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Devo começar por dizer que não tenho posição formada na bizantina questão em torno dos estatutos da Federação Portuguesa de Futebol. Mas muito se tem falado das possíveis consequências para o futebol português em termos da participação dos seus clubes e selecções nas provas internacionais se esses novos estatutos não forem aprovados.
Creio que o problema da FIFA residirá na questão da arbitragem e da disciplina, que segundo os regulamentos daquela organização parece que têm de estar sob a alçada das federações e não das ligas. Mas a discussão deste aspecto tem ofuscado outro, a meu ver bem mais grave à luz daqueles regulamentos. É que a FIFA ameaça de exclusão todo e qualquer país onde as autoridades futebolísticas se submetam à interferência governamental, e é isso, na minha opinião que está a passar-se. Que a arbitragem e a disciplina estejam sob a alçada da FPF por determinação da FIFA é uma coisa; que o estejam por determinação do governo português é outra completamente diferente, tal como o são as disposições dos novos estatutos acerca da composição das assembleias eleitorais da FPF.
Ou seja, ao legislar em matéria respeitante ao modo como o futebol se organiza, o Estado Português não só age, a meu ver, inconstitucionalmente, violando o princípio da liberdade de associação, como coloca a FPF na incómoda posição de se sujeitar aos ditames do poder político. Bem sei que os estatutos não são, aparentemente, de adesão obrigatória, apenas implicando a sua não aplicação a perda do estatuto de Utilidade Pública, mas isso não deixa de ser uma forma de pressão do poder político sobre o associativismo desportivo. Aliás, o Dr. Lourenço Pinto referiu-se a isso no rescaldo da Assembleia Geral de ontem, dizendo mesmo que poderia levantar a questão na UEFA e na FIFA.
Diga-se de passagem que já a recente redução do número de equipas nos campeonatos profissionais partira de iniciativa governamental, mais uma atitude abusiva e ilegítima do poder político, independentemente de ser caricato o governo de qualquer país se preocupar com esse aspecto da organização desportiva.
Finalmente, e noutro aspecto desta questão, a composição das assembleias eleitorais da FPF, com votos para enfermeiros, médicos e ex-dirigentes, entre outros, é do mais ridículo e corporativo que imaginar se possa, ainda para mais num país onde a organização corporativa do Estado foi oficialmente abolida faz no próximo dia 25 de Abril 37 anos.
10 comentários:
Comentário muito lúcido. Infelizmente parece que à semelhança das instâncias Internacionais de Economia (vulgo FMI) estamos condenados a que nos coloquem a pata em cima. O nosso Governo (este) gosta muito de se agachar, faz sempre o papel de lambe botas. Mas para mim o ponto principal não é esse. Nem sequer as percentagens serem 15% para baixo ou 5% para cima. Isso pouco influenciará os órgãos de decisão do poder do nosso futebol como erradamente tem referido todos os comentadeiros televisivos sempre, claro, acintosamente colocando a tónica sobre o nosso Clube.
O ponto é que esta cambada do Instituto de Desporto de Portugal, e alguns fósseis do nosso futebol, tais como o senhor Dias Ferreira, e o senhor Fernando Seara, acolitados pelo senhor Laurentino que, ainda ninguém percebeu o que fez de útil ao futebol em Portugal estes anos todos, quer retirar, sabe-se lá porquê, o poder daqueles que verdadeiramente tem dado o corpo ao manifesto. Os que, quer chova, quer faça sol, substituindo-se à obrigação dos Governos, treinam, dirigem, aperfeiçoam, trabalham enfim para os desportos de que tanto gostam, ou sejam, precisamente os dirigentes, técnicos e atletas dos Clubes. Aqueles que não se limitam andar à babuje dumas almoçaradas ou de cerimónias muito luzidias de entregas de medalhas, quando os nossos atletas conseguem algum feito internacional. E, mesmo assim, sabe Deus! Basta ver, por exemplo, o vergonhoso desprezo a que o senhor Rui Rio tem votado o maior representante desportivo da Região.
Posto isto, eu que já venho do tempo da “outra senhora” e sei bem o que significava chegar à Sede dum clube a que pertencia e ver a porta lacrada pela Pide, fico estupefacto como ninguém vê que aquilo que se está a passar com esta fantochada, é obra, precisamente dos que “fazem a coisa pelo outro lado”.
Cumprimentos
Quem estiver minimamente atento aos comentários que se vão multiplicando por aí, em sites de jornais, blogues e afins, já deve ter percebido que o responsável por toda esta confusão é o Pinto da Costa... Pois, como não podia deixar de ser. Naturalmente o artigo, põe o dedo na ferida: por razões ainda pouco claras, o Governo quer ter uma palavra a dizer na gestão da FPF. Quiçá para fazer coincidir os ciclos políticos com os ciclos desportivos? Quem não se lembra daquela famosa frase de um antigo primeiro-ministro, que prometia que as vitórias de certo clube, faziam crescer a Economia do país? Uma coisa é certa: com estes estatutos aprovados, digam o que disserem, estamos mais perto (e não mais longe) de sermos excluídos das provas internacionais.
Gostava que me dissessem porque é uma Lei de Bases do Desporto é respeitada por todas as federações menos por aquela que tutela o futebol? E que este desrespeito é feito através das associações (levando à cabeça a do Porto)...
E para que não me ponham já etiquetas adianto já que sou simpatizante do FCP e, já agora, do respeito pela Lei!
Claro, caro comentador "mente", esse é que é o verdadeiro problema.
O resto são tricas de trazer por casa. Veja lá o meu caro que até o insígne Professor constitucionalista dos Domingos à noite acha que a "grande" diferença entre os antigos e os novos estatutos é que, nos antigos "as Associações é que mandavam" (vejam lá que crime), e nos futuros, além das Associações, "também" mandam os médicos, enfermeiros, treinadores e árbitros! Para quê? Ninguém sabe. Gostava de saber, por exemplo no Sporting, quantos médicos há por cada milhar de atletas. E árbitros no País por cada 100 mil praticantes?
O mais engraçado, é que a nossa subordinação à UEFA só tem mesmo a ver com a "autorização" para entrarmos nas competições UEFEIRAS. Do verdadeiro problema que é a obrigação que o Estado tem em promover o Desporto em Portugal, ninguém fala.
Cumprimentos
Olá Luis! É fácil de explicar. As "outras" federações são de desportos amadores e andam todas à babuge duns troquinhos.
Falhando o dinheirinho para construírem uns pavilhões e alguns trocos para investir na formação, não tem razão de existir.
É por isso que agarram com ambas as mãos as migalhas que o INDESP lhes oferece, via senhor Laurentino.
Cumprimentos
Se alguem me puder informar o que significa ou melhor que prejuizo trará para o futebol português a perca do estatuto de Utilidade Publica agradecia.
Por outro lado gostava que comentassem se os clubes que estão a disputar as competições internacionais como a Liga dos Campeões ou a Liga Europa devem alguma coisa á FPF e em que ou como serão dependentes dos seus estatutos e para quê?
Resumo : o merito de os clubes disputarem competições internacionais,investirem em atletas forte e feio e ganharem campeonatos está dependente da FPF ou a FPF é que está dependente do fornecimento de atletas dos clubes para a seleção abrilhantar uns campeonatos da Europa e do Mundo sem gastar um tusto.
Querem que o governo mande nos clubes através da Federação ?
Quem promove o futebol em Portugal são os clubes e as associações,o resto é puro folclore daqueles que se querem guindar a ter um protagonismo que nunca tiveram.
Porque razão os dois sabios Dias Ferreira e João Seara não se candidatam a lugares de relevo nos seus clubes em vez de andarem por corporações que só servem para baralhar o já por demais baralhado futebol nacional ?
Em Portugal, o Estado metido em tudo tem que acabar. Mas esse processo só se inicia se os portugueses e as associações por eles formadas souberem dizer NÃO aos apoios do Estado. Filhinho com mesada tem que obedecer. Quem quer ser independente que se sustente. Isto é no futebol, nos negócios, na cultura e em todo o resto.
Só mais uma achega: o José Manuel Meirim, especialista em Direito Desportivo, considera que o regime jurídico ao qual a FPF está a tentar adaptar os estatutos é "ilegal". Isso, é claro, pouco interessa ao Governo. Interessa sim, tomar de assalto a FPF e ter até no comando um homem do "aparelho" como é o caso do Fernando "Mãozinhas" Seara. Importa também referir que não sendo os estatutos aprovados, o Governo pode retirar o já suspenso estatuto de utilidade pública à FPF, o que levaria a FIFA e a UEFA a excluírem as nossas equipas das suas competições. Por outro lado, a aprovação destes estatutos, legitimará a tal ingerência do Governo, que é absolutamente proíbida pela FIFA e UEFA. Ou seja, nem se trata de uma situação de "espada ou parede", mas sim "espada-espada". Daí que até agora apenas tenham surgido candidatos "condicionais" à presidência da FPF: ninguém quer ser presidente nessas circustâncias, e ficar associado a uma hipotética falência forçada do futebol cá do burgo. Que como toda gente sabe, é o grande objectivo do Diabo em pessoa, Pinto da Costa ...
Se não estou em erro as únicas equipas a serem afectadas pela situação seriam as equipas que representam portugal - vulgo selecções - e não os clubes.
Mas posso estar enganado...
Eu acho que a FPF devia contestar a constitucionalidade do novo regime jurídico. Esta é para mim a questão essencial neste processo, isso e a lamentável ingerência do Estado no desporto profissional.
Parece-me - de caras! - que é inconstitucional o governo decidir o peso relativo dos votos de cada membro da Assembleia Geral da FPF. E além se ser inconstitucional, é contra os regulamentos da FIFA, está bom de ver.
Gostaria de saber se também é o Estado que determina o modo como funcionam as assembleias gerais das associações patronais, das ordens profissionais e dos sindicatos.
Mas os comentadeiros da nossa praça põem umas palas e só bradam que a FPF está na "ilegalidade", etc., etc., principalmente - suspeito - porque acham que é o Pinto da Costa que está por trás da posição da AF Porto, do que eu duvido muitíssimo, diga-se.
O mal é não se conseguir discutir um assunto destes sem meter o clubismo pelo meio. E além disso, como dá a entender o nosso confrade Nuno de Campos, os portugueses aceitam com naturalidade a imposição da canga do Estado, coisa a que estão habituados há muitas décadas.
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