terça-feira, 20 de maio de 2008

A guerra "coxa"

Começo por confessar que sou um apaixonado por "estratégia" em geral, e em particular por estratégia militar (apesar de não ser "militarista"). E uma coisa que aprendi ao estudar a História dos grandes conflitos é que as guerras não se ganham apostando apenas numa frente (ou, mais correctamente, numa "valência").

Por exemplo: sem fortes batalhões mecanizados (os tanques), a Alemanha Nazi não teria conquistado meia Europa; mas sem a Luftwaffe (força aérea) isso também não teria sido possível. Idem para os EUA na guerra do Pacífico na II Guerra Mundial (onde a vitória só foi possível com uma combinação de uma forte Marinha e de uma forte Força Aérea). Dando outro exemplo recuando vários séculos: se os arqueiros foram a grande vantagem competitiva dos ingleses na batalha dos 100 anos, sem uma infantaria ou cavalaria também não teriam ido longe. E assim por diante.

Pois muito bem, como o meu confrade Mário Faria bem relembrou, estamos (FCP) em guerra. É uma guerra que nos foi declarada por ressabiados e invejosos, mas uma guerra a que não podemos fugir. A meu ver, da mesma forma que uma guerra convencional assenta no poderio do Exército, da Marinha e da Força Aérea, também esta guerra se disputa em três frentes:

1) No terreno de jogo.

Nós, portistas, nunca nos esquecemos que essa é de longe a frente de guerra mais importante, algo que provavelmente distingue os portistas da maior parte dos adeptos de outras côres - e isso é algo que se torna para nós numa vantagem competitiva, enquanto outros se esquecem disso. Pior para eles. Pois bem, nesta frente estamos, comparativamente falando, muito bem servidos. É por isso que somos os principais candidatos à vitória no próximo campeonato, por muito que se 'apite'.

2) Nas instituições

Sendo uma frente de guerra menos relevante, não deixa de ser verdade que é uma frente de guerra com a sua importância. É a Liga que controla as nomeações dos árbitros, que fiscaliza (ou não...) os clubes, que controla os castigos. Ora eu acho que nesta frente temos estado mal. Não que eu ache que o FCP deve tentar colocar "compinchas" nos orgãos da Liga, longe disso: mas seria de esperar que ao menos evitássemos (ou tentássemos evitar) que os nossos inimigos lá colocassem os compinchas deles.

Ora desde que o FCP se alheou completamente das eleições da Liga (de livre vontade) que apanhámos (só para dar um exemplo) com os CD de Liga mais anti-portistas de que há memória. Desde o CD anterior com os seus sumaríssimos pisca-pisca a la carte ao CD da Liga actual que o FCP está debaixo de fogo cerrado. Custa-me a acreditar que, em conjunto com outros clubes, o FCP não pudesse ter vetado um benfiquista fundamentalista como Ricardo Costa...

Resumindo: se penso que devemos evitar ser conotados com um domínio do "sistema", acho também que não era preciso ir tão longe ao ponto de deixar os nossos inimigos lá colocar quem muito bem entendem.

3) Na praça pública

Digo na praça pública não pensando apenas na batalha pelas almas e corações, mas também de forma muito prática 1) no condicionalismo da agenda de discussão pública e 2) na coacção efectuada sobre os árbitros. Basta observar os media após a final da Taça para verificar que, de um ponto de vista de arbitragem, é como se não se tivesse passado nada. Tivesse o resultado e decisões de arbitragem sido ao contrário, e não se falaria de outra coisa que o Sr. Olegário Malquerença. Isto também é o "Sistema" e condiciona imenso os árbitros, ainda que subconscientemente, naquela fracção de segundo em que têm de apitar sem terem certezas absolutas.

Nesta frente de guerra temos estado muito, muito mal. Os ataques ao FCP e os branqueamentos aos casos com os inimigos são cada vez piores. Li várias vezes que isso era uma "estratégia" deliberada - se é o caso, é nítido que foi um tiro que saiu pela culatra. Contratou-se mesmo há um ano um profissional muito bem pago para liderar o Dept de Comunicação, mas neste aspecto não se vê qualquer melhoria (pelo contrário).

Da forma que as coisas estão, não se admirem que em breve 100,0% dos casos duvidosos sejam assinalados contra o FCP (já não anda longe disso), mesmo por árbitros com toda a boa vontade de serem imparciais e com um perfil psicológico forte. Não admira, já que são imolados na praça pública com a conivência silenciosa da nossa SAD quando erram a nosso favor, e são totalmente ignorados (para não dizer idolatrados) quando beneficiam os inimigos ou erram contra nós - também com a conivência silenciosa da nossa SAD.

Se é verdade que os "Apitos" (e a propósito, vidé 2. Instituições) já de si condicionam muito os árbitros, o efeito é exarcebado ao alhearmo-nos desta frente de guerra. É dar trunfos de borla ao inimigo - escusadamente.

Como um portista preocupado com esta inacção, peço à SAD: não entreguem esta frente de guerra aos lobos! Falem, intervenham, mexam-se! Não de uma forma ridícula como um LFV, mas falem!

9 comentários:

José Fragoso disse...

Concordo em absoluto com o José Rodrigues e, já agora, acrescento: os tais 70 deputados portistas da AR que comecem a fazer sentir o nosso profundo desagrado em relação às sucessivas canalhices de que somos alvo nos bastidores das influências. Estão em sítio privilegiado para isso.

Zé Luís disse...

Muito bem posta a questão nas suas vertentes.
Se é verdade que no campo desportivo o plantel tem sido melhorado e dá a resposta no relvado, já na Liga houve um distanciamento prematuro que cavou uma diferença em que somos batidos largamente aos pontos.
Na questão comunicacional, concordo também e já notei que o reforço do sector não trouxe melhorias.
O FC Porto tem vozes na Comunicação Social que falam por si, individualmente, defendendo a honra portista. Mas está claro que predomina na CS, especialmente na TV e Imprensa, um lóbi extenso e influente que perfilha a cultura do sistema lisbonense e expõe coisas inacreditáveis como se fossem verdades absolutas.
Mas esta questão a SAD sempre tratou mal, até ostracizou muitos profissionais de comunicação portistas de forma vil - e sei do que estou a falar. Há muitos exemplos, inclusive, da perda de importância desses mesmos profissionais nos diversos OCS, porque não foram de alguma forma apoiados, incentivados e especialmente reconhecidos pela SAD que se fechou num autismo incompreensível, confiante que só no relvado se faria a diferença, de que é exemplo a contratação de um profissional da CS há um ano mas sem que se tenha notado qualquer benefício para a exposição institucional da SAD e defendendo a imagem da equipa e do clube.
Parabéns pela análise.

miguel87 disse...

"Contratou-se mesmo há um ano um profissional muito bem pago para liderar o Dept de Comunicação, mas neste aspecto não se vê qualquer melhoria (pelo contrário)." Não tivesse aparecido nas imagens da final da taça este ex-jornalista da RTP e eu já nem me lembrava que tinha sido contratado...É que não se viram mesmo resultados nenhuns! Estranho no minimo.

miguel87 disse...

Mas ainda sobre o jogo:
Perdemos porque os nossos jogadores não foram melhores. Melhores que o Sporting, melhores que os erros do arbitro, melhores que a visão limitada de um treinador medroso e incapaz. Porque J.Paulo (apesar de um excelente central) não foi nem lateral nem central desequilibrando a equipa, porque Lucho não podia com um gato pelo rabo e jogou parado, porque Quaresma não se convence que está numa equipa com mais 10 jogadores, porque Mariano, por muito que se esforce e mostre serviço, só joga até o treinador achar por bem, porque Lisandro na única bola que recebeu não matou, porque a vontade e raça de Meireles não valem por 11, porque Emanuel é um fraco central que, apesar de toda a experiencia, não conseguiu antecipar-se ao Tíuíuí no lance do golo...enfim, porque não. Como sempre ouvi dizer: desculpas não se pedem, evitam-se. E o Porto, neste jogo, como em muitos outros decisivos nestas 2 últimas épocas, não evitou uma série delas.

Jorge Aragão disse...

Excelente post a colocar o dedo nas principais feridas, sobretudo na questão da comunicação.
Muito bom comentário do Zé Luís, já habitual.
Discordância em relação ao Miguel87 pois Pedro Emanuel é um grande central, não temos lá melhor no banco.Teve azar, e depois??? E é influente no jogo e balneário.
Estes aspectos devem ser bem revistos para o ano, afinar estratégias pois iremos ter uma nova época terrivel com ataques de todo o lado.

zé r. disse...

Concordo totalmente com o teor do post, mas há mais 2 ou 3 notas relacionadas com estas querões que julgo serem importantes.
A primeira tem a ver não tanto com a comunicação mas com o marketing do FCP, que pouco ou nada se vê. os outros criam mitos sobre si próprios e repetem-nos até à exaustão até eles se tornarem verdade. É a história dos 6 milhões e do maior clube do mundo, é a história do clube diferente e cheio de fair play... tretas que acabam por se tornar mitos urbanos. Nós somos conotados com gangs de gunas e 'puti-clubes'. Temos rapidamente que mudar esta imagem que a comunicação social e as alternadeiras ressabiadas têm vindo a passar.
O que me leva ao outro ponto: temos dado demasiado o flanco para que estas coisas se digam e repitam. A vida pessoal do presidente não deveria interferir com a vida do clube, mas o facto é que interfere e que o tem prejudicado enormemente, quer quanto á tal questão da imagem de que falava acima, quer quanto ao resto - sem a alternadeira e outros amigos duvidosos (começando pelo mítico Araújo) não havia apito nenhum. Podem-me dizer que os lamps e os lags também têm araújos, macacos e carolinas: pois têm, mas ninguém fala deles, enquanto conosco os jornais e a procuradora justiceira só não pegam se não puderem.
Concluindo, que isto já vai longo: temos claramente um problema de imagem que nos impede de crescer ainda mais, e parece-me que não temos feito tudo para o resolver.
Saudações portistas

dragao vila pouca disse...

Meus caros ao ler noutro blog o vosso artigo sobre a vergonhosa arbitragem de Olegário Benquerença -estive no estádio e lá não se tem a perspectiva correcta de tudo-, embora não goste de me desculpar, principalmente, quando a exibição deixa a desejar, com o trabalho do "Juíz"não posso calar a minha revolta pela arbitragem desse senhor - há quem diga senhora- e pela forma como a C.Social tratou do assunto.Se fosse ao contrário os chorões do Sporting choravam até ao fim da próxima época.Sobre este assunto da C.Social não temos muita sorte com quem nos representa salvo a excepção que é o Manuel Serrão, infelizmente numa televisão com pouca audiência.Os outros um por uma razão o outro por outra, estão mais preocupados com os seus interesses pessoais, do que a defesa do F.C.Porto.Como você bem disse estamos em Guerra aberta e declarada, ao Record, C.da Manhã, juntou-se vergonhosamente ABOLA, com miseráveis ataques ao clube e aos seus dirigentes. Eu enquanto portista que haje apenas por amor e paixão ao F.C.Porto, nunca me calarei e nunca me cansarei, dentro das minhas possibilidades, de defender o clube e as pessoas que o dirigem.
Por isso digo-o sinceramente que fazer uma dondagem nesta altura, sobre o que devia acontecer se o Presidente não for ilibado pelo C.Justiça, para mim não faz sentido.Para mim P.Costa tem de sair e vai sair pela porta Grande.
Um abraço
dragaodoente.blogspot.com

José Rodrigues disse...

Obrigado pelos comentários, q só vêm enriquecer e complementar o texto com algumas excelentes observações.

Aproveito para expandir num ponto em particular em que concordo com o Zé r. e com o Zé Luís: não o deixei explícito no texto, mas quando falava na "Frente de guerra da praça pública" tinha também em mente certos aspectos q se podem considerar de "Marketing", não apenas de "Comunicação" (daí q tenha terminado com um pedido retórico de q não só "falem", mas tb "intervenham"...).

Tanto um como o outro leitor afloraram alguns aspectos em q podemos intervir. Uma coisa q eu gostava de lembrar é q por vezes esquecemo-nos do peso q realmente temos, q é bem considerável. "peso" na medida em q os portistas são uns bons 25-30% da população, e como tal 25-30% dos consumidores.

O q fazer com estes dados? Pois bem, eu acho q a SAD podia e deviar, por ex, colocar umas estações de TV contra outras, uns jornais contra outros; através de black-outs a uns enquanto abre as portas em operações de charme a outros, através de apelos a boicotes aos piores (bem sei q alguns dizem q são "todos iguais" mas não é verdade, para além de q essa atitude é auto-derrotista).

José Correia disse...

Eu sempre fui contra o silêncio a que a SAD se remeteu quando o Apito Dourado estourou, em Dezembro de 2004.

Hoje, em Maio de 2008, já poucos portistas têm dúvidas de que foi uma péssima estratégia, a qual contribuiu para a nossa condenação na praça pública e tem também contribuido para o forte condicionamento dos árbitros dentro das 4 linhas.

É verdade que a comunicação social está ao serviço dos clubes de Lisboa, mas o nosso silêncio agravou este factor.