domingo, 23 de agosto de 2009

O alvo do negócio ou a alma do clube?

No passado recente, ouviram-se e leram-se várias queixas relativamente ao silêncio da SAD, porque temia-se que esse silêncio correspondesse a uma espécie de rendição, face à inundação de protestos dos nossos mais directos adversários, sobretudo no capítulo da arbitragem. E já se sabe que quem não chora não mama. E como os chorões são os mamões do costume, sobrava a impressão que esse silêncio pudesse ser prejudicial aos nossos interesses.

Era o tempo do processo Apitado Dourado, em pleno reinado da sociedade Filipe, Morgado & Costa. A SAD optou pela estratégia do silêncio e provavelmente fez bem. JF tomou a seu cargo a defesa do grupo e foi um esteio do clube pela oportunidade e lucidez das declarações que sempre fez nos momentos mais quentes.

Tenho, portanto, como positivo que PdC e outros administradores ou directores da SAD venham a terreiro informar os sócios sobre os temas que considerem relevantes. Fernando Gomes, há não muito tempo, teceu um conjunto de opiniões desportivas com clara repercussão financeira e mais recentemente tem aparecido o Antero Henrique a dar pareceres, sobre a competência da concorrência, primeiro, e depois para dar uma canelada ao nosso principal rival e enaltecer as qualidades do nosso presidente duma forma tão absoluta que prejudicou o justo louvor.


Não sei se esta estratégia de comunicação está concertada ou desacertada, mas não havia necessidade do Antero Henrique armar tal confusão: um tom de paz e concórdia deu lugar, muito rapidamente, a um discurso ríspido e de confronto, particularmente em relação ao SLB. Não estou muito preocupado em saber quais as suas intenções, muito menos com as reacções piegas dos encarnados ou se Antero estará a posicionar-se internamente a pensar no futuro. Esse é um problema dele (ou deles) que pouco me apoquenta, desde que cumpra com zelo e profissionalismo as funções que lhe estão cometidas. Mas que foi confuso, foi. O discurso deve primar pela objectividade e o conteúdo não deve render-se ao primado do conflito.

PdC é o melhor presidente que conheci ao serviço do FCP e pouco me dá se é o maior especialista em futebol do Mundo ou se apenas ganhou a medalha de prata. Esta classificação de Antero Henrique é evidentemente uma figura de retórica, mas escusada. As organizações não devem depender de homens providenciais, e acho que no FCP há muita gente capaz e que o excelente trabalho produzido não é obra de um homem só. Que PdC é um líder incontornável é tão reconhecido que não carece de adjectivação, porque da necessidade de propaganda se libertou há muito. Fazê-lo poderá ter, portanto, razões que a razão desconhece.

Além disso, o FCP é um clube centenário e com uma forte base social de apoio que sempre foi o seu principal alicerce, como não podia deixar de ser. Em função dessa força popular, o FCP foi sempre um vulcão muito activo que apenas hibernou demasiado tempo, muito por culpa própria.
Mas, o FCP de Yustrich, Flávio Costa e Bella Gutmann jogou futebol de excelente qualidade e arrastou uma multidão de adeptos por todo o lado. Enchemos cidades e invadimos a capital. O FCP provava que era uma força, apesar de se bater em clara situação de desigualdade. Quando foi garantido no país condições para concorrer no mercado em igualdade de condições, foi possível ao FCP intrometer-se na luta e ganhar de forma sustentada.


A estrutura de base sempre existiu só faltavam alguns detalhes para que o FCP explodisse. Criadas as condições políticas, os sócios fizeram o que faltava: a convocação de uma AG para que o regresso de JMP fosse possível. Foi JMP que desenhou o projecto, foi PdC que o consolidou com o apoio massivo dos sócios, mesmo nos momentos mais difíceis. Uma instituição desportiva não sobrevive apenas pela excelência da sua organização, embora seja indispensável.

Há alguma tendência política para intervir junto dos cidadãos como meros consumidores. O FCP, infelizmente, não tem sido excepção, salvo para alguns adeptos que constituem as forças vivas deste país. A minha mãe é a sócia nº 20, a mais antiga do FCP. Vai fazer 90 anos. Não é tecnocrata nem colunável, mas continua a adorar o FCP. Será que esses valores ainda mexem junto dos que comandam o FCP, mesmo que nunca tenha exigido cláusula de não rescisão?

Os sócios não querem ser apenas o alvo do negócio, porque são a alma do clube. Sei que o presidente reconhece esse valor, mas que há muito esquecimento há. E é pena!

1 comentário:

Miguel disse...

Concordo inteiramente consigo, estas ultimas declaraçoes do Antero Henriques foram escusadas e mostraram alguma sobranceria que é mais do que inutil... Uma coisa que me irrita é estarem sempre a falar do Benfica, caramba deixem-nos lá, so lhe estamos a dar importancia, ja se viu que em democracia temos muitos mais titulos..... Se porventura houver uma liga Europeia com os maiores clubes qual é o primeiro clube Portugues que convidarao?Cumprimentos