Aqui há umas semanas atrás escrevi sobre o assunto da Superliga Europeia, que para muitos é uma inevitabilidade e para outros tantos uma aberração. Agora que o FC Porto concluiu a sua participação na Liga dos Campeões, edição 2008-09, e tendo a Liga Sagres à sua mercê, apetece-me reflectir sobre a falta de competitividade interna que assola o nosso clube em Portugal e numa particular solução para esse problema.
Ao contrário do que muitos pensam, eu não considero a liga portuguesa muito inferior às suas congéneres Espanhola, Italiana, Francesa ou Alemã. Num momento da história do futebol em que os principais clubes Ingleses dominam por completo o topo da pirâmide por via das obscenas montanhas de dinheiro que as cadeias televisivas injectam na Premier League, poder-se-á afirmar que o restante das ligas europeias estarão de um modo geral, na vertente desportiva, mais próximas que nunca, Liga Portuguesa incluída.
Mas se dentre as 10 ligas de top na Europa - Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França, Rússia, Ucrânia, Holanda, Roménia, Portugal, (Turquia, Grécia, Escócia, vêm logo a seguir a Portugal – se observam claramente 2 escalões (top 5 e os restantes) isso deve-se muito claramente à importância dos montantes gerados pelas transmissões televisivas e não tanto à qualidade de futebol praticada bi-semanalmente nos relvados europeus.
Obviamente existem diferenças de estilo e, no geral, Portugal segue a escola italiana, que, ao longo dos anos, tem privilegiado o aspecto defensivo do jogo. Tenho para mim que qualquer equipa Espanhola ou Inglesa de topo teria imensas dificuldades para ser campeã em Portugal. E o mesmo se poderá dizer de qualquer equipa portuguesa nos campeonatos Inglês ou Espanhol. Não porque as equipas portuguesas sejam inferiores - embora por regra vivam com esse complexo - mas essencialmente pelas diferenças culturais do jogo nos diferentes campeonatos.
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Sendo que a questão da Superliga Europeia se baseia num ideia de elitismo financeiro que pretende fechar os clubes europeus de top numa redoma impenetrável - ao estilo das ligas americanas NFL, NBA e NHL - a UEFA terá que defender os interesses do desporto em si, seja por via de integração - o actual modelo da Liga dos Campeões é o melhor exemplo desta estratégia de integração como resposta ao desejo dos clubes em formar a tal Superliga Europeia - ou por via da exclusão, repudiando futuras movimentações nesse sentido que levarão à secessão e provável formação de um novo futebol, autónomo da UEFA e da FIFA.
Pessoalmente não acredito muito na segunda hipótese, ainda que seja possível e, para muitos adeptos de clubes "menores", provavelmente desejável. Creio que a integração continuará a evoluir, mas em que moldes?
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Assim, a médio e longo prazo, a UEFA garantirá a sobrevivência do desporto ao mesmo tempo que garante viabilidade financeira e competitividade para os clubes de topo. Creio que o próximo passo poderá ser dado em breve (dentro de 5-10 anos) com os clubes de top de ligas secundárias como a Portuguesa, Escocesa ou Grega a serem incorporados nas ligas Espanhola, inglesa e italianas, respectivamente. Isto sendo apenas o estágio anterior a uma integração completa das respectivas ligas profissionais.
Não me admirarei muito se por volta de 2025 houverem cerca de 10 ligas profissionais regionais na Europa - Ibérica, Escandinava, Britânica, Franco-Belga, Germânica, Boémia, Balcânica, Leste Europeu, Russo-Ucrâniana e Mediterrânica - e apenas uma competição Europeia transversal a todas elas.
Para o FC Porto e demais clubes portugueses isto seria a estocada final no moribundo "sistema" politiqueiro do futebol "tuga" que apesar de nos fazer campeões todos os anos, nos continua a limitar em termos da competitividade e oportunidades de crescimento que (não) nos proporciona.
Eu penso que nós, FC Porto, estaríamos à altura de um novo e maior desafio, mas enquanto que, por exemplo, Rangers e Celtic aparentemente aceitariam integrar uma sub-divisão da Premiership numa primeira instância, não creio que nós nos contentássemos com menos do que um lugar na mesma tabela do Barcelona e do Real Madrid. O desafio seria enorme e a competitividade faria de nós um clube muito mais forte, mas estaríamos nós prontos para deixar de sermos campeões recorrentes para sermos apenas “outsiders”? Seria este um passo atrás na evolução e na história do nosso grandioso clube?
Num momento em que o balão competitivo esvaziou com a saída da Liga dos Campeões, a quase certa revalidação do título e a presença na final do Jamor, com mais ou menos lesões, o FC Porto é, por falta de competição à altura, o seu pior inimigo. A complacência instala-se e a equipa baixa os braços e joga apenas para cumprir calendário.
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A meu ver os benefícios são claramente superiores aos custos, quer em relação a manter o actual figurino, quer em relação a avançar para um esquema americanizado de Superliga Europeia. Numa altura em que o Benfica pensa no assunto pelos motivos mais errados, o FC Porto deve também reflectir se isto é algo que lhe interessa. É que politiquices à parte, cada vez menos os clubes profissionais portugueses conseguirão competir a sério, isto é, para ganhar, com os seus equivalentes Europeus se a situação actual se mantiver.
14 comentários:
Da mesma forma que os numerosos clubes escoceses (para alem de Rangers e Celtic) nunca aceitarao um tal modelo por ser a sua "morte", da mesma forma os clubes portugueses (para alem daqueles q integrariam o topo da Liga Iberica) nunca aceitarao tal proposta. E sem o "buy in" dos clubes da Liga e da FPF (q por sua vez depende dos clubes em geral), isso nunca irá acontecer.
Sendo assim penso que é escusado alimentar tais cenarios utópicos e irrealizáveis, sinceramente, mesmo que seja um exercício teórico interessante.
Não gosto muito da ideia de fazer uma liga com os maiores clubes europeus, penso que só teria vantagens a nivel financeiro.
De resto ia matar todos os clubes médios e pequenos, que deixavam de ter um espaço para competir, o que a longo prazo, seria a morte do futebol.
Caro José Rodrigues,
É tudo uma questão de preço. Se o preço for o certo, os clubes, ligas e federações entram na jogada. Seja na Escócia ou em Portugal.
A ideia da irredutibilidade da tradição cairá por terra quando o futebol profissional tiver que decidir se quer ir à falência ou se quer romper com o modelo actual (tradicional) para sobreviver. Foi assim com o aparecimentos das SAD.
Alimentar cenários utópicos é pensar que as coisas serão sempre como são agora.
Tal como o Porto já se está a precaver para a provável instituição da regra dos 6+5, havendo movimentações no sentido da viabilização da Superliga Europeia, não vejo em que seja utópico e irrealizavel pensar em alternativas que viabilizem o nívelamento das competições sem fechar os competidores numa rodoma sem subidas e despromoções (NBA), mesmo que isto venha apenas a acontecer num futuro ainda muito distante (20-30 anos)
Off topic
Recentemente recebi esta foto no email que desconhecia....simplesmente inacreditável...
http://i43.tinypic.com/e8sx2e.jpg
Quanto a esta foto aqui deixada pelo "Daniel" realço a atenção para a vergonha na cara demonstrada pelas duas pessoas que acompanham o presidente do slb, em flagrante contraste com o ar feliz deste...
Se fosse o nosso PdC a ter um tal gesto, com os cachecóis que, infelizmente, também temos, de certeza que a imagem iria abrir telejornais e alimentar 1a. páginas...
Hugo,
Em Portugal, nem sequer se conseguiu fundir os 3 clubes da Madeira num só, quanto mais um dia nos juntarmos (todos?) à liga espanhola...
Repara que na Madeira, os adeptos do União (que serão uma dúzia e meia, como se sabe) preferiram mergulhar para sempre no anonimato de uma divisão secundária, a lutar por lugares de topo no escalão principal (e que orçamento gigante esta fusão a 3 traria!).
E já nem falo em Gaia e Gondomar, que deveriam ter apenas um clube, mas que preferem andar a brincar aos "derbies" locais que nem a meia-dúzia de carolas interessam...
Muito longo caminho a percorrer até chegarmos a essas coisas todas, Hugo...
Luis,
Concordo contigo, e isto não é coisa para acontecer nem amanhã, nem daqui a 5 anos.
Também não é caso para dizer que o campeonato Português tem de ser abolido. Apenas se tem de encontrar um formato que nivele a competição.
No caso Escocês (Celtic e Rangers integrarem a Premier League) as opiniões estão divididas entre se é bom porque sem eles a competição passa a ser mais nivelada ou se é bom por ambos clubes vão para uma competição mais em linha com a sua própria dimensão.
Eu bem sei que as mentalidades são diferentes, mas não creio que sejam tão diferentes assim.
Haverá sempre lugar para os clubes de bairro e para os derbies locais, mas importa pensar se o futebol local ganha alguma coisa com crónicos vencedores ou se é preferível estender a competitividade de cada prova ao nívelar os participantes.
A Uefa poderá mesmo intervir nesse sentido, pois neste momento o domínio dos clubes Britânicos na Champions parece inabalável, ao contrário do que aconteceu com os domínios Espanhol e Italiano que o precederam.
Quanto à questão dos clubes Madeirenses, é perfeitamente legítima. Nenhum clube pode ser forçado a fundir-se com outro. A acontecer, uma fusão tem que partir da vontade de ambos os clubes.
Da mesma forma, a decisão de participação numa competição é sempre do clube. Mesmo que um dia venha a existir a Superliga Europeia, o FC Porto estará sempre no seu direito de recusar-se a participar nela, escolhendo manter-se na competição nacional.
A ideia da irredutibilidade da tradição cairá por terra quando o futebol profissional tiver que decidir se quer ir à falência ou se quer romper com o modelo actual (tradicional) para sobreviver. Foi assim com o aparecimentos das SAD.Há uma solução muito mais simples, deixar de pagar balúrdios a toda a gente.
"É tudo uma questão de preço. Se o preço for o certo, os clubes, ligas e federações entram na jogada."
Mas que preço?? Quem fica de fora (isto é, no - agora - secundário campeonato português) só fica a perder.
Já hoje têm os estádios às moscas, imaginem se não receberem os grandes; as TVs passavam a oferecer para aí 10% do que oferecem hoje pelas transmissões; e aí por diante com as restantes receitas.
Ora se já hoje os clubes andam com a corda na garganta, com esta medida das duas, uma: ou iam à falência, ou passavam a ter orçamentos de clube amador (com tudo o q isso implica para o espectáculo e para a sua competitividade perante os "ricos").
O dinheiro extra eventualmente "re-encaminhado" pelos FCP, SCP e SLBs para a FPF e para os restantes clubes tugas como "compensação" NUNCA na vida seria o suficiente para compensar essas perdas.
Sendo assim, arrisco afirmar que esse cenário nunca terá lugar pelo menos por 50 anos (para não dizer 100).
Já o cenário de uma única Superliga Europeia, parecendo-me também como sendo muito pouco provável, é bastante mais provável do q uma Liga Ibérica.
Nightwish disse...
"(...) Há uma solução muito mais simples, deixar de pagar balúrdios a toda a gente."
De acordo. Mas quem é que vai nessa cantiga?
José Rodrigues disse...
"(...) Mas que preço?? Quem fica de fora (isto é, no - agora - secundário campeonato português) só fica a perder.
Já hoje têm os estádios às moscas, imaginem se não receberem os grandes; as TVs passavam a oferecer para aí 10% do que oferecem hoje pelas transmissões; e aí por diante com as restantes receitas. (...)"
Compreendo a apreensão, mas eu penso de maneira diferente. Sem os 3 grandes o campeonato fica bastante mais competitivo, com vários clubes a poderem competir pelo título.
Ora isto, na minha perspectiva, leva a 2 coisas: (1) mais interesse pelo futebol e, se as coisas forem bem feitas, mais gente nos estádios a apoiar o clube da sua terra; (2) manutenção do interesse nas transmissões televisivas, agora com um espectáculo mais imprevisivel.
Mais a mais, mantendo a possibilidade de promoções e despromoções, seria muito mais fácil a um Guimarães, Marítimo ou Belenenses participarem numa hipotética Liga Ibérica do que numa Superliga Europeia.
O preço, esse teria de ser acordado à partida e teria de precaver a perda de receitas dos clubes que jogam com os 3 grandes regularmente (Liga Sagres) por um periodo de 2 - 3 anos. A partir daí cada clube teria de se adaptar e lutar pelos seus objectivos da melhor maneira que pode e sabe. E os 3 grandes ainda poderiam participar na Taça de Portugal.
Gostei do artigo, mas perdoem-me um desabafo: Liga Ibérica??? Pata que pôs os espanhóis. Proporia uma Liga com os principais clubes portugueses, galegos e bascos. Já era interessante e evitar-se-ia o simbolismo da "iberização" do futebol português. Já basta o que se vê noutros campos, às claras ou nem tanto.
«O principal accionista e membro do conselho de administração do Celtic, Dermot Desmond, afirmou que a inclusão da equipa na Premier League inglesa é "inevitável" e deverá ser uma realidade "nos próximos dez anos". O milionário de origem irlandesa acrescentou que a entrada do Celtic e do Rangers beneficiará a liga inglesa em termos de receitas televisivas. "Além disso, o Celtic tem a vantagem de ser um clube sem passivo. Somos provavelmente um dos clubes mais independentes em todo o Reino Unido e Irlanda. Nos próximos meses, dez ou 11 clubes serão declarados insolventes - e não me surpreenderia se três ou quatro deles forem da Premiership", disse Desmond durante uma entrevista à rádio local Newstalk. A recente edição da "Sunday Times Rich List" coloca o patrão do Celtic no quarto lugar do ranking dos mais ricos da Irlanda, com uma fortuna avaliada em 1600 milhões de euros.»
in O JOGO, 01/05/2009
Segundo uma notícia publicada no jornal inglês The Guardian, os clubes da Série A em Itália decidiram em quase unaninidade criar uma Liga independente da Série B, numa tentativa de copiar o modelo da Premier League Inglesa.
Os clubes primodivisionários em Itália estavam fartos da dependência dos clubes secundários para tomarem decisões importantes ao nível financeiro.
http://www.guardian.co.uk/football/2009/apr/30/serie-a-b-european-football-italy
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