quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Sporting, a Banca e os Activos

Em Abril de 2006, Soares Franco candidatou-se à presidência, quase que “obrigado” pela banca, para que esta não tivesse que constituir reservas sobre a totalidade do crédito bancário que tinha concedido ao Sporting. Nesta altura, Ricardo Salgado (BES) esteve fortemente empenhado em conseguir a transferência do património imobiliário do Sporting para um fundo que pagasse ao BES as dívidas, sob pena de ser obrigado a constituir reservas no valor de cerca de 150 milhões de euros, ou seja mais de metade dos lucros anuais do banco à época. Em 2006, portanto, a solução preconizada pelos credores passaria pela liderança de Soares Franco, um “homem de mão” do BES, e que era bem visto para montar a solução para o grave problema do passivo de longo prazo sportinguista.
Note-se ainda que antes do anúncio da candidatura de Soares Franco à presidência houve uma assembleia-geral que votou a não alienação do património sportinguista, nomeadamente o edifício Visconde de Alvalade, o Alvaláxia, o Health Place e a clínica CUF, levando Soares Franco a afirmar que não tinha condições para continuar na presidência do clube e que não seria candidato nessas eleições. Pouco tempo depois mudou de ideias, aparentemente sensibilizado pelo “apoio demonstrado pela massa associativa leonina”.
Para mais informação aceder à edição do Semanário, de 13/04/2006.

Para uma melhor compreensão das razões que levam Filipe Soares Franco a manter-se na presidência do Sporting (e das possíveis nefastas consequências para o clube) seria necessário analisar o triângulo Sporting-OPCA-BES. Na verdade Soares Franco é também presidente da OPCA (agora OPWAY, desde a fusão com a SOPOL), empresa que tem um relacionamento privilegiado com o BES, de quem é cliente e com quem tem parcerias para a área das concessões. Além disso o Grupo Espírito Santo detém 80% do capital da construtora (parte desse capital adquirido ao próprio Soares Franco!). Pelo meio aparece ainda uma sociedade (MDC) que tem parcerias com a OPCA e que irá urbanizar os terrenos do antigo estádio. Assim se entende por que Soares Franco seja um homem de confiança do BES, o principal credor do Sporting, estando em causa a sua independência para presidir ao clube de Alvalade.

Dois anos volvidos e é anunciada recentemente por Soares Franco uma reestruturação financeira para reduzir o passivo do Sporting (passivo bancário de 234 milhões de euros), diminuir a taxa de juro média (de 6,3% para 4,7%) e baixar a taxa de comissionamento bancário.
Esta reestruturação foi sujeita a aprovação em assembleia-geral, que não aprovou a integração da Sporting, Comércio e Serviços (SCS) na SAD, mas que acabou por aprovar o projecto de reestruturação financeira e a transferência de propriedade da Academia para a esfera da SAD.

A operação de integração da SCS na Sporting SAD seria financiada com um empréstimo obrigacionista a cinco anos, obrigatoriamente convertível em 30 milhões de acções com um valor nominal de dois euros no fim do prazo, e que tinha tomada firme pelos bancos, situação que deixaria o clube com uma participação minoritária no capital da SAD. Essa medida, que os sócios inteligentemente vetaram, levaria o clube a pagar à banca 55,5 milhões de euros, dos quais 40,5 milhões de euros viriam da MDC (empresa que comprou os terrenos do antigo estádio) e 15 milhões de euros da SAD.

Rogério Alves, numa entrevista em 2 de Março de 2008 ao JN, afirmou que “espera um aumento de capital da SAD. A nossa ideia é atrair investidores. Também não colocamos de lado a hipótese de o Sporting perder alguma da posição que detém... Por exemplo, o Manchester United e o Chelsea só têm um dono, assim como sucede frequentemente em Itália”. Entre as linhas orientadoras está o aumento de capital com a consequente perda de controlo do capital, que foi desvalorizada comparando com o que acontece em grandes clubes europeus.

Agora (e para já) a Academia pertence à SAD e esta poderá aliená-la quando e a quem bem entender. Ou a quem lhe for mais conveniente, se os interesses do clube não forem devidamente salvaguardados.

Este caso pode servir como um alerta aos sócios do FC Porto, que têm no Estádio do Dragão o seu activo mais valioso. Quando a situação financeira da SAD esteve mais complicada, chegou a aventar-se na imprensa a hipótese da SAD fazer uma "Operação Harmónio" e/ou transferir o Estádio do Dragão do clube para a esfera da SAD, como forma de resolver o problema do valor diminuto dos Capitais Próprios.

4 comentários:

HULK ONZE MILHAS disse...

"...chegou a aventar-se na imprensa a hipótese da SAD fazer uma "Operação Harmónio" e/ou transferir o Estádio do Dragão do clube para a esfera da SAD, como forma de resolver o problema do valor diminuto dos Capitais Próprios..."
Infelizmente não foi só na imprensa..... eu ouvi essa hipótese numa AG do FCP!!!! Penso que foi o Dr. Fernando Gomes, mas não tenho a certeza absoluta.
Fiquei aterrorizado, porque pensei cá para mim: e a seguir ao estádio o que irá????

José Correia disse...

Apesar de andarem há vários anos com "a corda na garganta", os sócios do Sporting (uma franja significativa) tem resistido à alienação total do património do clube, para pagar as dividas da SAD sportinguista.

Se um dia o mesmo cenário for colocado em AG aos sócios do FC Porto, tenho dúvidas que estes resistam e se oponham a uma eventual iniciativa destas, se a mesma vier da Direcção.

O Estádio do Dragão foi financiado à custa dos terrenos que eram do FC Porto.
O Estádio do Dragão pertence ao Clube e não à SAD e assim deve continuar.

Mário Faria disse...

wyO Dragão é propriedade do FCP e a sua "venda" só pode ser efectuada se os sócios o aprovarem em AG.
Espero que a N/Direcção nunca o proponha, e os sócios nunca tenham que votar favoravelmente, porque se o fizessem, seria, certamente, por uma questão de sobrevivência.

urtigao disse...

Completamente contra que o estádio passe para a SAD.

Com o famoso artigo 35 em voga, muito de discutiu nos fóruns acerca do que o clube deveria fazer...para evitar a insolvência, esta foi uma medida falada, o que me preocupou imenso, porque todos sabemos como funciona as AG, com a fraca participação dos associados e sendo proposto pela administração esta por certo passaria, o que seria muito mau.

Este assunto, relembra-me uma coisa, que a meu ver é muito importante, e que deveria ser discutida pelos portistas, quem defende o clube da SAD, porque ao termos o mesmo presidente, e ao meu ver mal, nas dois orgãos, o clube neste caso seria prejudicado, porque se a SAD com o maior produto que o clube tem que é o futebol, não consegue gerir receitas para a sua actividade, como iram fazer o mesmo as modalidades amadoras?