quinta-feira, 31 de julho de 2008

Juventude ou experiência?

Há muitas formas de analisar a composição de um plantel, estatisticamente falando: nacionalidades, jogadores formados na casa/fora, senioridade no plantel (i.e. número de anos no plantel A do FCP), internacionalizações, etc.

Uma delas diz respeito ao eterno dilema da juventude vs. experiência – isto é, uma análise da idade média dos jogadores. Há quem prefira jovens porque estes têm a possibilidade de se valorizar (proporcionando grandes vendas), e há quem prefira jogadores “maduros” já que a experiência tem vários benefícios, começando pela Liga dos Campeões onde pequenos pormenores relacionados com a “matreirice” podem fazer toda a diferença.

Pessoalmente acho que há lugar para todos: a estratégia de financiar um défice corrente crónico com mais-valias (estratégia com a qual concordo, embora me pareça que o tal défice corrente deveria ser mais baixo de forma a evitarmos volatilidades do mercado e convulsões cíclicas do plantel) obriga a que tenhamos forçosamente que ter alguns jovens que possam brilhar levando a um encaixe significativo em vendas.

Ao mesmo tempo penso que temos certamente lugar para a experiência, seja através de jogadores da casa que “vão ficando”, seja através da contratação de jogadores “maduros” (i.e. entre 25 e 30 anos) – temos recentemente um Farías, mas também temos casos históricos emblemáticos (como um P Emanuel, Costinha ou Alenitchev).

Penso mesmo que há lugar para contratações muito esporádicas e oportunistas de jogadores com 30 ou mais anos, caso haja uma convergência de factores que as tornem interessantes – como foi por ex o caso do Nuno Espírito Santo.

Dito tudo isto, haverá uma idade média ideal?

Volta e meia vejo na imprensa artigos que tocam neste ponto. Diz-se que a idade de máximo rendimento para um jogador (em média, claro) se situa na recta final da “casa dos 20”: 28, 29 anos. Nessa idade a experiência já é imensa, mas o declínio das capacidades físicas ainda só está no início (o pico de forma situa-se nos 27 anos, alegadamente).

Mas isso é para o caso de um jogador, individualmente. E para o plantel? Concerteza que é impossível ter apenas jogadores com 28 anos (no limite seria preciso mudar o plantel todos os anos, já que os jogadores envelhecem 1 ano todos os anos como os comuns dos mortais).
Não tenho conhecimento de nenhuma equipa campeã (nas grandes competições) que tenha tido uma média de idades inferior a 27 anos entre os jogadores mais utilizados. Por curiosidade, calculei agora 1) a idade média do plantel e 2) a idade média do 11 titular para o Manchester Utd (campeão europeu em 07/08) e para a selecção de Espanha campeã europeia, tal como para os plantéis do FCP nas últimas épocas (incluindo a que agora se inicia).

O que se vê é que coincidentemente tanto a selecção espanhola como a equipa-tipo do Man Utd tinham exactamente a mesma média, nomeadamente de 27,5 anos. E o FCP?

O FCP campeão europeu tinha uma média de 28 anos na equipa-tipo, ou seja, era uma equipa “madura”. A média de todo o plantel (26,5 anos) foi também a mais elevada dos últimos 6 anos. Nas duas épocas seguintes a média caiu a pique batendo no fundo em 05/06, com uma média dos jogadores mais utilizados de 24,5 anos. Entretanto recuperou-se a média para os 26,5 na época passada, perspectivando-se que seja a mesma na época que agora se inicie, arredondamentos àparte (*).

Há certamente imensos factores que afectam o rendimento de uma equipa, e a idade certamente não é dos mais importantes (até porque há “experiência” e “experiência” – por exemplo, uma coisa é um ano a jogar na Liga dos Campeões, outra é a jogar na 2ª divisão japonesa).

Mas com tanta coincidência (olhando só para o FCP, é curioso que fomos campeões europeus com uma equipa muito madura e que fomos eliminados ingloriamente por um Artmedia quando tínhamos a equipa mais jovem dos últimos 10 anos; mas a melhor amostra até é a das equipas vencedoras das grandes competições, tanto recentes como históricas) penso que é um factor que eventualmente terá a sua importância.

Penso que haverá limites inferiores e superiores que se deve evitar ultrapassar tanto quanto possível: não inferior a 26 anos (nesse caso estaríamos em muitos casos apenas a servir de “barrigas de aluguer” para outros clubes tirarem depois o rendimento desportivo dos jogadores) e não superior a uns 29 anos (nessas condições não teríamos muitos jogadores para vender).

(*) Parti do princípio que a equipa-tipo será Hélton, Sapunaru, B Alves, P Emanuel, Fucile, Guarín, Meireles, Lucho, Rodriguez, Lisandro e Quaresma. Uma eventual saída de Quaresma terá uma influência muito pequena na média da equipa.

2 comentários:

Nuno Nunes disse...

Não é certamente coincidência a relação existente entre a média de idades de um plantel e os seus feitos desportivos, sabendo que há muitos outros factores que têm uma influência ou ponderação mais decisiva para os sucessos alcançados (como por exemplo o talento dos jogadores que compõem o plantel, os anos de experiência em competições internacionais, a competitividade do campeonato interno, a solidariedade e união da equipa, etc.).

De qualquer forma acredito que na composição de um plantel poderá haver um mix optimizado de juventude e experiência que potencie os resultados desportivos.

Seria interessante incluir nesta análise o AC Milan, campeão europeu há 2 anos, que provavelmente terá a média de idades mais avançada das equipas que venceram a Liga dos Campeões, com jogadores a "roçar" os 40 como Maldini, Costacurta e Cafú. Aqui também entra um factor importante que pode aumentar as performances da equipa: a qualidade do research do "laboratório humano" de Milanello (aka Milan Lab).

José Correia disse...

Interessante análise do Zé Rodrigues.

«O FCP campeão europeu tinha uma média de 28 anos na equipa-tipo, ou seja, era uma equipa “madura”.»

Sem ter feito contas, parece-me que o onze da final de Viena (Mly, João Pinto, Celso, Ed. Luis, Inácio, André, Quim, Jaime Magalhães, Sousa, Futre, Madjer) era uma equipa com uma média de idades parecida.

E a equipa do ano seguinte, treinada por Tomislav Ivic e que ganhou tudo (excepto a TCE), era uma equipa ainda mais velha.

Empiricamente, há uma conclusão que eu acho que podemos tirar: há bastantes equipas de sucesso com médias de idades elevadas, mas são raras as equipas com médias de idade baixas (menor que 25) que têm sucesso (o Ajax é capaz de ser uma excepção).