A época de 1977/78 marcou, a meu ver, o nascimento do F.C. Porto europeu. Depois de termos eliminado o Colónia (2-2 na Alemanha e 1-0 em Coimbra – por interdição das Antas) calhou-nos na 2ª eliminatória da Taça das Taças nada mais, nada menos, que o Manchester United, jogos ainda aqui recentemente evocados pelo meu estimado confrade José Correia. É pelo facto de novamente estarmos em posição de eliminarmos os “red devils” que me ocorreram estas linhas.
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Na época de 1977/78 o treinador era Dave Sexton, um londrino cujo currículo incluía uma Taça das Taças com o Chelsea (frente ao Real Madrid em 1971, numa final que teve desempate) e um fantástico 2º lugar com o Queen’s Park Rangers no campeonato inglês em 1975/76, a apenas 1 ponto do Liverpool. Curiosamente, tanto no Chelsea como no Manchester United, Sexton sucedera ao nosso conhecido Tommy Docherty, treinador do F.C. Porto aquando dos famosos 4 golos do Lemos ao Benfica (1970/71). O seu estilo era, contudo, considerado demasiado cauteloso para os pergaminhos de futebol atacante da agremiação de Old Trafford. Estaria no clube até 1981.
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Quanto ao F.C. Porto, estava no último ano da sua própria travessia do deserto, já que viria a sagrar-se campeão nacional no fim daquela época, após 19 anos de jejum. O treinador era, como todos sabemos, o inigualável José Maria Pedroto (ia a escrever “carismático”, e não é que o Zé do Boné o não fosse, mas a palavra está um bocado desvalorizada de tanto usada), o qual, entre os seus inúmeros atributos, possuía uma certa arte e manha a jogar contra equipas inglesas. Tal fora amplamente demonstrado quando, ao serviço do Vitória de Setúbal, o Zé do Boné conseguira a eliminação na mesma época de dois conjuntos ingleses de topo na Taça UEFA – o Leeds e o Liverpool. E todos se recordavam ainda de um famoso empate em Wembley em 1974 (0-0) da selecção nacional, na altura por ele orientada, dia em que o saudoso Vítor Damas terá feito, possivelmente, a exibição mais memorável da sua carreira.
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Depois da fantástica vitória nas Antas poucas dúvidas havia acerca da passagem da eliminatória, mas o jogo de Old Trafford não correu nada bem. O primeiro golo do United aconteceu bem cedo (se a memória me não atraiçoa, resultou de um deficiente pontapé-de-baliza do Fonseca que o ponta-de-lança Stuart Pearson aproveitou, passando a bola ao autor do golo, Steve Coppell) mas o Seninho sossegou-nos, quando, servido em profundidade pelo Octávio (vocês sabem de quem eu estou a falar) se esgueirou por ali fora e empatou o jogo. O Manchester United chegaria aos 4-1 ainda com mais de vinte minutos para jogar, mas de novo o Seninho nos tranquilizaria; o 5-2 foi um dos auto-golos do saudoso Alfredo Murça.
Enfim, no Porto fizemos um dos nossos melhores jogos de sempre na Europa e em Old Trafford levámos um banho essencialmente no resultado, já que três dos golos que sofremos eram evitáveis.
Para a história: nos quartos-de-final haveríamos de defrontar o, na altura, poderoso Anderlecht e por aí ficaríamos (1-0 nas Antas e 0-3 em Bruxelas).
Nesta 2ª mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões 2008/09 o que se pede aos nossos jogadores é que estejam à altura dos seus precursores de 1977/78 e 2003/04. Não há duas sem três.
E, já agora: que é feito do Seninho e do Duda?
(nas fotos: estátua de Sir Matt Busby em Old Trafford, Dave Sexton, e retrato de José Maria Pedroto)
6 comentários:
se bem me lembro, na altura o seninho revelou que tinha instruções do treinador pra não se cansar muito (não recuar a ajudar o meio campo, por exemplo) e assim poder aproveitar a sua velocidade nos contra-ataques (foi desse modo que marcou os dois golos).
tb gostava de saber o que é feito desses dois (Duda e Seninho)
Esse jogo nunca há-de me sair da memória: foi o primeiro jogo europeu que vi no nosso querido estádio das Antas. No dia seguinte era o herói da escola, porque tinha estado lá :) Infelizmente não vi depois o jogo com o Anderlecht, mas se não me engano jogámos em casa depois de termos levado 3 secos em Bruxelas, portanto já não havia muito a fazer.
Logo à noite vai correr bem, mesmo sem o Duda no campo nem o Prof. no banco. Estou confiante que vai ser a maior noite europeia do Dragão até à data. Mas se não for a vida continua, e esta equipa já fez o bastante para alimentar o nosso orgulho.
Um abraço
Contra o Anderlecht jogámos primeiro em casa. O jogo foi interrompido devido ao mau tempo e repetido 24 horas depois. Foi em Março de 1978, mês particularmente chuvoso no Porto, mesmo para os padrões pluviométricos da Invicta. Houve cheia do Douro nesse mês, aliás.
e na 2ª mão, na Bélgica, lembro-me de um golo de livre mto bem marcado, acho que pelo Resenbrink (ou lá como se escreve o nome do tipo, grande jogador).
Rob Rensenbrink, sim, famoso internacional holandês.
Quanto à cheia, acho que fiz confusão: houve cheias do Douro em Novembro de 1978 e Fevereiro de 1979. Mas Março de 1978 foi um mês muito chuvoso também.
Que choveu imenso não tenho a mínima dúvida: deixei o carro perto do estádio mas não tive coragem de nele entrar após o jogo pois as minhas roupas tinham litros de água e eu não quis alagar a viatura! Assim... vim a pé até casa com a água por todos os lados.
E como hoje tem chovido imenso... quem sabe se não será uma indicação que vamos ganhar???
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