domingo, 11 de maio de 2008

Razão ou coração


«A estratégia da SAD do F. C. Porto, que não recorre da punição, anteontem aplicada pela Comissão Disciplinar da Liga (CD), parece dividir os adeptos azuis e brancos. O JN auscultou vários notáveis do universo portista e, entre a razão e o coração, há quem não compreenda como é possível não prosseguir até às últimas consequências. Outra corrente subscreve que a honra do F. C. Porto estará sempre defendida, na pessoa de Pinto da Costa, que vai recorrer da pena de dois anos de suspensão. O Apito Final trouxe fracturas pouco habituais numa massa adepta tradicionalmente unida a uma só voz.

Se apresentasse recurso no Conselho de Justiça da FPF, o F. C. Porto correria o risco de começar a próxima época com seis pontos negativos. A razão desportiva imperou, uma situação inexplicável para o empresário Manuel Serrão. "Devia ter existido recurso. Não pode ficar no ar a ideia de que o F. C. Porto aceita o castigo", argumenta. Uma eventual subtracção de pontos, com efeitos na época 2008/09, "é igual ao litro", atendendo à diferença de valores entre os dragões e os adversários. "Face ao que veio a público, existem todas as condições para recorrer de uma sentença completamente desajustada", conclui.

A perda de pontos, de facto, não preocupa nenhum dos seis portistas ouvidos pelo JN. Mas isso não impede, por exemplo, Manuela Aguiar de subscrever a decisão das cúpulas azuis e brancas. "Acho que não se deve recorrer. Para pensar o contrário, seria preciso acreditar nesta justiça desportiva", faz notar a vereadora da Câmara Municipal de Espinho. Manuela Aguiar, que tem formação jurídica, defende que o recurso do presidente do F. C. Porto basta para afastar qualquer tese de reconhecimento de culpa. "Não vale a pena provar a inocência duas vezes. Como o presidente recorreu, não vejo necessidade de mais nenhum recurso, pois ele é o único visado. Existe uma total identificação entre o F. C. Porto e Pinto da Costa, pelo se tratou de uma medida muito inteligente", analisa, lançando críticas às sentenças aplicadas pelo órgão liderado por Ricardo Costa. "Ao longo dos anos, o F. C. Porto sempre foi alvo de tratamento diferenciado pelas instâncias desportivas. Somos filhos de um Deus menor. A nossa honra não precisa de ser lavada, até porque não me passa pela cabeça que as acusações correspondam à verdade", vinca Manuela Aguiar.

Enquanto adepto, Carlos Magno não se importaria que a equipa começasse o próximo campeonato com pontos negativos "Talvez até servisse de estímulo". Mas não arrisca tomar posição face à estratégia da SAD: "Precisava de conhecer melhor o processo".
Em sentido oposto, e parco em palavras, Lourenço Pinto argumenta: "O recurso seria algo salutar e compreensível".

Membro do Conselho Superior do clube e do Conselho Geral da SAD, Pôncio Monteiro compreende a decisão numa perspectiva de "defesa dos interesses" do F. C. Porto. "Desta forma, não se dá oportunidade àqueles que contestam a superioridade do F. C. Porto de beneficiarem", explica, visto que a margem pontual permite lidar com o castigo com toda a tranquilidade. É evidente que, pensando apenas com o coração, "o comportamento seria outro".

O vocalista dos GNR, Rui Reininho, não está nada incomodado com o facto de a imagem poder sair beliscada. "Qual imagem?", questiona-se o conhecido músico, num registo sarcástico. "Em nada afecta, visto que não temos imagem. As nossas vitórias são sempre de rodapé. Por mais que o F. C. Porto ganhe, nunca passa da segunda página. O que interessa é o novo timoneiro", argumenta Reininho, aludindo às movimentações do Benfica para encontrar treinador e considerando o castigo ridículo. "É de morrer a rir! Às tantas, quando formos receber a taça de campeões à Liga, só nos vão dar metade", atira.

Reininho vai mais longe na ridicularização da decisão da CD e até pensa que a subtracção pontual pode ser positiva. "Uma vez, caí nas escadas e apanhei pontos. Quando os tirei, foi um alívio", remata, com ironia.»
in JN, 11/05/2008

Neste assunto, estou do lado de Rui Moreira, Manuel Serrão, Lourenço Pinto, Miguel Guedes, Júlio Magalhães e tantos outros portistas, "notáveis" e menos notáveis, que não se conformam com a decisão tomada por Pinto da Costa na triste conferência de imprensa da passada 6ª feira.

13 comentários:

Nelson Carvalho disse...

Ao contrario do que diz o artigo do JN, não acho que que existam grandes fracturas entre a massa associativa pela decisão de não recorrer do castigo pela perda dos 6 pontos. A grande maioria de internautas azuis e brancos espalhados por foruns e blogs, bem como a maior parte dos "notaveis" portistas, seria favoravel a um recurso.

Desta feita o que destoa nisto tudo é mesmo a não concordancia dos adeptos pela decisão e postura tomada pela SAD em todo este caso.

Offshore disse...

Sei que não é a opinião da maioria dos portistas mas eu concordo com a decisão da SAD.

Mesmo antes de se saber qual a deliberação do CD da liga e quando à luz dos regulamentos se podia antecipar a decisão do CD eu defendia que não se deveria recorrer do castigo.

é a meu ver, Gestão de Risco, nada mais.

Se pensarmos com a razão e não com o coração penso que não se poderá chegar a outra conclusão.

C disse...

Zé, queria apenas deixar uma mensagem de aprezo pelas tuas opiniões, em particular as do teu primeiro post sobre este triste assunto.
Era mesmo isso que escreveste - sem tirar nem pôr - que o nosso presidente deveria (tinha a obrigação!)de ter dito naquela conferência de imprensa.

José Correia disse...

Caro carlos silva, tu que me conheces, deves ter uma ideia da amargura com que eu fiquei no final daquela conferência de imprensa.

José Correia disse...

Caro offshore, imagine que a sanção era descida de divisão (tal como gostaria o Dr. Ricardo Costa).
Nesse caso, a questão de recorrer ou não nem se colocava, certo?

Compreendo e respeito os portistas que defendem a decisão da SAD mas, para mim, é uma questão de princípio e, do meu ponto de vista, os princípios não estão a venda, não são negociáveis, não devem ser objecto de raciocínios e decisões calculistas.

Mais ainda se estivermos convencidos de que temos razão, como parece ser o caso do Pinto da Costa.

Corríamos o risco de perder 6 pontos?
Sim, e depois? A nossa honra não tem preço!

Seria mais difícil ganhar o próximo campeonato?
Talvez, mas o meu amigo imagina maior motivação do que essa?
Até os nossos adversários, estou certo, olhariam para nós de outra maneira. Com ódio, claro, mas também com um misto de respeito e admiração.

Anónimo disse...

Por mais voltas que se dê a isto a decisão de não recorrer é indigna de tripeiros. É, para não poupar palavras, uma vergonha. E não me venham com a treta de JNPC a ela ter sido forçado pelos seus colegas da Administração: se não concordava, demitia-se. Batemos no fundo.

PS Execrável também o silêncio do tão louvado José Mourinho, um "cão que não conhece o dono".

Offshore disse...

Sei que é uma opinião "fria" e "calculista" para um adepto de futebol mas é a opinião de quem já viu tantas decisões deste género em tantas empresas e já discutiu situações semelhantes com advogados e magistrados.

Obviamente que o meu coração também pedia uma conferencia de imprensa onde se chama-se os bois pelos nomes e que fossemos até às últimas consequencias etc etc

Mas a verdade é que nos poderiamos dar muito mal com o recurso, independentemente de termos ou não razão, e por isso já antes de se saber os resultado da deliberação do cd da liga, via Correio da Manhã, eu defendia uma posição semelhante a esta caso houvesse alguma sanção.

Mas este é um assunto nada concensual e em que há bons argumentos de ambos os lados.

Na próxima época só o 1º lugar dá acesso à LC.
Temos de ser campeões. Nada mais.

Offshore disse...

Um grande abraço a todos que produzem este fantástico blog

José Correia disse...

Caro offshore, obrigado pelo abraço, que devolvo.

Um obrigado especial pelos seus comentários, os quais contribuem para enriquecer esta discussão.

Já agora, este blog é de quem o faz e principalmente de quem o lê.

Mário Faria disse...

Como sócio, a minha posição de princípio foi escrita e faz parte deste blog.
Não me custa admitir que a real politik também seja aplicável ao desporto e que uma qualquer direcção (incluindo a do FCP) não deve ficar dispensada de a praticar, sem remorsos, sempre que a defesa dos interesses próximos (leia-se desportivos) estiverem em jogo, não vá o princípio (ético) prejudicar os fins (materiais), porque se utilizaram os meios politicamente correctos, mas institucionalmente indesejáveis, na medida em que beneficiariam exclusivamente os adversários.
Para bandido, bandido e meio. Admito, por isso, que a posição da direcção tivesse sido a que foi, mas haveria que explicá-la. Mais : devia saber fazê-lo sem que parecesse uma rendição , apenas um passo atrás, estratégico, pois a luta, sem tréguas, continuaria: na Liga, na FPF, nos tribunais, na Comunicação Social e onde tiver de ser. O conformismo apresentado diminuiu as nossas defesas : ficamos menos convencidos da nossa inocência. E isso é que faz toda a diferença. 

José Correia disse...

Miguel Guedes, sobre o acórdão do apito final:

ANÁLISE DO CASO APITO FINAL - Provavelmente estaremos, hoje, perante o primeiro grande cisma papal no F.C do Porto. O Pinto da Costa continua, muito bem, como o nosso grande presidente. A questão não é de nomenclatura, nem de mudança de personalidade ou de direcção, trata-se fundamentalmente de eu sentir que pela primeira vez, há muita gente no Porto que não se revê na decisão do Presidente Pinto da Costa e/ou da S.A.D. . Eu percebo a decisão pragmática da S.A.D. do F.C. do Porto, mas não concordo aliás, estou em total desacordo, à semelhança de muitos outros portistas. Não tenho em minha posse todos os dados concretos que me permitam perceber na totalidade a decisão, para a apoiar, no entanto, não me parece uma posição justificável pois põe, de alguma forma, em causa a verdade das pessoas que a dizem ter... Quem acredita na verdade, vai até às últimas consequências. Havia muitos caminhos jurídicos para o Porto explorar... o Porto não o fez. Todos os portistas sabem que perder seis pontos, na próxima época, ainda que acontecesse, seria o gáudio e um tonos afirmativo, para a competição do F.C. do Porto na próxima época. O timing para mim não é discutível; Grave foi a pressão que a Comissão Disciplinar sofreu para decidir este caso, o que não poderia redundar senão nesta decisão. Lamento a forma como tudo foi resolvido, sobretudo quando se condena um clube à extinção e à morte, como aconteceu com o Boavista. É inadmissível.

José Correia disse...

«Não faz sentido o FC Porto aceitar a punição dos seis pontos só porque já há uma margem confortável de avanço»
Júlio Magalhães, JN, 10/05/2008

Lino Oliveira disse...

Meus caros

Acompanho este blogue desde o início. Considero um dos mais esclarecidos na divulgação da nossa opinião enquanto portistas, revendo-me amiúde nessas opiniões publicadas.

Só agora deixo o meu primeiro comentário.

Não podia deixar de me colocar ao lado dos que advogam a ideia de que o FCP deveria ter ido até às últimas consequências, mesmo com o risco dos pontos perdidos nos serem debitados na próxima época.

A ver vamos se isso não nos vai trazer amargos de boca na nossa presença na Chamipons.

Cumprimentos.