domingo, 1 de novembro de 2009

Modelos e expectativas


A propósito da saída do Lucho e do Lisandro, publiquei um artigo no dia 8 de Julho com o título ‘A melhor dupla de tango argentino’, em que escrevi o seguinte:

«Por melhor que sejam as adaptações dos novos jogadores, nem daqui a um ano vai ser fácil atingir o nível de entendimento que existia na dupla Lucho-Lisandro, os quais já jogavam de olhos fechados, qual maravilhoso par argentino a deslizar sobre tapetes verdes dançando o tango.
Inclusivamente, não sei se Jesualdo não terá de rever o seu 4-3-3 baseado em transições rápidas, visto que Lucho e Lisandro eram interpretes fundamentais para este modelo de jogo.»

Dois dias depois, a 10 de Julho, publiquei um outro artigo sobre o novo camisola 8 do FC Porto e anunciado sucessor de Lucho, em que escrevi:

«Sinceramente, não estou à espera que o Belluschi atinja o nível do Lucho. Por alguma razão o Marselha preferiu gastar 18 milhões num jogador de 28 anos, em vez de “apenas” 5 milhões num de 25 anos.»

No início do campeonato, a 22 de Agosto, publiquei um artigo premonitório a que chamei ‘Uma equação de resolução complicada’ e, em termos daquilo que eu já na altura entendia serem os principais problemas, está lá tudo:
1) a saída da melhor dupla argentina que passou pelo futebol português
2) o substituto do Lucho e o modelo de jogo
3) as revoluções sucessivas no plantel
4) a difícil integração dos jogadores sul-americanos
5) as implicações dos jogos e viagens das Selecções

A tudo isto, que escrevi há meses atrás, acrescentei mais alguns aspectos no artigo ‘O cabo das tormentas’, que publiquei nesta semana, nomeadamente a vaga de lesões que assolou o plantel.

Todos estes argumentos servem para desculpabilizar as más exibições (piores que os resultados) que a equipa tem tido neste início de época?
Não, mas servem para enquadrar e para ajudar a explicar algo que a todos os portistas custa a aceitar: provavelmente, esta época o grupo de trabalho (este treinador + este plantel) não reúne as condições necessárias para que o FC Porto renove o seu título de Tetra-campeão.
E não é por causa da euforia encarnada que o digo porque, de forma reiterada, já tinha chamado à atenção para os problemas no arranque da época e no início do campeonato.

Muitos portistas, incluindo vários dos meus amigos, não têm dúvidas: Jesualdo Ferreira é o principal, senão único, responsável por tudo o que de mau a equipa tem feito nesta época.
Mais. Há quem vá ao ponto de dizer que o sucesso alcançado por Jesualdo nas três últimas épocas não foi mérito dele, mas sim dos grandes jogadores que integravam o plantel.
Mas então Bruno Alves, Meireles, Rodriguez, Hulk, Belluschi, Falcao, entre outros de menor nomeada, não são craques a sério, pagos a peso de ouro e com mercado (leia-se clubes interessados)?
Um orçamento superior a 80 milhões de euros, o mais elevado de sempre do futebol português, não pressupõe que o plantel seja composto por grandes jogadores, ou será que a SAD comprou “gato por lebre”?

Tal como fiz noutras alturas, não tenho dúvidas em afirmar que o principal responsável pelo comportamento da equipa é o treinador mas, dizer-se que o mérito dos sucessos foi sempre dos jogadores e a culpa dos fracassos é unicamente do treinador, parece-me um contra-senso insanável, a não ser que entendamos que o Jesualdo desaprendeu e está a ficar senil.


E os jogadores, são apenas vitimas do “tenebroso” modelo de jogo do Jesualdo?
Se assim é, porque razão Meireles, Rodriguez e Hulk estão esta época a jogar muito pior e a ter menos influência na equipa do que tinham na época passada? O modelo de jogo não é o mesmo?
E o que se passa com Falcao que, aparentemente, nos primeiros jogos se deu às mil maravilhas com o modelo de jogo da equipa (ao ponto de Pinto da Costa ter agradecido aos olheiros do SLB...) e nos últimos três – APOEL, Académica e Belenenses – esteve absolutamente desastrado, falhando golos fáceis com a baliza escancarada?

O treinador, reafirmo, é o responsável número um e, concerteza, que terá muitas culpas, nomeadamente por não ter sabido adaptar o sistema/modelo de jogo da equipa à fase pós-Lucho. Mas, nesta altura da época, não seria de esperar mais de vedetas principescamente pagas como Meireles, Hulk, Rodriguez, Falcao ou Belluschi?

11 comentários:

Orgulhoazulebranco disse...

só um aparte que não interessa para nada:essa táctica é excelente...mas é um 4-4-3 x)

Vá,agora a sério.Esses 5 pontos estão a influenciar bastante a perfomance da equipa,é inegável.Não é a desculpa para tudo,mas não podemos dizer que não condiciona...e nesses 5 pontos nem está incluído o das sucessivas lesões que afectam a equipa.

Às vezes dá-me a sensação que os adeptos portistas sofrem de uma mania irritante: desvalorizar o que foi bem feito no passado,por culpa de uma má fase no presente.
Em Maio,quase todos se rendiam a Jesualdo,davam-lhe o mérito.Agora "ah,ele só ganhou porque os outros eram fraquinhos".

Enfim...ele tira-me do sério muitas vezes,mas nem ele está a ficar senil,nem Hulk,Meireles,Fernando,Falcao ou Cebola estão a desaprender e a andar para trás,mas,se estivessem a render o que nós habituaram,provavelmente não estaríamos nesta situação,claro.

Apesar de tudo,eu acredito que o Porto pode perfeitamente fazer uma boa época.Não é esta fase complicada nem nenhum desses 5 pontos que me demovem dessa ideia.

Vai ser muito complicado,sem dúvida,mas,à medida que os diversos entraves forem caíndo,e a equipa for crescendo,poderemos ficar mais optimistas.

Claro que tudo deve começar na atitude da equipa.Na(s) segunda(s) parte(s) não lhes faltou,mas é preciso tê-la desde o minuto 1,e não desde o 45.

Cumps.

Nelson Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nelson Carvalho disse...

Jesualdo Ferreira nunca caíu nas boas graças da generalidade da massa adepta do FCP. A maioria acha que o seu ADN está formatado e vocacionado para conceitos e modelos de jogo defensivos, e mais preocupado em anular as mais valias do adversário. Os títulos, e os bons finais de temporada, têm conseguido fazer com que os adeptos "tolerem" o treinador ao dos ultimos anos, mas sempre que a equipa faz 2/3 jogos menos conseguidos, a animosidade para com JF vem ao de cima.

Acho que os adeptos do FCP nem sempre foram justos e totalmente gratos com o trabalho que o Jesualdo tem vindo a fazer no clube. Acho que Jesualdo foi responsavel pela valorização de muitos jogadores que passaram pelas suas mãos desde que está no Dragão. Acho ainda que o treinador foi inteligente na forma como pegou na equipa quando chegou ao clube, adaptando um esquema tactico à medida do plantel que tinha na altura.

Contudo, nesta época, após as importantes saídas de Lucho e Lisandro - que eram importantes esteios no modelo de jogo -, Jesualdo manteve-se fiel ao seu 4-3-3, mas não contratou atletas com caracteristicas identicas dos que sairam. Belluschi não é um médio de transição, joga melhor nas costas dos avançados e quando está liberto de missões de cobetura de espaços. Os avançados Falcao e Farias, nunca se deram bem a actuar em "solo" na area. Ambos, ao longo das suas carreiras, tornaram-se rentaveis quando faziam dupla com outro pivô ofensivo. Penso que Jesualdo deveria ter equacionado um plano B. Um novo modelo de jogo. Surpreende-me que, com 9 jornadas do campeoanto decorridas, ainda não tenha retirado essa ilação.

c. silva disse...

"...é o responsável número ... por não ter sabido adaptar o sistema/modelo de jogo da equipa à fase pós-Lucho"
Calma que isto ainda mal começou ... Conclusões tiram-se lá para Março - Abril.
Eu acredito que ele percebe mais de futebol que todos nós!

Nuno Nunes disse...

Mais. Há quem vá ao ponto de dizer que o sucesso alcançado por Jesualdo nas três últimas épocas não foi mérito dele, mas sim dos grandes jogadores que integravam o plantel.

O sucesso do modelo de Jesualdo esteve fortemente relacionado com (i) a capacidade dos artistas para o interpretarem em campo e (ii) o efeito-surpresa de um FC Porto que jogava de forma diferente, aparentemente frágil mas pronto a desferir 2 ou 3 golpes fatais em contra-ataque.
Portanto, a presença do Lucho e do Lisandro eram uma garantia ao funcionamento deste modelo de jogo dado que são 2 jogadores cerebrais.

Tal como fiz noutras alturas, não tenho dúvidas em afirmar que o principal responsável pelo comportamento da equipa é o treinador mas, dizer-se que o mérito dos sucessos foi sempre dos jogadores e a culpa dos fracassos é unicamente do treinador, parece-me um contra-senso insanável, a não ser que entendamos que o Jesualdo desaprendeu e está a ficar senil.

Obviamente que os sucessos foram obra do Jesualdo e dos jogadores assim como os fracassos. O que está em causa é algo ligeiramente diferente: o treinador tem de ter a capacidade para adaptar o seu modelo de jogo à matéria-prima de que dispõe. Será que o Jesualdo reflectiu sobre se conseguiria manter o seu modelo "oleado" e a funcionar com as saídas e entradas operadas no plantel? Parece que não.
É claro que o Hulk, o Meireles e o Rodriguez continuam a ser muito bem pagos mas é notório a olho nu que andam perdidos em campo e não conseguem assumir o seu papel, aquilo que o treinador pretende deles porque falta uma parte muito importante na equipa: o tango argentino como muito bem referiste.

Já se viu que o Jesualdo é avesso à introdução de pressing e controlo de bola na forma de jogar do FC Porto. É essa teimosia que lhe retira a possibilidade de evoluir como treinador e, em consequencia, da equipa do FC Porto evoluir também. O Co Adriaanse também era homem de ideias muito fixas. Os grandes treinadores são aqueles que estão em constante aprendizagem, não os que julgam que já sabem tudo.

José Correia disse...

Nuno Nunes disse:
«o treinador tem de ter a capacidade para adaptar o seu modelo de jogo à matéria-prima de que dispõe»

De acordo. Aliás, referi este aspecto há meses atrás, a propósito da saída do Lucho e mal para mim ficou claro que o Belluschi nunca seria um Lucho-2.

Contudo, qualquer que fosse o sistema/modelo/táctica, a equipa do FC Porto tinha OBRIGAÇÃO de ter feito muito mais nos jogos em casa com adversários do nível do APOEL, Académica e Belenenses.

Houve, claramente, problemas de atitude dos jogadores em parte significativa destes jogos.

Por isso é que eu digo que os problemas da equipa não se esgotam no modelo de jogo.

Replica disse...

Grande parte das nossas vitórias

deve-se á falta de consistência dos nossos adversários,essa foi uma das razões porque JF singrou
no F.C.P. mas esta época ????
está aí a resposta.

Paulo Marques disse...

esta época o quê, os nossos adversários são galácticos? Pah, correu mal, podia ter corrido bem. É uma equipa que não pressiona, mas tem marcado em falhas do adversário... O Farias corria de defesa em defesa, mas o Lisandro fazia exactamente o mesmo.
Eu acho que não há nada de muito diferente, há sim muito azar em lesões no tempo errado. Continua a não ser o meu tipo de jogo favorito, mas não há grandes razões pelas quais não possa continuar a dar resultados este ano.
De qualquer forma, a menos que seja para trocar de treinador por um de top europeu, deixem-no tar.

Nuno Nunes disse...

Nightwish disse... Eu acho que não há nada de muito diferente, há sim muito azar em lesões no tempo errado. Continua a não ser o meu tipo de jogo favorito, mas não há grandes razões pelas quais não possa continuar a dar resultados este ano.
De qualquer forma, a menos que seja para trocar de treinador por um de top europeu, deixem-no tar.


O motivo para que o modelo não dê resultado este ano é o de que os adversários já o conhecem de há 4 anos e sabem que se jogarem arrumados e sem preocupações atacantes nós ficamos sem soluções.

Apenas trocar Jesualdo por um "treinador de top europeu" até dá vontade de rir. Felizmente há uma nova vaga de treinadores portugueses que põe as equipas a jogar bom futebol. Não me parece que seja muito complicado substituir o Jesualdo por um treinador português que ponha o FC Porto a jogar com a atitude exigível a esta instituição.

nelson barbosa disse...

Parabéns pela lucidez da análise. Gostaria apenas de lembrar que na mesma altura da época passada, tinhamos menos 4 pontos que o benfica este ano temos menos 2, não tinhamos ganho nada, este vencemos a Supertaça, estávamos então em piores condições para obter o apuramento para os oitavos de final da CL, o nível exibicional da equipa não era melhor que o actual. Não é por isso de estranhar que as criticas ao treinador sejam idênticas. Apesar de tudo no final o FCP realizou uma excelente época. Portanto, meus caros amigos, critiquemos, mas acreditemos na competência já amplamente demonstrada com resultados, e não com promessas jesuiticas, do Prof. Jesualdo Ferreira.

Paulo Marques disse...

Nuno, porem a jogar põem, mas ainda são verdes, e não me parece que a sairem agora sejam saídas pacíficas e de sucesso rápido. É muito diferente treinar o Nacional e treinar o FCP.
Ainda ontem ouvi elogios ao Jorge Costa, o tal que só tem uma vitória esta temporada... enfim...
Contextualizar, tá quieto.