sexta-feira, 30 de maio de 2008

... E choramos !


Paulo Assunção desvinculou-se do FCP. Pode ficar mais rico, mas admito que não saia mais prestigiado dessa riqueza. Espero que este seja um caso isolado e a debandada não continue, não vá o FCP ficar exaurido dos seus valores mais sólidos.

Jesualdo Ferreira inquirido sobre as causas e os efeitos do Apito Final sobre os jogadores, respondeu de forma cautelosa, mais ou menos isto: “que não terá sentido nada que indiciasse preocupação, mas que, evidentemente, não sabia em concreto o que ia na cabeça dos jogadores”.

Estamos todos em suspenso do que UEFA poderá decidir, e faz algum sentido que os jogadores estejam igualmente preocupados, porque são profissionais e para um atleta ambicioso não é despiciendo que o FCP esteja dentro ou fora da Europa. Bem, pelo contrário. Competindo o FCP num campeonato de nível médio europeu, faz toda a diferença essa presença e essa visibilidade que a CL proporciona.


As últimas notícias conhecidas são preocupantes. A UEFA é uma instituição altamente burocratizada, que gere os assuntos de forma muito particular, de um mundo à parte que é o futebol, com regras e julgamentos próprios que ninguém ousa pôr em causa, a não ser os que quase nada têm a perder, como foi no célebre caso Bosman, cujo acórdão passou a ser doutrina. A UEFA pela primeira vez teve de arrepiar caminho: a multinacional poderosa teve que render-se à lei da UE.
É bem provável que a UEFA queira aproveitar este caso para servir de exemplo. Costumam ser duros, e aquela lei dá para tudo. Não tem que ter lógica nem seguir os cânones do direito. É para cumprir, segundo os princípios que formataram a lei e mais nada.

Ora o FCP ficará sempre a perder neste caso. Obviamente que o será muito mais se for penalizado e se não puder estar na CL, na próxima temporada. Entrámos nos corredores da lei e nesse labirinto não é fácil encontrar o caminho certo da saída. Na UEFA, nessa multinacional poderosa que desafia poderes mais vastos, é de esperar o pior.

E, por favor, não venham com paninhos quentes. Nada de complacências, nem processos de vitimização. Foram cometidos erros em excesso, e alguns só merecem alguma benevolência porque são prática deste país, que andou às voltas e voltas para tramar o suspeito do costume e o perseguir de forma bem mais infame do que a gravidade das acusações. Mas, isso são contas de outro rosário e não desculpabilizam os responsáveis do FCP, e muito menos o nosso presidente.

Estou a reagir a quente: sinto-me muito triste com tudo e com todos e comigo mesmo. Estamos completamente manietados. Não valemos nada, não servimos para nada, não contamos para nada: somos fieis consumidores de uma marca, que actualmente é gerida por uma personalidade muito forte e competente, mas que se esqueceu que nem o mais simples dossier ou a mais inocente relação de negócio é para ser servida e falada à mesa com a família.

E pagamos ! E cantamos ! E aplaudimos ! E lemos: “Champions: FCP defende-se com AC Milan”. E choramos!"

7 comentários:

C disse...

Grande texto, caro Mário Faria.
A hora é mesmo de sofrer e esperar.
Não nos resta muito mais.

bLuE bOy disse...

Caro Mário Faria,

Esta é a forma mais correcta de colocar o problema... assino completamente por baixo!!

Não pactuou é com as outras formas onde só cabe o maldizer, o atirar pedras, o acusar, etc etc... dessa forma, não, não contem comigo!

Como dizes e bem... sofrer até ao fim, com a esperança que tudo não passe d'um pesadelo e que no final, tudo acabe em bem.

Não admito outro cenário...

José Correia disse...

«O jurista Guilherme de Aguiar mencionou, ontem, o “requisito da temporalidade dos factos, não das decisões”, como determinante para o desfecho do procedimento movido pela Comissão de Controlo e Disciplina da UEFA ao FC Porto.

No entanto, e ao contrário do que foi veiculado, a defesa azul e branca deposita maiores esperanças em esgrimir o caso da Juventus do que propriamente o do AC Milan.

É que, após o Calciocaos, os rossoneri foram autorizados a jogar na Champions em 2006/07 pela ausência de barreiras jurídicas lamentadas pela própria UEFA em comunicado. “Esta admissão está longe de ser dada com convicção. O Milan beneficia do facto de a UEFA não ter base legal para recusar a sua admissão”, anunciou o Comité de Emergência, dando conta de uma alteração de regulamentos para impedir casos semelhantes.

É certo que o clube de Berlusconi entrou na Europa sem problemas em 2007/08, mas no limite poderia ser alegado que o seu caso já tinha sido julgado pelas instâncias da UEFA. A Juventus, porém, desceu de divisão e, esta temporada, já na Serie A, ficou na 3.ª posição, estando qualificada para a 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, não pendendo sobre si qualquer ameaça de afastamento, apesar da entrada em vigor da cláusula destinada a punir actos de corrupção.

Segundo outra fonte contactada por Record, “o efeito retroactivo” de uma sanção ao FC Porto ao abrigo da alínea d) do Artigo 1.04 do Regulamento de Competições da Champions “teria sempre de abranger a Juve”.»

in Record, 31/05/2008

José Correia disse...

«Além da retroactividade da alínea d), o FC Porto quer que sejam esclarecidos os próprios critérios de admissão à Liga dos Campeões. Saber, por exemplo, os moldes dos seus prazos de validade. A Juventus qualificou-se pela primeira vez para a Liga dos Campeões depois de, comprovadamente, "ter estado", como proíbem os regulamentos, em actividades ilícitas. Terá beneficiado do vazio legal à data da sentença?»

in O JOGO, 31/05/2008

Leceiro disse...

A questão é a tradução do texto: o texto em inglês menciona a retroactividade, o texto em francês não! E o texto usado pela UEFA é do língua francesa. Logo, a UEFA simplesmente pode fazer a interpretação do texto em língua francesa e castigar o FCP (para tal teria que sancionar a Juve da mesma maneira).

No entanto...a verdade é que todos os experts de direito desportivo em Portugal aquando do apito final diziam que o FCP não ia ser condenado e fomos; agora, estão novamente a dizer que não vamos ser condenados....e a imprensa do regime está sempre, sempre, sempre, a bater na mesma tecla. Vai ser mesmo sofrer até ao dia 2 (data em que a FPF divulga a lista de clube que podem participar nas competições Europeias) e depois até ao dia 4.....

José Correia disse...

De facto, de acordo com o JN de hoje, a versão francesa dos regulamentos é mais favorável aos interesses do FC Porto que a versão inglesa.

« O Comité de Disciplina da UEFA irá avaliar a participação do F. C. Porto na Liga dos Campeões à luz da versão francesa dos regulamentos e não de acordo com a versão inglesa.

Um pequeno pormenor, mas que pode fazer a diferença - e a favor dos portistas - no que diz respeito à interpretação do artigo 1.04, alínea d) dos critérios de admissão à Liga dos Campeões.

Tudo porque a UEFA está sedeada em território suíço (Nyon), onde se fala a língua francesa.

É que a redacção em francês parece não prever a qualquer retroactividade dos estatutos (o clube "não deve estar envolvido", ou seja, "Il ne doit être impliqué" - "nem directa nem indirectamente numa actividade que influencie de maneira ilícita o resultado de um jogo ao nível nacional ou internacional"), ao contrário da versão em inglês, cuja leitura pode admitir uma interpretação retroactiva ("não pode estar, ou ter estado, envolvido", isto é, "it must not be or have been involved").

Um dos argumentos que o F. C. Porto vai utilizar para fazer valer o direito a participar na Liga dos Campeões é o facto de a lei não poder ter uma aplicação retroactiva.

Isto é, os factos que condenam o F. C. Porto reportam-se à época de 2003/04 e a referida alínea do regulamento entrou em vigor em Janeiro de 2007. Segundo alguns especialistas em direito desportivo contactados pelo JN, a tese da não retroactividade da lei pode ter um peso significativo na decisão e será um dos argumentos a esgrimir pelos portistas junto do Comité de Apelo da UEFA ou do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), caso sejam impedidos de participar na Champions na próxima época.

Por outro lado, o acórdão da Comissão Disciplinar da Liga condenou os portistas por "tentativa de corrupção" e não por "corrupção" - que é diferente -, como adianta João Nogueira da Rocha, jurista português membro do TAS, sediado na Suíça.

Esse factor também pode ser importante se o caso chegar ao Comité de Apelo da UEFA ou ao TAS, embora outros especialistas não tenham essa opinião.»

in JN, 31/05/2008

Nuno Nunes disse...

E pensar que podiamos nem sequer estar agora preocupados com traduções de francês de um regulamento que nem nos devia importunar SE a sad tivesse assumido uma postura pro-activa desde que nos começaram a 'cozinhar' nos apitos e na comunicação social.

SE a sad tivesse, por exemplo, denuciado o Estorilgate, as substituições de última hora de árbitros que se 'lesionam' na véspera de jogos do slb, os jantares no Sapo, os encontros de Pinhões, Vieiras e Salgados em hoteis de Lisboa, as relações entre o marido da procuradora muito séria e o presidente do slb, a entrada de uma direcção da liga apostada em agradar aos clubes de Lisboa, os sumaríssimos selectivos, SE, SE, SE...

A estratégia de SILÊNCIO seguida foi, sabemos hoje, a errada. E disso se foram apercebendo os portistas, incluindo os mais acérrimos defensores de Pinto da Costa.

Até quando vai o FC Porto ser gerido por uma política de contenção de danos?
Quando é que teremos de volta o nosso FC Porto combativo, de antes quebrar que torcer?
Estas são as minhas maiores dúvidas neste momento.