quinta-feira, 22 de maio de 2008

Época 2007/08 em revista: As competições


Depois de dois títulos consecutivos, alcançados por treinadores diferentes, com conceitos de jogo muito diferenciados, logicamente que o grande objectivo deste ano desportivo para os Dragões seria alcançar pela segunda vez na sua história o tricampeonato. Apesar das desconfianças da massa associativa pela forma tremida como foi ganha a Liga anterior, foi com Jesualdo Ferreira ao leme da nau portista que tal desiderato foi atingido, conseguindo-se umas das maiores vantagens pontuais sobre os principais adversários de que há memória. Nas competições ditas a eliminar no plano interno, onde se escondiam receios do falhanço da Taça de Portugal do ano transacto, o «factor Sporting» marcou de forma indelével a carreira do FC Porto. Na Champions, apesar do objectivo inicial de passar a fazer de grupos ter sido cumprido, ficou o amargo de boca pela eliminação ao pés de um adversário acessível. No campo da gestão do plantel destacou-se acima de tudo a aposta na continuidade, apesar da saída de duas peças valiosissimas da equipa Portista. Por fim, mas não com menos destaque, os factores extra-desportivos que, para não variar, centraram-se em torno dos processos de alegada corrupção desportiva, onde a Liga de Clubes assumiu-se como actor principal, bem como, a continua e incansável campanha de intoxicação do bom nome do FC Porto por parte da comunicação social. Vejamos pois, competição a competição, como foi o trajecto da equipa Portista ao longo desta temporada.



Supertaça Cândido Oliveira


No primeiro trofeu da época em disputa, começou a desenhar-se logo nesse encontro aquela que seria ao longo de toda a temporada a maior “pedra no sapato” do FC Porto, o Sporting. Pese embora se tratar do primeiro jogo oficial do ano desportivo, onde os atletas recem-chegados ainda estavam em processo de adaptação, assim como a ausência de Lucho Gonzalez não ter passado despercebida, em virtude de ter-se juntado mais tarde ao grupo de trabalho pela participação na Copa América, logo aí veio ao de cima a incapacidade do conjunto de Jesualdo Ferreira se sobrepor aos homens de Paulo Bento. Izmailov, com um tiro do meio da rua, retirou ao FC Porto o primeiro título da época.


Campeonato Nacional



Os pronuncios obtidos na Supertaça, conjugados com os sinais de quebra acentuada nas ultimas jornadas da temporada anterior, deixavam os adeptos Portistas numa ansiedade e desconfiança para aquilo que de mau poderia estar para vir na competição mais importante da época, a liga Nacional. Porém, as suspeitas rapidamente se dissiparam perante a entrada demolidora dos Dragões nesta prova. Com oito vitórias consecutivas, a equipas como Sporting, Braga, Maritimo, entre outras, e sem conhecer o sabor da derrota até à jornada treze, onde pelo meio a equipa Portista conseguiu um triunfo importante em pleno estádio da Luz, aproveitando-se também de mais uns quantos desaires dos principais adversários, no final da primeira volta o FC Porto cavava um fosso importante para os seus perseguidores. O retomar do campeonato após a tradicional pausa Natalicia não fez mossa à equipa Portista, na tambem já tradicional quebra de forma que sempre se verifica após esta quadra. Bem pelo contrario, apesar do desaire em Alvalade, o FC Porto chegou a meados de Fevereiro com o tricampeoanto no bolso, pulverizando toda a concorrência e estando à beira de alguns recordes históricos. Não foi por isso de estranhar que a cinco jornadas do fim a equipa Portista asseguraria o título nacional.


Taça da Liga


Em ano de estreia desta competição, o FC Porto assumia naturalmente o interesse em vence-la, quanto mais não fosse pelo “apetite” com que vai arrecadando troféus ao longo dos anos. Porem logo na ronda em que entrou em competição, caiu aos pés do modesto Fátima (que até foi despromovido para a 2ª divisão B). O facto de Jesualdo ter feito alinhar nessa partida muitos jogadores não titulares, onde se incluíam na equipa inicial oito aquisições do último defeso, não explicam tamanho desnorte ao longo de 90 minutos, pese embora a eliminação só ter ocorrido na lotaria dos penalties. Uma prestação que ficou muito aquém do esperado.


Liga dos Campeões



Se ao inicio de cada temporada é consensual estabelecer como meta nesta competição a passagem da fase grupos (mediante a qualidade das equipas envolvidas na prova, bem como os seus orçamentos) este é daqueles anos onde a participação do FC Porto ficou aquém do esperado, não apenas pela qualidade e entrosamento do seu conjunto mais utilizado, mas tambem por cair perante uma equipa que não mostrou ser superior ao clube Portista. A fase de grupos também exponenciou as expectativas dos adeptos, face ao 1º lugar conquistado no grupo A, partilhado com Liverpool, Marselha e Besikas. Com 11 pontos alcançados na pool de apuramento, os dragões fizeram umas das melhores prestações nesta fase da prova, deslustrando um pouco a pintura apenas com uma derrota pesada em Anfield Road por 4-1. Nos oitavos de final, o sorteio sorriu ao FC Porto, mas o Shalke 04 tratou de o retirar da face dos associados Portistas. Apesar da possibilidade de Jesualdo Ferreira poder fazer uma gestão criteriosa do plantel em vésperas dos jogos da Champions, em virtude da larga vantagem existente já nessa altura do campeonato português, bem como no decorrer da eliminatória ter ficado bem patente a superioridade do conjunto Portista, isso por si só não foi suficiente para o FC Porto chegar aos quartos de final da competição. Na conjugação destes diversos factores, facilmente se percebe que se perdeu claramente uma oportunidade de ouro para se fazer um trajecto mais marcante na Liga dos campeões desta época.


Taça de Portugal



A ridicula eliminação do FC Porto em casa perante o Atletico no ano anterior, obrigava Jesualdo Ferreira a demonstrar que tal acontecimento não passou de um facto isolado, que o acaso por vezes proporciona. Com efeito, a equipa portista ao longo das eliminatórias que foi disputando, demonstrou que não queria repetir erros do passado, conseguindo eliminar o Chaves, o Aves, o Sertanense, o Gil Vicente e o V. Setúbal sem sofrer um único golo. Por ironia do destino, a final da Taça de Portugal, que fecha tradicionalmente a época desportiva dos Clubes, pôs como adversário a mesma equipa com que abriu as hostilidades na temporada, o Sporting. Com o campeonato assegurado quase um mês antes, o relaxamento de algumas pedras nucleares dos azuis e brancos foi notório no jogo do campo de Oeiras, bem como a rabula da exclusão de Bosingwa da convocatória pelo eventual acordo de cavalheiros com Chelsea, não ter ajudado à festa. Numa semana marcada por “apitos”, com devido condicionamento da equipa de arbitragem, o FC Porto viu o «factor Sporting» uma vez mais roubar-lhe um troféu. Um final algo amargo, para equipa que foi brilhante em alguns momentos da temporada.



Nota: Este é o primeiro de três artigos dedicados ao balanço global da temporada 2007/08.

13 comentários:

José Rodrigues disse...

Penso q o balanço global da época (desportivamente falando) é "razoável a bom".

O objectivo principal foi atingido com distinção (tri-campeonato); cumprimos o objectivo europeu (embora tenha ficado a clara impressão q podiamos ter ido mais longe, fruto de uns 1/8s bastante acessíveis); e falhámos nas restantes 3 competições internas (se no ano passado o falhanço tinha sido estrondoso na Taça, este ano o "estrondo" aconteceu na Taça da Liga enquanto o desempenho nas 2 restantes competições foi apesar de tudo digno).

Concluindo, desiludimos em 3 competições (as menos importantes); cumprimos na Europa; e superámos expectativas no campeonato, apesar de nisso termos tido alguma contribuição dos adversários (com tiros nos pés) e de infelizmente o enorme avanço não dar direito a mais do q um título ou a um crédito para a px época :-)

Neste momento é difícil estabelecer expectativas para a px época sem termos o plantel definido mas congratulo-me ao pensar q temos todas as condições para sermos os principais candidatos ao título nacional, algo q é mérito do treinador, dos jogadores e da SAD.

José Correia disse...

O meu balanço:

Supertaça - Desempenho negativo. Contudo, é justo (porque é verdade) que se diga que perdemos com a preciosa ajuda do árbitro Bruno Paixão.

Taça da Liga - Do ponto de vista do FC Porto, esta competição serve para rodar os jogadores menos utilizados. Estive e estou de acordo que o Jesualdo tenha optado por um onze sem qualquer entrosamento, onde apenas havia um titular habitual. Foi um risco calculado que correu mal.

Taça de Portugal - Desempenho global positivo (muitissimo melhor que na época 2006/07), tendo chegado à final da competição. Na final, sem termos jogado bem, é indiscutível que a nossa derrota tem, claramente, a marca de uma arbitragem vergonhosa.

Campeonato - Mais vitórias, menos derrotas, maior número de golos marcados, menor de golos sofridos, campeões a 5 jornadas do fim, 20 pontos de avanço, melhor marcador. Está tudo dito.

Liga dos Campeões - Bom desempenho, com uma evolução positiva relativamente à época anterior.
Quanto ao adversário dos 1/8s de final ser bastante acessível, recordo quatro aspectos:
1) Jogamos cerca de 40 minutos com menos um jogador;
2) Fomos eliminados na "lotaria" dos penalties;
3) Nas últimas duas épocas, o Schalke 04 foi 2º e 3º classificado do campeonato alemão (não é o Getafe, que ficou em 14º da Liga espanhola);
4) Recomendo a consulta do 'Soccer Team Valuations', publicado pela Forbes em 30/04/2008.
http://www.forbes.com/lists/2008/34/
biz_soccer08_Soccer-Team-Valuations_Rank.html

Vejam qual é o clube que está em 10º e comparem com a realidade do FC Porto.

José Rodrigues disse...

"Vejam qual é o clube que está em 10º e comparem com a realidade do FC Porto."

Bem, o q eu verifico a partir dessa tabela é que os custos do Schalke devem ter andado, em 06/07, pelos ~115 milhões de USD (154 milhões de receitas - 36 milhões de lucro), ou ~85 milhões de Euros à taxa de câmbio de Junho 07.

Os nossos custos andaram pelos 70 milhões de euros na mesma época. Mesmo sem ter em conta q os impostos & descontos para Seg. Social na Alemanha são mais altos e q os salários de jogadores alemães são em geral mais altos do q o dos portugueses (mesmo valendo o mesmo), concluo q o investimento líquido do Schalke no seu plantel foi mais ou menos igual ao nosso, logo não é por aí...

O critério utilizado para este ranking é irrelevante para a discussão: os custos do clube são muito mais relevantes, já q indicam o investimento feito no plantel (passes, salários, ...). Se o FCP anda a financiar esse investimento à custa da erosão da situação financeira enquanto o Schalke acumula lucros, isso já é outra discussão.

De qq forma na LC é preciso sorte, ainda mais qdo as duas equipas são mais ou menos equilibradas. Infelizmente não a tivémos contra o Schalke, nomeadamente no 2o jogo. Mas q o Schalke foi das equipas mais acessíveis q encontramos (e iremos encontrar no futuro) na fase a eliminar, lá isso foi, daí o cheirinho a frustração.

José Correia disse...

«Mas q o Schalke foi das equipas mais acessíveis q encontramos (e iremos encontrar no futuro) na fase a eliminar, lá isso foi, daí o cheirinho a frustração.»

De acordo. Mas daí a dizer que uma das equipas mais fortes da Alemanha (financeira e desportivamente) é um adversário bastante acessível, vai uma certa diferença.

Por outro lado, esta impressão (de que tivemos uns 1/8s bastante acessíveis) demonstra o patamar em que o FC Porto está (por mérito próprio) no contexto europeu ou, pelo menos, a perspectiva e a fasquia dos seus adeptos.

José Rodrigues disse...

Podemos discutir ad aeternum o significado de "bastante acessível"; limito-me a assinalar q "acessível" não é a mesma coisa q "fácil".

O facto é q os orçamentos (ie. despesas ou custos) dos 2 clubes são da mesma ordem de grandeza (várias dezenas de milhões) e o FCP tem quase certamente melhores e mais experientes valores individuais (ainda q a diferença não seja tão grande como se apregoou).

Sendo assim eu considerei à partida q o FCP era "ligeiramente favorito". Em retrospectiva não vejo razões para mudar esse pensamento, e penso q tão cedo não encontraremos um adversário nos 1/8 final da LC q nos permita considerar sermos favoritos (ainda q ligeiramente).

Nuno Nunes disse...

Nesta 2ª temporada como treinador do FC Porto, o Jesualdo corrigiu alguns dos erros que a equipa tinha cometido no ano anterior, principalmente a eliminação precoce da Taça e a quebra pós-Natalícia.

Espero para 2008/2009 a correcção dos erros cometidos na época que agora finda, e que são, a meu ver:
- As dificuldades demonstradas pela equipa em jogos a eliminar (Finais da Supertaça e da Taça, 1/8 de final da Champions);
- A enorme dificuldade em marcar golos ao Sporting (que até tem um fraquíssimo guarda-redes);
- A falta de rotação do plantel durante a época, o que não permite demonstrar que alguns jogadores sejam de facto 'reforços' (e os jogos finais da época até mostraram que uma equipa de 2ª linha não é assim tão má e também é capaz de os vencer).

Importa ainda dizer que o FC Porto precisa de comprar novos e melhores jogadores do que o fez na época passada e na anterior. Bem vistas as coisas foi na época de 2005/2006 que o FC Porto fez as últimas boas contratações (salvo erro). Nota-se aqui um 'abaixamento de forma' da sad - há 3 anos que não compramos um verdadeiro craque.

José Correia disse...

«Importa ainda dizer que o FC Porto precisa de comprar novos e melhores jogadores do que o fez na época passada e na anterior.»

O Mariano Gonzalez, se continuar no FC Porto, acredito que será um dos destaques da equipa, principalmente se se confirmar a venda do Quaresma.

O Farias alternou bons momentos com um apagamento preocupante. Num sistema em 4-3-3 está tapado pelo Lisandro mas, sem Quaresma, talvez Jesualdo ensaie um 4-4-2.

Bolatti e Stepanov não me convenceram. Esperava (espero) muito mais.

Kaz e Lino já os conhecia e mantenho a mesma opinião: não são jogadores para o FC Porto.

Nelson Carvalho disse...

Na Champions, para alem do adversario que nos calhou no sorteio ter sido algo favoravel, tendo em conta as outras equipas presentes no mesmo, tinhamos uma vantagem pontual no campeonato que nos permitia gerir o plantel a pensar quase exclusivamente na eliminatoria com o Shalke. Por isso mesmo é fiquei com a sensação de que tão cedo não teremos uma conjuntura tão favoravel nesta fase da prova.

José Correia disse...

«Bem vistas as coisas foi na época de 2005/2006 que o FC Porto fez as últimas boas contratações (salvo erro). Nota-se aqui um 'abaixamento de forma' da sad - há 3 anos que não compramos um verdadeiro craque.»

Como disse, e por aquilo que vi neste final de época, deposito grandes esperanças no Mariano.

Relembro que o Pepe e o Quaresma foram comprados na época 2004/05 e que o Bosingwa tinha sido na anterior (2003/04).

Ou seja, as épocas 2004/05 e 2005/06 foram muito boas em termos de contratações.

Nuno Nunes disse...

"Ou seja, as épocas 2004/05 e 2005/06 foram muito boas em termos de contratações."

Ou seja, as épocas de 2006/07 e 2007/08 foram más em termos de contratações. A menos, claro, que Bolatti, Farías, Stepanov e Mariano mostrem o valor que ainda não mostraram.

Tendo em conta que os jogadores na sua primeira época ao serviço do clube não estão, habitualmente, ao seu melhor nível, espero que na próxima estes 4 (pelo menos) demonstrem que têm valor para jogar no FC Porto. Isto desde que o Jesualdo lhes dê minutos para isso, coisa que não fez este ano.

José Rodrigues disse...

Parece-me q é bastante cedo para tirar conclusões sobre as contratações desta época.

Se é verdade q não houve nenhuma surpresa pela positiva (nenhuma das contratações superou as expectativas) e algumas desiludiram, tb é verdade que:

1) ainda não tivémos a necessidade de *verdadeiramente* testar a maior parte (poucas lesões, equipa titular habitual à altura das expectativas), e

2)muitas das contratações foram jovens (q precisam de tempo para se adaptar e tornar "maduros")

Por exemplo: penso q jogadores como Bolatti, Stepanov ou até mesmo L Lima têm qualidades de base q.b. para se poderem vir a impôr mais cedo ou mais tarde.

José Correia disse...

«Parece-me q é bastante cedo para tirar conclusões sobre as contratações desta época.»

De acordo.

«penso q jogadores como Bolatti, Stepanov ou até mesmo L Lima têm qualidades de base q.b. para se poderem vir a impôr mais cedo ou mais tarde.»

As primeiras impressões do Bolatti e do Stepanov não foram boas, mas o mesmo aconteceu com o Bruno Alves e o Tarik.

Relativamente ao Leandro Lima, as minhas dúvidas são outras, ao nível do carácter do jogador.

miguel87 disse...

"O Quaresma foi sempre um entrave ao 4x4x2?

Trata-se de um jogador especial. Quaresma possui características únicas, mas é um facto de que a equipa teve muitas vezes de se adaptar às suas características."
Carlos Azenha in O Jogo 23/05/2008

Quando a equipa está refém de um jogador inconstante, individualista e indisciplinado, estamos muito mal. Exemplos não faltam e basta olhar para o último jogo da epoca.