idênticos para os 3 grandes que, até nesse ano, chegaram a estar simultaneamente em blackout. Pois ao fim de um ano o Record gabou-se de ter ultrapassado a Bola em audiência e durante 10 anos assim se manteve até em 2008 a Bola ter anunciado que tinha recuperado a liderança.

Os dois grandes jornais de Lisboa, contra os quais O Jogo apostou sempre de forma errada, vendiam acima de 100 mil exemplares/dia. No Verão era acima dos 120 mil.

Hoje, as vendas estão abaixo dos 60 mil, é consultar os números que os jornais continuam a publicar. A net e a pub aí recolhida permitem-lhes disfarçar a quebra nas vendas.

Quebra nas vendas, ou incapacidade de as fazer subir, mesmo em anos de títulos do Benfica. O Record, que virou vermelho de forma escandalosa, não beneficiou disso. Mesmo em anos de Sporting campeão, há uma década, as vendas não subiram como era suposto e até quando o Boavista foi campeão o panorama manteve-se inalterável.

Essa apreciação em extensão, num longo período, consegue demonstrar que não é certa a teoria de mais vendas com títulos em Lisboa. O panorama actual é desolador. Há meses em que os jornais não vendem mais de 55 mil diariamente. Daí estar a recorrer-se a despedimentos encapotados.

Zé Luís disse...

Segundo,
quanto à cor das gentes da tv, é discutível e até em alguns casos redondamente mentira. Quer focalizar na RTP, mas olhe para a Direcção de Informação e vê lá muita gente do Porto, formada no Monte da Virgem, desde o JA Carvalho à hoje dama de Sintra, que são portistas. Pode dizer-me que não o assumem, é verdade, também porque o Desporto não é a sua vocação. Ficou pelo Porto o Carlos Daniel, que domina o sector do Desporto, é verdade, mas à parte este caso, mais pelo alheamento da DI em geral quanto ao Futebol, não há coisa de maior importância. Ajuda, isso sim, a implicar com a RTP por termos de a pagar, ai isso custa muito e é injusto e mesmo ignóbil, mas no seu todo e no proteccionismo ao Poder vigente e eu recuso-me a ver os noticiários da RTP.

Olhando, por exemplo, para a TVI, veja então quem está na Direcção de Informação: do Juca Magalhães, até cronista portista no JN, ao José Carlos Castro e outro de quem não me lembro o nome mas apresenta um jornal na TVI24, são portistas, os primeiros também arribaram a Lisboa desde o Monte da Virgem. Agora, não actuam na linha editorial do Desporto e isso não sei porquê. É inenarrável ter o Balde Mar Duarte, mas ele é o Editor daquela coisa e um tipo absolutamente imbecil. Li há dias que o Luís Sobral se demitiu da Editoria do Desporto, ele que é director do Maisfutebol que já de si é o que é. Como é que o Juca permite o abandalhar e comentadores manhosos ali?

O facto de a TVI e a SIC serem privadas dá-lhes menos obrigações do que a estação pública? Não creio, mas como tudo é uma questão de mercado e cabe aos clientes fazerem as suas escolhas.

Independentemente da cor, o que noto é mais do mesmo no sentido de não melhorarem a informação visual e pedagógica com o poder da imagem, não encobrindo umas mas revelando todas. Isso é o que sempre foi feito. Lamentavelmente ajudando à intoxicação pública que conseguiu tornar os espectadores e aficionados de futebol mais broncos e boçais, iletrados e infelizes.

Há, portanto, uma ideia generalizada errada destas duas situações. Pode registar.

victor sousa disse...

A RTP é o caso mais flagrante daquilo a que se convencionou chamar a "administração pública".
Ter os jornalistas que tem, nem me admira. Agora a postura das chefias e responsáveis do canal, é que me envergonha de ser português.

José Rodrigues disse...

"Primeiro, está demonstrado, amplamente demonstrado, e os próprios sabem disso, que os jornais não vendem por causa dos clubes, mas por causa do seu trabalho seja com que clube for desde que seja um trabalho honesto.[...] Essa apreciação em extensão, num longo período, consegue demonstrar que não é certa a teoria de mais vendas com títulos em Lisboa. "

Zé Luís,

penso q não leu com toda a atenção o que eu escrevi. É que EM LADO NENHUM eu disse q ao agirem da forma q agem, a bolha e o rascord vendem mais. BEM PELO CONTRÁRIO: escrevi no remate desse parágrafo o seguinte, o q deixou implícito q até acho q NÃO vendem mais por causa disso:

"Penso que a estratégia por que optaram [esses jornais] é algo obtusa, mesmo de um ponto de vista racional[...]"

E acho q é obtusa pelo seguinte: uma estratégia q maximiza vendas passa ACIMA DE TUDO por não alienar nem adeptos do FCP, nem do slb nem do SCP, não criando anti-corpos numa grande franja dos potenciais compradores.

É q não é por terem mais entrevistas de um LFV do q de um PdC, ou de darem mais destaque na capa a vitórias do slb (e hoje até podem utilizar capas diferentes para zonas diferentes do país) q eu recuso-me a comprar (ou visitar o site) de um rascord. É sim por criarem esses anti-corpos em mim com editoriais e parangonas de 1as páginas e análises a arbitragens totalmente facciosas.

Ao agir dessa forma, se calhar até conseguem captar mais uns 10% dos adeptos entre os anti-portistas; mas perdem uns 25% de compradores (os portistas). Se fossem mais equi-distantes não iam perder grande coisa entre os lamps, mas tinham muitíssimo mais portistas a comprar. É obtuso.

Portanto, uma posição minimamente neutra leva a maiores vendas; de resto têm mais é q se concentrar em aumentar a *qualidade* do conteúdo para ganhar terreno à concorrência (entrevistas exclusivas, análises de fundo de qualidade com estatísticas gerais q os outros não compilam, etc).

José Rodrigues disse...

...ainda sobre o ponto anterior: parece-me claro q a estratégia d'O Jogo é de longe a mais acertada e frutuosa, sendo razoavelmente equidistante (nos editoriais, nas 1as páginas, nas análises a arbitragens). E a verdade é q gradualmente ganharam quota de mercado (em %) à bolha e ao rascord.

Só não ganham mais a meu ver por 3 razões:

1) inércia. O Jogo ainda tem uma imagem colada ao FCP junto de lamps e lagartos (de forma injusta). Eliminá-la é uma coisa q dura uns bons 10 a 20 anos no total.

2) disponibilização total dos artigos no website. Muita gente não compra o jornal pq pode ler exactamente a mesma coisa na totalidade na net. E não me acredito q compensem isso com receitas de pub na net... penso q deviam disponibilizar apenas partes sucintas de artigos, tendo subscrição para o resto (como muitos outros jornais em geral, diga-se de passagem).

3) um bocadinho de défice a nível de conteúdo. A qualidade podia aumentar, mesmo q não ache q esteja exactamente atrás dos rivais, em geral.

Zé Luís disse...

enso que a estratégia por que optaram [esses jornais] é algo obtusa, mesmo de um ponto de vista racional[...]"

Eu li bem, José Rodrigues, e este ponto reflecte isso, só que eu frisei bem a questão das vendas que o JR não deve conhecer bem. A questão "racional" que evoca entronca nas perdas-ganhos que fala a seguir, só enfatizei que, com números na mão, as coisas são mesmo, objectivamente, más, eles sabem disso mas actuam como esquizofrénicos.

Unknown disse...

@Zé Luis

Com 99% de certeza, o José Alberto Carvalho e o José Carlos Castro são benfiquistas.

O Sousa Martins é um ex-radialista da Rádio Placard da altura em que esta era propriedade do Reinaldo Teles e faziam relatos de tudo o que era jogo nas Antas, fosse futebol, hóquei, basquetebol ou andebol. E se não é portista é um grande hipócrita.

Unknown disse...

@Zé Luis

Acho que te querias referir ao Jorge Nuno Oliveira, este é assumidamente portista.

Antonio Silva disse...

Pela primeira vez em muitos anos tive que me socorrer de um relato na radio para poder acompanhar a Bola (neste caso a Antena 1). Ja' no meu tempo de adolescente sempre soube que a Antena 1 era um antro de lampioes (nao tivesse la' o .....)

Bem, aqui ficam umas cenas que apanhei meio distraido com o trabalho:

Alegado penalty do Benfica: Comentador no Estudio: "bem, agora visto deste angulo ve-se bem que o Coentrao estava ja' no chao quando houve contacto com o guarda redes." Relatador: "Bem, vamos passar `a frente. Para mim e' claro que e' penalty e o arbitro prejudicou o clube da Luz! Esta' o caldo entornado!! Oucam a Luz *assobios*"

Agressao do Cardozo (mais uma): Cardozo da' uma cotovelada num adversario sem ser expulso. Vinte segundos depois: "bem, o arbitro a manchar o resultado deste encontro ao prejudicar o benfica"

Livre perigoso a favor do Benfica com um comentador a chorar porque aparentemente a barreira nao estava a 9.15m, dizia o gajo que estava so' a QUATRO metros e pediu ao arbitro para ir ao oftalmologista.

Analise ao intervalo: "A primeira parte ficou marcada pela decisao polemica do arbitro em nao marcar o penalty a favor do Benfica quando o Coentrao foi tocado ja' em queda. Mas aceita-se a decisao do arbitro"

Golo do empate: "O Benfica marcou, o Benfica empatou! mas Portugal quer mais! Portugal quer mais!"

Segundo golo da merda: "Golo do Benfica, e' de Portugal! e' de Portugal"

Impressionante, nao? Agora o relato alternado entre o jogo do Sporting e FC Porto. A primeira parte foi quase totalmente dedicada ao Sporting, ja' na segunda parte sempre prestaram mais atencao ao Porto (fruto de 3 interrupcoes no relato do Sporting para mencionar os golos no nosso jogo)

Nem um niquinho de entusiasmo, que frete, o costume. Ja em Glasgow: "So' da' Sporting!!!!"

De repente, a interromper o relato do Sporting, o jornalista em Sevilha diz "Intervalo em Sevilha, intervalo em Sevilha". O coordenador no Estudio diz "Ja' ai vamos ouvir uma frase. Agora vamos voltar ao Sporting." Muito obrigado pela generosidade: uma frase. Obrigado novamente... uma frase.

Coordenador no estudio: "E em Sevilha a que jogo e' que assistiram?" Pois, a merda do jogo quase todo sem ouvir nada em directo. Mas a maravilha foi fazerem uma analise ao jogo da merda no intervalo do jogo do Porto!!!!

Alexandre Burmester disse...

Olha, "Ah Pois", eu ia no carro a ouvir os últimos momentos do relato do Benfica na TSF e de repente ouve-se uma assobiadela, perante a qual o relatador exclama: "Isto que estão a ouvir é para o Robert por estar a perder tempo. Ele tem de perceber que já não está no seu anterior clube, agora está num grande clube!".

Tudo dito.