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Quando contou num livro algumas das histórias da sua passagem dourada pelo FC Porto, José Mourinho declinou de uma forma ainda mais rica a regra de que é errado tratar os filhos todos da mesma maneira.
Conta Mourinho, que chamou Sicrano para uma conversa a dois, antes de o lançar pela primeira vez na equipa, e lhe explicou que não tinha de estar nervoso com a estreia. Mesmo que o jogo lhe corresse mal, era garantido que seria titular no fim-de-semana seguinte.
Já quando se tratou de anunciar a titularidade a Beltrano, o treinador avisou-o de que a estreia era uma oportunidade única. Se ele a desperdiçasse, bem podia pensar em ir tratar de vida, porque no Porto não teria futuro.
Mourinho é bem sucedido porque percebe como funciona a cabeça das pessoas que lidera e é capaz de adaptar a mensagem ao destinatário. Sabia que Sicrano reagia mal à pressão, por isso pô-lo à vontade. Sabia que Beltrano só conseguia elevadas performances sob pressão, por isso tratou de o pôr em tensão.
Os aspectos mais importantes e dramáticos da vida estão condensados num jogo de futebol, que é um compêndio onde se pode aprender a desembrulhar-nos neste mundo em acelerado mudança, em que as dez profissões mais procuradas em 2010 não existiam há seis anos. Pode aprender-se mais com um jogo de futebol do que numa aula de MBA.
Ao longo dos 90 minutos, um avançado raramente tem a bola mais de três minutos, durante os quais tem de decidir num segundo qual a melhor opção - driblar, passar ou rematar.
A rapidez na decisão é fundamental para sobreviver e prosperar num mundo em que se prevê que os actuais estudantes terão dez a 14 empregos diferentes antes de fazerem 38 anos.
Um bom médio não é o que falha menos passes (porque mal recebe a bola faz logo um passe curto, de pouco risco) mas aquele que cria situações de golo ao arriscar passes de ruptura.
Com o céu carregado de nuvens, a única coisa de que devemos temer é de ter medo de decidir, de falhar, e de arriscar. Não é a jogar para o lado que se ganham jogos. Só marca quem chuta à baliza – e não tem medo que o remate saia torto. O mundo não está para cobardes.»
1 comentário:
interessante e directo. sou dos que acredita que a psicologia é mais importante em futebol do que alguns treinos tácticos, dependendo um pouco do adversário que se vai defrontar. com equipas medianas, a táctica prevalece, mas com os extremos é mais importante focar nos problemas psicológicos: com as grandes para desmistificar e tirar o medo; com as pequenas para motivar e afastar a complacência. carago, já saía um post sobre isto...
abraço,
Jorge (Porta19)
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