quarta-feira, 2 de julho de 2008

O recurso para o CJ


Eu faço parte dos “adeptos portistas que defendem a ideia de que a sua sociedade desportiva para o futebol profissional deveria ter acompanhado o seu presidente nos recursos dos castigos impostos pela Comissão Disciplinar da Liga”.
Contudo, lendo o artigo de opinião ‘Portismo, honra e justiça’, escrito por Manuel Tavares (Director do jornal O JOGO) e publicado na revista ‘Notícias Sábado’, distribuída juntamente com o JN e DN de 21/06/2008, quase que me sinto tentado a acreditar que, desde que a CD da Liga anunciou o castigo do FC Porto por suposta tentativa de corrupção, tudo estava pensado e previsto ao milímetro pelos responsáveis da FC Porto, Futebol, SAD.

Escreveu Manuel Tavares:
«Vejamos, então, o que poderia ter acontecido para melhor defesa da honra se a FC Porto, Futebol, SAD tivesse recorrido para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol.
A resposta é simples: concretamente, nada.
Soubemos na semana passada que o Conselho de Justiça notificou a SAD para, em querendo, juntar-se à contestação do próprio presidente Pinto da Costa. O que valida a opção tomada pelos serviços jurídicos do clube de que o recurso da SAD era desnecessário, uma vez que a sociedade desportiva e a equipa beneficiariam sempre do recurso interposto pelo presidente

Pois, mas, sobre este assunto, há algumas questões para as quais ainda não li, nem ouvi, respostas convincentes. Vejamos:

1) A decisão do CD da Liga foi divulgada no dia 9 de Maio. Se, nesse dia, os responsáveis da FCP SAD já sabiam que a "sociedade desportiva beneficiaria sempre do recurso interposto pelo presidente", porque razão isso não foi dito na conferência de imprensa feita à hora dos telejornais?

Em vez disso, o que Pinto da Costa afirmou foi o seguinte:


«O FC Porto vai ter subtraídos seis pontos aos muitos que já ganhou este ano. (...) Não vamos, no que diz respeito ao FC Porto, recorrer da perda desses seis pontos. Nem precisarei de dizer porquê e, naturalmente, também não precisarei de dizer qual a razão (...) não recorremos e vamos passar a ter apenas 14 e 15 pontos de avanço. Mas a honra do FC Porto ficará salvaguardada, porque eu, pessoalmente, como presidente e como cidadão, vou recorrer, na segunda-feira, para o Conselho de Justiça. Esperamos, através desse recurso, que a verdade seja reposta e possamos mostrar que não existe qualquer razão para o FC Porto ser penalizado


2) No dia 13 de Maio, após se ter esgotado o prazo para a FCP SAD recorrer da decisão do CD da Liga, o jornal A BOLA encheu a sua primeira página com o cenário do FC Porto ser excluído da Liga dos Campeões 2008/09, ao abrigo da alínea d), do ponto 1.04, do Regulamento da Liga dos Campeões.

Nesse mesmo dia, o Jornal de Notícias publicou o seguinte:
«Na prática, ao admitir, legalmente, a culpa, conformando-se com a perda de seis pontos e fazendo a defesa da honra através do recurso apresentado por Pinto da Costa, o F. C. Porto abre perigosamente o flanco.»

Perante estas noticias que, naturalmente, deixaram os adeptos portistas e os accionistas da FCP SAD bastante apreensivos, porque razão não houve um comunicado, ou pelo menos uma declaração de um responsável da SAD, afirmando que a sentença da Liga não tinha transitado em julgado, porque "a sociedade desportiva beneficiaria sempre do recurso interposto pelo presidente"?


3) Segundo veio a público (fontes: UEFA, FC Porto e declarações de Gilberto Madail), o primeiro fax enviado para a UEFA, em 15 de Maio, pelo assessor jurídico da FPF – Dr. João Leal – foi em resposta a um pedido de esclarecimentos especifico por parte da UEFA.

foto: Record

Porque razão a UEFA solicitou estes esclarecimentos à FPF?
Terá sido porque alguém lhes fez chegar (elementos ligados ao SLB?), que o FC Porto não tinha recorrido da decisão da LPFP e que, por isso, tinha aceite o castigo e lhe tinham sido subtraídos 6 pontos por tentativa de corrupção?
Porque razão a FCP SAD não reagiu imediatamente (recordo que o 2º fax da FPF para a UEFA, rectificando a informação que constava do primeiro, só foi enviado no dia 2 de Junho)?


4) Se desde a decisão do CD da Liga os responsáveis da FCP SAD já sabiam que "a sociedade desportiva beneficiaria sempre do recurso interposto pelo presidente", porque razão foi preciso esperar várias semanas, até o Conselho de Justiça da FPF notificar a SAD para que esta, em querendo, juntar-se à contestação do próprio presidente? Lembram-se do fax da FPF que o Pinto da Costa exibiu na entrevista que deu à SIC?


O Conselho de Justiça da FPF deve estar prestes a tomar uma decisão e, conforme já referi, estou convicto que a mesma será favorável ao FC Porto.
Contudo, seja qual for a decisão, vale a pena recordar todas estes factos, porque o "filme" do não-recurso da FCP SAD para o CJ que o Manuel Tavares e outros nos querem contar tem algumas "cenas cortadas". Mais. Se calhar, a distância entre alguns dos protagonistas deste "filme" serem promovidos a "herois" ou terem o papel de "vilão" foi muito ténue.

Tudo está bem quando acaba bem?
Sim, esperemos que sim.

9 comentários:

Nuno Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Mas ó Zé Correia, tu já leste os acordãos?;-)

Nuno Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Nunes disse...

Bem visto.

Mal se soube que o Comité de Apelo da UEFA se decidiu pela anulação da decisão da Comissão de Disciplina desse mesmo organismo, foi ver o Dr. Caldeira sair das instalações em Nyon, triunfante, a enfrentar os jornalistas e a abrir a boca apenas para avisar que "o FC Porto é gerido de dentro para fora e não de fora para dentro", num claro ataque dirigido aos portistas que tinham criticado a decisão da sad. É assim esta sad, vê mais depressa inimigos 'internos' do que propriamente os inimigos verdadeiros que tanto nos têm prejudicado.

Na edição do Ojogo desse fim-de-semana surgia então, num artigo NÃO ASSINADO, um ataque baixo a portistas como Rui Moreira, Manuel Serrão e Miguel Sousa Tavares, colocando-os como 'perdedores' de todo este processo ao lado de outros 'perdedores' como o Benfica e Luis Filipe Vieira.

José Correia disse...

«A reunião do Conselho de Justiça (CJ) que vai analisar os recursos do Apito final deverá ter lugar na próxima sexta-feira à tarde, embora os serviços da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) ainda não dêem esta data como oficial.

A reunião já chegou a estar marcada a semana passada, mas acabou por não se realizar. A direcção da FPF, que esteve reunida na última quarta-feira, pediu uma decisão célere, recordando que sem as decisões do CJ não pode homologar os resultados do último campeonato. Já esta quarta-feira, Hermínio Loureiro, presidente da Liga de clubes, também se manifestou profundamente preocupado com a ausência de decisões.

O sorteio da Liga 2008/09 está marcado para a segunda-feira, para o edifício da Alfândega, mas falta ainda saber se será o Boavista ou o Paços de Ferreira a integrar o calendário do primeiro escalão.»

in Maisfutebol, 02/07/2008

Mário Faria disse...

Uma entidade empresarial competente não permitirá (nunca) que a gestão se faça de fora para dentro.
O uso deste tipo de comentários não é um sinal de força, pelo contrário. A SAD foi eleita e exerce o poder com toda a legitimidade. Diria, mesmo, dupla legitimidade, pois o presidente e a restante direcção foram igualmente sufragados para constituírem a Direcção do FCP. Uma direcção que tem comunicado pouco por motivos estratégicos, deve fugir como o gato da água de falar com uma arrogância para os que considera serem críticos (?) internos, pois isso só poderá significar que não estão seguros. Se têm razão, se procederam bem e não abriram brechas, só poderão colher benefícios e garantir ainda mais apoio por parte dos sócios.
Mas é preciso avisar as direcções e os administradores que o futebol sem a paixão dos adeptos que consomem o “produto” e vivem de forma muito particular a vida do clube - e reagem muitas vezes com o coração, e alguma vezes sem razão - não é motivo para queixumes da direcção. Ganham para isso. Quando o futebol não animar a paixão e tudo se passar no segredo dos gabinetes, então tenderá a ser menos popular, definhará e terá uma morte lenta. Por isso, é bom que os dirigentes não estiquem demasiado a corda, sob pena do bebé se perder com a água do banho.
Entendo que - e refiro-me à direcção do FCP - que há um défice de proximidade entre a Direcção e os Sócios que só é superada pelos êxitos desportivos e pela figura tutelar de PdC que se tem aguentado ao leme, qual timoneiro sem alternativa e com validade ilimitada.
Concluindo : acho que há hiatos neste calendário que o José Correia faz dos acontecimentos, que parecem significar que a Direcção reagiu sempre bem, mas ficam dúvidas se terá agido sempre da forma mais conveniente. Os resultados intercalares têm sido “prometedores”, falta a apitadela final. Resta esperar.

José Correia disse...

«Que se mantenha o castigo aplicado pela Comissão Disciplinar (CD) da Liga a Pinto da Costa, suspenso por dois anos por tentativa de corrupção à equipa de arbitragem do jogo FC Porto-Estrela da Amadora...

Segundo apurou o DN, esta é a decisão, ou melhor, o projecto de acórdão do relator do Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) João Carrajola Abreu, que ficou com um dos dois recursos do presidente portista à pena aplicada pela CD, a 9 de Maio último.

O projecto de acórdão poderá ser analisado e votado na reunião do CJ que se realiza amanhã, sendo que a prioridade do encontro são os recursos que têm implicação directa na classificação do campeonato, como é o caso dos três processos do Boavista, condenado à descida de divisão.

As conclusões de João Abreu vão ser apreciadas pelos outros seis conselheiros - entre eles o próprio presidente do órgão, António Gonçalves Pereira - que irão votar favoravelmente ou contra o acórdão. E o DN sabe que não há unanimidade de opinião no Conselho de Justiça.

João Abreu - indicado para o CJ pela Associação Futebol de Setúbal e que subiu de suplente para vogal efectivo daquele órgão no passado mês de Abril, após a demissão de dois elementos - não reconhece razão aos portistas, que argumentam que as escutas telefónicas não poderiam ter sido usadas em processo disciplinar.

O conselheiro valida as escutas, concorda com os procedimentos da CD, pelo que não aceita o recurso de Pinto da Costa, defendendo dessa forma a manutenção do castigo: suspensão de dois anos, por tentativa de corrupção. Por este mesmo ilícito, o FC Porto foi punido com a perda de seis pontos, não tendo o clube recorrido. Uma situação que, recorde-se, provocou, numa primeira decisão da UEFA, a exclusão dos portistas da Liga dos Campeões, o que foi posteriormente rectificado, tendo ficado o organismo europeu à espera da resolução do caso no CJ da FPF. Desta forma, o que vier a ser decidido no órgão federativo terá implicações numa futura apreciação do processo por parte da UEFA.

Na elaboração do projecto de acórdão, o relator não foi influenciado pela decisão do Tribunal de Instrução Criminal do Porto, que segunda-feira decidiu arquivar o processo relativo ao mesmo jogo, o tal que ficou conhecido pelo "caso da fruta para dormir" (alegadas ofertas de favores sexuais à equipa de arbitragem liderada por Jacinto Paixão). Nesse despacho judicial, o magistrado considerou que as intercepções telefónicas não poderiam ter sido utilizadas. É que, como salientou o juiz, estando em causa no encontro FC Porto-Estrela um crime na forma tentada, a moldura penal é inferior a três anos de prisão e o uso das escutas só é possível quando ao crime corresponde uma pena de prisão superior. Outro assunto deste processo que esteve na origem da decisão de arquivamento por parte do TIC do Porto foi o depoimento de Carolina Salgado. O juiz colocou em causa a veracidade das declarações e pediu mesmo uma investigação do DIAP. Já para a condenação aplicada pela CD da Liga as declarações da ex-companheira de Pinto da Costa foram um importante contributo.»

in DN, 03/07/2008

José Correia disse...

«João Abreu revela ainda que foi ele quem deu "o despacho que ordenou a citação do FC Porto para os termos do recurso". "Foi com base neste despacho que o FC Porto suspendeu a decisão do Comité de Disciplina da UEFA. Por isso, durante a primeira quinzena de Junho eu era um anjo para o FC Porto e o Benfica dizia mal de mim e dos conselheiros", lembra.»

João Abreu, entrevista à Antena 1, em 07/07/2008

José Correia disse...

«A Notícias Magazine reforçou a sua liderança entre as publicações semanais de informação geral. A revista que o DN e o JN publicam ao domingo é lida semanalmente por 922 mil portugueses, de acordo com os dados revelados pelo Bareme de Imprensa da Marktest.

No mesmo segmento, a Notícias Sábado, reformulado no ano passado, subiu ao segundo lugar. A revista, companhia inseparável dos leitores do DN e JN ao fim-de-semana, registou uma audiência média de 7,8%, equivalente a 648 mil leitores. A NS' ultrapassou assim a revista de domingo do Correio da Manhã, em queda há três trimestres consecutivos, e regista agora 7,7%.»

in DN, 12/07/2008