sexta-feira, 10 de abril de 2009

Em Manchester, no Pub e pela T.V.


A viagem já estava marcada antes de o sorteio destinar ao F.C. Porto uma visita a Old Trafford, Manchester. O roteiro não incluía a cidade de Manchester, apenas passagem pelo aeroporto, mas a perspectiva de assistir ao jogo logo fez mudar os planos. “Não há problema”, garantiu-me o Arthur, herdeiro de uma longa linhagem de adeptos do Manchester…City, “eu arranjo um convite para o jogo”.

Arthur Wright, 57 anos, natural de Hazel Grove, arredores de Manchester, vive actualmente em Macclesfield, a uns 30 km daquela cidade e uns 20 a 30 minutos de carro. E é um optimista por natureza: acredita que o Manchester City será campeão europeu nos próximos 5 anos, agora que é propriedade do Abu Dhabi United Group (aquele “United” ali no meio causa-lhe algum desagrado, diga-se) e está certo que os convitezinhos para Old Trafford chegarão. “Vou a Old Trafford uma vez por ano, claro, e este ano esse número vai passar para o dobro. A minha visita lá de que guardo melhores recordações foi na última jornada em 1974: ganhámos 4-3, o Denis Law marcou o quarto golo e os gajos desceram de divisão! (o lendário Denis Law jogara no Manchester City antes de, mais tarde, representar o United, tendo acabado por regressar ao City no fim da carreira).

No que ao optimismo europeu do Arthur diz respeito, a ver vamos. Mas, a crer no que aconteceu aos convites para o jogo Manchester United – F.C. Porto, nada de bom é de prever. De facto os ditos cujos nunca chegaram a aparecer, o que deixou o Arthur algo taciturno. Eu já o entusiasmara com os prospectivos estragos que “o temível Hulk” (“O gajo chama-se mesmo assim??”) e o “Cebola” Rodriguez iriam causar à defesa dos “red devils”, e os recentes desempenhos destes últimos enchiam-no de esperança. Mas a perspectiva de ficar em casa a ver o jogo definitivamente deprimia-o. Até que teve uma brilhante ideia: “Vamos a Manchester a um pub com televisão. Vai ser em grande!”

E assim, por volta das 18.30 fizemo-nos à estrada em direcção a Manchester e a John Dalton Street, artéria onde se situa o pub preferido do Arthur. Lá chegados o Arthur encontrou logo alguns conhecidos e amigos que se aprestavam a ver o jogo, todos, diga-se, adeptos do Manchester City, dois dos quais partiriam no dia seguinte para Hamburgo, a fim de aí assistirem ao jogo da Taça UEFA com o clube local.

Começaram as rodadas, servidas ao balcão por um empregado que era a cara chapada do Mantorras, embora um Mantorras a falar inglês e com sotaque de Manchester, uma coisa bastante incongruente, diga-se. E pouco depois começou o jogo. Pela reacção dos clientes às primeiras jogadas atacantes do Porto facilmente concluí que encontrar ali um adepto do Manchester United seria tão improvável como deparar com pinguins na Flórida. Os “azuis” imperavam, tanto no ecran como na sala. E o golo do Rodriguez aos 4 minutos mais veio reforçar a minha convicção: a clientela irrompeu em fartos aplausos e gritos de “Come on, Porto!” Por meu lado, não queria acreditar no que via, não na sala mas na televisão. Lembrava-me da triste e despersonalizada exibição da nossa equipa nos Emirates uns meses antes e aquela manifestação de autoridade, personalidade e categoria fazia o maior contraste possível. Mas aquela súbita “paragem cerebral” do Bruno Alves (por que será que nos acontece tantas vezes isto, ou frangos do guarda-redes, nestas grandes ocasiões? E em quanto se desvalorizou o Alves com aquele passe ao Rooney?) fez-me temer o pior: um baixar de braços de nossa parte e uma galvanização dos “red devils”. Nada disso, como sabemos.

O intervalo serviu para encomendarmos umas sanduíches e calhou a minha vez de ir buscar uma rodada. O Mantorras estava entretido à conversa com uns clientes em vez de me atender com prontidão e apeteceu-me bradar aos que com ele conversavam: “deixem jogar o Mantorras!” Mas por fim lá me serviu as Carlings e as Bodingtons que lhe pedira.

E lá fomos acompanhando a segunda parte, Porto menos afoito mas sempre com cabeça fria, até que, de um toque subtil do Rooney, o Tevez marcou o segundo golo do United. A cinco minutos do fim o sentimento de injustiça e frustração era ainda maior. Isso sentiu-se na sala, onde ecoou um “ah” de desilusão. Mas tal seria não contar com um mágico saído do banco, aquilo a que os ingleses chamam um “super-sub”, e a um minuto dos 90’ Mariano González entrou na história do F.C.P., onde, até agora, ameaçava não vir a passar de nota de rodapé. Também é verdade que se deve ter sentido bastante solitário, tal o espaço que a generosa defesa do United lhe deu, mas que importa! Como diria o grande Gomes Amaro “Está lá dentro! E agora não adianta chorar!” A meu lado um dos amigos do Arthur comentou com ar interrogativo: “Pensei que os vossos treinadores faziam sempre um sprint ao longo da lateral quando empatam em Old Trafford no último minuto!”

Depois foi aguentar uns descontos intermináveis, coroados com um livre inventado por um árbitro “à portuguesa” num desarme limpíssimo do Fernando ao inoperante (ainda bem!) Cristiano Ronaldo (o qual, sempre que tocava na bola, era alvo do sarcasmo da sala). E finalmente o luso-austríaco lá apitou, a sala festejou e lá do canto um grupo mais animado de adeptos do City desatou a cantar o tema favorito dos seguidores do clube de Eastlands: Blue Moon!

7 comentários:

Azulantas disse...

Caro Alexandre, da próxima vez que estiveres aqui no Norte (Inglês), podes vir à capital dos anti-manchester (Leeds), e quem paga a pint sou eu. Preferencialmente de Yorkshire - Samuel Smith ou Black Sheep - porque isso de andar a beber o creme de manchester, aqui por estas bandas não funciona.

Grandes abraços!

Hugo

P.S. Vi o David Moyes (treinador do Everton) atento ao jogo na bancada VIP de Old Trafford. O Everton está a fazer (de novo) outra campanha fenomenal. Há quem diga que o bom do David é o sucessor natural de Sir Alex no Man Utd. Eu não me importava nada que ele um dia treinasse o Porto.

Anónimo disse...

Fica combinado, Hugo! Black Sheep é, por sinal, das minhas favoritas!;-)

Não sei se a capital dos anti-Manchester não estará antes em Liverpool, se bem que, de facto, Leeds não lhe fique atrás!

Também reparei no David Moyes, mesmo abaixo do Rio Ferdinand. Deve ter colhido proveitosos ensinamentos para a meia-final da F.A.Cup, de domingo a oito. Já tenho lido e ouvido esses comentários acerca da possibilidade deles vir a suceder ao Sir Alex, mas espero bem que se mantenha por muitos anos em Goodison (já lá está há sete).

Grande abraço também

Capitão Bacalhau disse...

Saudações.

Este blog é impressionante. Temos direito até a correspondentes em Inglaterra.
Como o mesmo não acontece com o jornal Record, limitaram-se a publicar em primeira pagina o noticiário regional…

Excelente artigo.
Boas canecadas.

Anónimo disse...

Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Record, Automotor, Máxima, Pcguia, Rotas e destinos e Semana informatica devem ser excluídos por todos aqueles portistas que os consomem.

José Correia disse...

Que pena os dragões não terem conseguido dar uma alegria ainda maior aos adeptos do Manchester… City!
Por outro lado, se o FC Porto conseguir eliminar o Manchester… United e continuar a sua caminhada impressionante nesta Liga dos Campeões, ficamos muito expostos à cobiça do Abu Dhabi United Group.

Mário Faria disse...

Também vi num tasco cá do sítio que tem ecrã gigante.
Estavam os portistas do sítio, o Zé da Frutaria, a Rute Marlene da peixaria, o bispo Floribelo, o Karate Kid (que ainda anda amuado por não ter sido autorizado a prestar provas no FCP) a Svetlana, mais o pessoal do mercado, das pensões (de luxo com direito a bidé) e do bar da esquina, tudo portistas, porque o patrão nestes jogos só deixa entrar quem for azul e branco.
Foi uma alegria. Nestes jogos todos procuram ficar junto da Svetlana, porque ou se abraça junto de quem está mais próximo quando o FCP marca ou chora no ombro quando o FCP perde.
Desta vez tive o privilégio de estar próximo e receber aquele abraço no 2º golo do FCP.
Foi o golo, foi a Svetlana. Inesquecível esta vitória.
Viva o Porto !

Anónimo disse...

Bem vistas as coisas, caro Mário, eu também era capaz de ter preferido a companhia da Svetlana à dos adeptos do Man. City!;-)