quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Projecto Roquette...


«Uma auditoria externa à gestão financeira do Sporting dos últimos 12 anos confirmou a situação de “falência técnica” do Grupo Sporting, que apresenta capitais próprios negativos de 183 milhões de euros e um passivo que ultrapassará os 300 milhões, se bem que este último número não foi oficialmente confirmado pelo sumário do relatório dos revisores de contas ontem revelado pelo clube. A situação é grave, mas não é nova, e poderá servir para desbravar caminho para uma proposta que leve à abertura da maioria do capital da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) leonina a investidores privados.
A grande novidade desta auditoria não será tanto a situação de “falência técnica”, que já fora confirmada ao PÚBLICO em Maio de 2009, pelo então presidente Filipe Soares Franco, mas o valor preocupante dos capitais próprios negativos (diferença entre activo e passivo) do grupo leonino. Só como ponto de comparação, segundo o presente relatório, em 1999, este valor era de 11,7 milhões de euros positivos. Algo que os oficiais de contas explicam com evidências de “uma estrutura financeira desequilibrada usualmente denominada como falência técnica em termos consolidados”.
O relatório, que analisou a evolução da situação patrimonial do grupo Sporting entre 1 de Agosto de 1998 e 26 de Março de 2011, demonstra um acréscimo de 217 milhões de euros das dívidas de financiamento (a uma média de cerca de 20 milhões por ano). Por outro lado, o endividamento bancário cresceu “com valores mais expressivos, sobretudo, a partir de 2001” (ano em que arrancaram as obras no novo Estádio José Alvalade e do Complexo Alvalade XXI), e atingiu um valor máximo de 277 milhões de euros em 2006. Este montante “foi praticamente retomado em 2011”, após a emissão de 55 milhões de obrigações cenvertíveis em acções (VMOC), que se vencem em 2016. “Nesta data, o Grupo Sporting terá de equacionar a sua posição de controlo sobre a SAD”, lembram os auditores, advertindo que o património imobiliário se encontra “hipotecado, servindo de garantia aos empréstimos contratados”.»
in publico.pt


A auditoria revelou um deficit crónico de tesouraria acumulado de 214 milhões de euros em 11 anos, ou seja, quase 20 milhões de euros por ano!

E o que dizem os especialistas da nossa praça?

Nicolau Santos, sub-diretor do Expresso, comentador para assuntos económicos da Antena 1 e membro do Conselho Leonino, considera que a construção do novo estádio e da Academia de Alcochete são as principais razões que levaram a esta derrapagem nas finanças de Alvalade.

João Duque, professor catedrático, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão e também conselheiro leonino afirma que os problemas resolvem-se atacando a questão económica e financeira do clube e que é simples: como se promovem mais receitas? Contornando as despesas e diminuindo o passivo.

Fantástico! Com "especialistas" destes e (des)governados por viscondes e calimeros, os sportinguistas podem estar descansados, que o futuro será radiante...
Não haverá um russo ou um árabe interessado?

Foto: Capa de A Bola de 02/02/2012

3 comentários:

Fernando Sá disse...

Caro José Correia:

O futuro será "negro" para TODOS. O desgoverno a que estão votados os clubes portugueses a isso vai conduzir...
Não tenho ideia que a SAD do FC Porto esteja em melhor situação.
Como mais balão, menos balão de oxigénio, os clubes portugueses caminham alegremente para aquilo que se pode chamar - "Os dias do fim!"...deste regabofe despesista!

Mário Faria disse...

O SCP há muito que procura um investidor. Este era o sinal que carecia para pôr em andamento o projecto que esteve sempre nas cabecinhas de Godinho & Cia. As diligências já feitas em países árabes comprovam-no.

Que atracção pode ter este pobre campeonato e este medíocre mercado, num país sem poder de compra e em recessão acelerada ?

Provavelmente os actuais dirigentes leoninos deixaram-se influenciar por essa espécie de guru em que se transformou Futre, e acreditam que vão dar à costa dezenas de interessados no SCP para investir os benefícios de quem extrai e comercializa o ouro negro, à espera de os multiplicar na mesma percentagem que os portugueses pagam de juros para saldar a dívida soberana.

Era bom que no futebol nos preparássemos para “empobrecer”, sem cair na miséria ou na falência. Rejeitando o discurso do “desgraçadinho” ou da austeridade como o único remédio que nos possa curar, temos que pensar em emagrecer e, se tivermos de arranjar um investidor, nem vejo malefício nisso, desde que fiquem devidamente salvaguardado os direitos das partes, e não sirva como uma operação de contornos ou fins duvidosos.

É preciso mexer com urgência nos salários. De todos. Os sócios e adeptos têm de aprender a conviver com vitórias mais modestas. Os jogadores têm de reconhecer que vivem muito acima do que os clubes podem pagar, e que o mercado que agora os sobrevaloriza será impiedoso quando a bancarrota chegar ao futebol, o que não deve tardar por essa Europa fora, se continuarmos a seguir pelo mesmo trilho. Se nem uns nem outros aprenderem, lá se vai a galinha dos ovos de ouro.

Alexandre Burmester disse...

O Mário disse tudo: o futebol português vive muito acima das suas posses - há muito tempo, acrescento.

Como explicar a decadência de, por exemplo, os clubes holandeses no contexto europeu? Pelo simples facto de que, a partir da liberalização da contratação de jogadores comunitários, acharam que mais valia viver dentro das suas posses.

A falência técnica do Sporting não é nenhuma novidade para quem tem estado atento aos últimos R&Cs do clube (e não só desse clube - o famoso artigo 30, se não estou em erro no número), pelo que concordo com o Mário que este anúncio tem essencialmente propósitos justificativos do que poderá seguir-se.

Finalmente: não sou sportinguista (obviamente!), mas como pôde uma administração a quem decerto não escapava a situação financeira da SAD comprar esta época 19(!) jogadores?