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Em Agosto de 2005 Nuno Jorge (ou será Jorge Nuno?) Pereira Silva Valente, defesa esquerdo internacional do F.C. Porto, terá sido colocado perante uma espécie de ultimato pelo clube: teria de escolher entre representar o FCP ou a selecção nacional. De facto, o historial de lesões do jogador dava claramente a entender que ele andava sempre “preso por arames” e a sua condição física não recomendava a sobrecarga de jogos que adviria de jogar por clube e selecção. Perante isto, Nuno Valente optou pela selecção e foi transferido para Inglaterra, mais propriamente para o Everton. Por lá a sua carreira tem continuado a ser apoquentada por lesões, além de ir entrando no ocaso e o clube até já ter contratado um seu substituto na época passada. Vai agora entrar na sua quarta e, muito possivelmente, última época ao serviço daquele clube e, apesar do seu infrequente contributo, foi ainda recentemente elogiado pelo seu treinador, David Moyes, que o considerou “o melhor jogador contratado no estrangeiro com quem trabalhei, em termos de atitude e empenho. Um profissional de topo, um jogador em quem se pode sempre confiar”.
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Mas não é principalmente de Nuno Valente que venho aqui tratar, mas sim da autêntica saga que tem sido a busca do FCP por um defesa esquerdo. Deve referir-se, por uma questão de justiça, que estamos perante uma dificuldade do próprio futebol português, pois nem a própria selecção nacional utiliza um jogador de raiz nessa posição.
Diga-se, aliás, que essa busca antecedeu a saída do próprio Nuno Valente, pois já no defeso anterior a essa saída se contratara Areias, aparentemente por recomendação de José Mourinho. O auto-denominado “Special One” deve ter ficado especialmente agradado com a altura deste jogador, pois consta que, tal como Frederico o Grande da Prússia com os seus soldados, selecciona os defesas laterais com base em critérios altimétricos (Ashley Cole à parte, pelos vistos). Isso também explicará a sua predilecção por Ricardo Costa (o futebolista, senhores!) naquela posição. Seja como for, o conterrâneo de Bocage acertou em cheio: Areias era, de facto, um rapaz alto.
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O mês de Janeiro de 2005 ficou célebre para os mais sarcásticos pela chegada daquilo a que, depreciativamente, chamaram de “contentor de brasileiros”.
A memória pode estar a trair-me, mas creio que foi nessa “leva” que arribou à nossa terra mais um defesa esquerdo. Poderá ter sido mais tarde, mas seja como for, Leandro (era esse o seu nome) foi mais uma etapa no longo caminho da autêntica busca do Santo Graal em que se transformou no nosso clube a procura de um defesa esquerdo. Não se pode dizer que fosse uma negação como jogador, mas acabou por ser mais um a ter “guia de marcha”. Está emprestado no Brasil e viu o seu contrato ser recentemente renovado, o que decerto significa que o clube vê nele algum potencial. Caso ainda a rever, talvez.
Mas a busca do sucessor de Nuno Valente não esmoreceu: pouco depois da sua saída do clube foi contratado o eslovaco Marek Cech, referenciado, segundo os jornais da época, como estando “à vontade, tanto a lateral esquerdo como a médio do mesmo flanco”. Marek Cech, que acaba de partir, ele também, para Inglaterra – neste caso para o West Bromwich Albion – estreou-se num jogo da Liga dos Campeões contra o Inter e deixou agradados os apaniguados portistas. Parecia resolvido o problema. Contudo, com o correr do tempo, o jogador acabou por não se revelar propriamente um “esteio” nas suas funções defensivas, antes se salientando mais em incursões no meio-campo adversário. Era, de facto, um bom jogador e aparentemente um bom profissional, mas não estava ainda achado o sucessor de Nuno Valente.
Fonte: RecordSeguiu-se a fase a que poderia chamar-se de “inspiração da Lusa-Atenas”. De facto, em duas épocas seguidas, o FC Porto contratou dois defesas esquerdos à Académica, os brasileiros Ezequias e Lino, o que levou até pessoa da minha amizade a dizer durante a época passada que iria estar atento ao lateral esquerdo da “Briosa”, pois ele decerto teria boas hipóteses de vir parar ao FC Porto. Humor à parte – e nada melhor do que sabermos rirmo-nos de nós próprios – nem um nem outro resolveram o problema. O primeiro, senhor de uma velocidade digna das praias de Vera Cruz, acabou emprestado a outros clubes e partiu recentemente para o estrangeiro (não, este, apesar do seu talento, não foi para Inglaterra, mas sim para a Roménia). O segundo até era apontado como um dos melhores jogadores da Briosa na época de 2006/07 e exímio marcador de livres (talento que recentemente comprovou num dos “particulares” disputados na Alemanha). O homem até é “bom de bola” e senhor de um pé esquerdo “cultivado”, mas, azar dos azares, e para manter a “tradição”, defender não é o seu forte. Neste momento não estará ainda definido o seu futuro.
“Ensanduichado” entre estes dois brasileiros chegou à Invicta em inícios de 2007 um defesa esquerdo argentino, Mareque de apelido (pronúncia curiosamente semelhante à do nome próprio de Cech) e que, na pia baptismal, recebera o nome de Lucas. Este Lucas Mareque teve uma coisa contra si: chegou cá numa altura em que a equipa do FC Porto entrou numa “crise de Janeiro”, com as famigeradas derrotas em casa contra o Atlético e Estrela da Amadora. Isto, somado às suas pouco convincentes exibições, cedo traçou ao argentino um regresso às Pampas (ou seria à Patagónia?).
Nesta pré-época já tivemos o ensejo de ver actuar um novo defesa esquerdo, Benitez de seu nome, também proveniente da América do Sul. Confesso que não estive atento ao desempenho deste homónimo de “El Cordobés”, e convenhamos que é cedo para conclusões. Mas o homem nem deve fazer ideia do que torcemos pelo seu sucesso. Já não era sem tempo! Quer-me parecer, contudo, que o lugar de defesa esquerdo será, mais uma vez, desempenhado por Fucile, um escorreito lateral direito uruguaio que, por cá chegado em Janeiro de 2007, muito bem se tem saído na outra lateral. Quem não tem cão, caça com gato!
PS Eu sou do tempo em que os nossos defesas esquerdos se chamavam Sucena e Acácio. Por uma questão de perspectiva, e sem menosprezo por esses dois antigos profissionais do clube, ambos ficavam a milhas de qualquer um dos referidos no texto supra. Falamos de barriga cheia!