sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O teste do algodão

No início desta época, presidente e treinador do slb enchiam o peito (e parangonas nos jornais) com afirmações bombásticas. Ele era os objectivos mais altos de sempre, o contrato que previa a conquista da Champions, a definição dos quartos-de-final como meta mínima, etc. E um sorteio extremamente favorável até parecia que ia ajudar a concretizar tamanhas ambições. De facto, um grupo sem "tubarões", com um Schalke 04 irreconhecível, a vegetar durante N jornadas na zona de despromoção da Bundesliga, e um Lyon a anos-luz da equipa que dominou o Championnat durante sete anos (entre 2001/02 e 2007/08), faziam prever um passeio encarnado pela fase de grupos da Liga dos milhões. Mas a realidade foi bem diferente e até um estreante Hapoel se revelou um obstáculo inultrapassável.

Disputar a competição de clubes mais importante do Mundo é uma ambição natural para muitos dos clubes europeus, mas é também o teste do algodão para jogadores, treinadores e dirigentes.
Nem todos passam neste teste e os sportinguistas perceberam-no, de forma muito dolorosa, nos oitavos-de-final da época 2008/09, quando o Bayern esmagou o Sporting de Paulo Bento nos dois jogos, atingindo um acumulado de 12-1 (!).
Do outro lado da 2ª circular, Leonor Pinhão não precisou de assistir à goleada em Telavive. Percebeu-o há duas semanas atrás, a seguir aos 5-0 no Dragão, tendo avisado os benfiquistas na sua crónica de A Bola de 11 de Novembro, “Quanto à Liga dos Campeões, esqueça-se já. Concentremo-nos na Liga Europa onde tudo pode sempre acontecer.”.

A Liga dos Campeões não é uma prova qualquer. É para clubes com dirigentes capazes, treinadores competentes e jogadores com estofo. Exige experiência e qualidade. Foi isso que o FC Porto de Jesualdo demonstrou nas últimas quatro épocas onde, sem fanfarronices, atingiu por três vezes os oitavos e uma vez os quartos-de-final. E fê-lo reconstruindo a equipa azul-e-branca todas as épocas, após a saída de jogadores de categoria indiscutível e com peso na equipa/balneário – Vítor Baía, Anderson, Pepe, Bosingwa, Paulo Assunção, Quaresma, Pedro Emanuel, Lucho, Cissokho e Lisandro. Para o mal amado professor Jesualdo, nunca serviram explicações condescendentes do género “Ramires e Di Maria” e muito menos ele recorreu a desculpas esfarrapadas do tipo “os jogadores chegaram tarde do mundial/europeu”.

Ao assistir às declarações que Jesus fez na Terra Santa, em que justificou os 0-3 com a sorte e explicações quase metafísicas, lembrei-me do professor Jesualdo e das conversas que mantive com amigos portistas acerca da sua seriedade e competência. Compreendo o desagrado de muitos portistas em relação ao futebol que a equipa praticava durante o consulado de Jesualdo, mas o tempo e o distanciamento fazem-nos olhar para os factos de outra maneira. Estou certo que é o que irá acontecer daqui a uns anos, em que irá ser feita justiça relativamente ao trabalho efectuado por Jesualdo Ferreira no comando técnico do FC Porto, em condições por vezes muito difíceis.
E perante aquilo que foi o desempenho do actual campeão português na LC 2010/11, reafirmo aquilo que disse aquando da sua saída: obrigado professor!


P.S.1: Para que não fiquem dúvidas, sou da opinião que não havia condições no universo portista para Jesualdo ter continuado no FC Porto após o final da época passada e estou muito satisfeito com o desempenho do FC Porto de André Villas-Boas.

P.S.2: «Os contratos prendem as carcaças dos jogadores aos clubes, mas não há cláusulas que lhes engaiolem os espíritos. Esses, já dizia o grande poeta e humanista Ernâni Lopes, só com carcanhol. Ao ritmo dos títulos e das primeiras chamadas à selecção, sopram-lhes lá de fora salários descomunais, ou quando não sopram os salários, bufa a Imprensa um compêndio de Chelseas e Reais Madrids. E quando não sopram os salários nem bufa a Imprensa, telefona o Di María: "Mi hermanito, hoy tive de alugar una Hiace para trazer do banco aquela plata toda, que desgracia, pobrecito de mi." (…) Nenhum clube que se considere o maior do mundo pode formular um raciocínio que sugira a existência de outros melhores ainda. Não deixou sair quem desesperava por isso, nem lhes comprou a permanência.»
José Manuel Ribeiro, O Jogo, 25/11/2010

8 comentários:

João Machado disse...

Tudo dito!

José Correia disse...

«Pela primeira vez em oito anos pode não haver representantes nacionais nos oitavos-de-final da Champions: pelo menos desde 2003-04 que Portugal tinha sempre pelo menos uma equipa nesta fase.
O FC Porto domina o historial, só tendo falhado os oitavos-de-final da Liga dos Campeões uma vez nestes sete anos. Benfica (2005-06) e Sporting (2008-09) chegaram lá uma vez, desde que, em 2002-03, a prova passou a ter o actual formato composto por uma fase de grupos seguida de eliminatórias.»
in PUBLICO.pt

Zé Luís disse...

Concordo em absoluto, porque sempre defendi essa perspectiva, José Correia. Seria redundante, porque sempre a reconheci, elogiar-te a lucicdez e oportunidade desta mensagem.

Também li a opinião do José Ribeiro e em particular a sua certeira observação no período final, de resto um dos melhores cronistas da geralmente ignara Imprensa destrutiva.

eumargotdasilva disse...

100% de acordo!
Ainda ontem ao ouvir as análises no "pontapé de saída" pensava isso exactamente: - que grande clube é o nosso! As nossas "crises" são rapidamente resolvidas: de dentro para fora. - E que pinta teve o Jesualdo a aguentar o que aguentou; os benfas como sempre ainda estão todos a alimentar-se na teoria das conspirações, e só meia dúzia contesta, mas no dragão a massa assobiativa foi implacável e só alguém com um trabalho muito sério e com bastante coragem aguentava aquele pesadelo...

Pedro disse...

" Para o mal amado professor Jesualdo, nunca serviram explicações condescendentes do género “Ramires e Di Maria” e muito menos ele recorreu a desculpas esfarrapadas do tipo “os jogadores chegaram tarde do mundial/europeu”. " tudo dito.

a leonor pinhão disse isso mas não acredito q ela tivesse 'a espera q o benfica fosse ja' derrotado com o hapoel ahahah

Jorge disse...

Nao podemos esquecer que o Jesualdo ainda teve que lidar com a fase mais intensa do "apito dourado."

Lino S. Babo disse...

Em primeiro lugar saúdo a todos da “reflexão portista” e que me seja permitido intervir pela primeira vez nos comentários, onde espero acompanhar o nível moderadamente apaixonado (não me vai ser fácil) de um Portismo lúcido e civilizado, que me pareceu ser o esteio do “blog” e dos seus visitantes.
Por mais que os “papoilas saltitantes” nas suas várias vertentes publicitárias, e nos discurssos inflamados e utópicos dos seus dirigentes, promovam a miragem de uma grandeza ressuscitada nos grandes palcos do futebol Europeu e mundial, a realidade é que nada do que apregoam se realiza, e muito provavelmente ira se realizar a breve prazo.
O recente exemplo de reter todo o plantel no aeroporto de Telavive durante quatro longas horas e aplacar com hambúrgueres a fome dos atletas e restante comitiva atesta bem o grau de competência da sua estrutura administrativa quando planeou essa deslocação. Enquanto não compreenderem que os apitos, as frutas, os magistrados de togas vermelhas e as manchetes gongóricas nos jornais desportivos, não os livram dessas e de outras derrotas mais ou menos humilhantes, não poderão nunca pisar os exigentes palcos das grandes provas do futebol Europeu.

Pueeertô! disse...

Num serviço informativo da TV aqui em espanha passaram o resumo dos jogos da champions sob o título: "noche sin sorpresas". ;)