quarta-feira, 17 de março de 2010

O mito do "modelo SCP"

Agora que se perspectiva um apertar do cinto, a inevitável comparação com "o modelo do SCP" (leia-se: aposta em jovens da casa) vem à tona outra vez - invariavelmente de forma depreciativa, fazendo-se a extrapolação explícita ou implícita, mas certamente maniqueísta, de que o aproveitamento de jovens da casa leva invariavelmente ao insucesso.

Mas eu pergunto: isso do "modelo SCP" como uma coisa muito sui generis existe mesmo? E é assim tão diferente do "modelo FCP"? Parece-me claramente que a existir "modelos" de longo prazo nos dois clubes são mais parecidos do que os mais distraídos possam pensar, e que estamos portanto perante um mito.

Eu verifico que o tal "modelo SCP" refere-se acima de tudo ao período 2005-2008 (que foi quando o SCP fez muito menos contratações e por arrasto integrou mais jovens da casa no plantel).

Ora para se compreender melhor isso é preciso recuar um pouco mais: no virar do milénio o SCP fez uma... fuga para a frente, vivendo acima das suas possibilidades "normais". Vieram os Kmets, os Hanuchs, os Tellos, e outros jogadores de milhões, incluindo portugueses "emigrantes de luxo". E verdade seja dita que até tiveram algum sucesso (2 títulos em 3 anos).

O problema é que o KO desportivo no período "FCP Mourinho" junto com o peso desse investimento levou a uma considerável "ressaca" financeira que demorou vários anos a passar (e só recentemente começam a sair dela). Repare-se que no triénio 2001-04 o SCP fez um prejuízo acumulado de uns 50 milhões € - isto era completamente insustentável.

Logo parece-me evidente que nos anos que se seguiram assistimos não a uma política deliberada no SCP de preferir prata da casa a contratações, mas pura e simplesmente a uma solução de recurso devido ao aperto financeiro, não dando para mais.

Mais claro isso se torna quando se verifica que mal começou a haver algum fôlego financeiro, lá vieram os milhões investidos em Vukcevics e Izmailovs (e isto apesar de venderem pouco - a propósito, diga-se que se no SCP estivessem mesmo obcecados com o aspecto financeiro, teriam vendido jogadores nos últimos 3 anos - no entanto guardaram Liedsons e Moutinhos, quando até tinham possibilidade de os vender). Repare-se que nesta época contrataram 6 jogadores para o plantel principal, e na anterior 7.

Ou seja, resumindo a mim parece-me que na essência o FCP e o SCP têm seguido uma estratégia similar: ir esticando a corda financeira até onde der, não havendo qualquer alergia no SCP a contratações, ao contrário do mito.

Há também, no entanto, algumas diferenças. A primeira é que no período de "fuga para a frente" o SCP apostou demasiado em jogadores sem perspectiva de valorizar e vender, devido à idade, mas com salário muito elevado: JVP, Sá Pinto, P Bento, Acosta, P Barbosa. Isso foi um erro que na hora do aperto levou a que estivessem limitados no potencial de vendas e os custos sem mantivessem elevados.

A segunda diferença é que de facto a prata da casa do SCP neste milénio tem sido claramente melhor do que a nossa: C Ronaldo, Quaresma, Nani, Moutinho, H Viana, Varela, M Veloso (e mais uns de menor dimensão que até trouxeram uns milhõezitos, como o Vidigal).

Para além de ver no "modelo SCP" um mito, também vejo outro na tal extrapolação de que "aproveitar jovens da casa leva ao insucesso". Não foi por causa da prata da casa que o SCP não teve mais sucesso nos últimos anos... custa-me mesmo a acreditar que alguém pense que foi por causa de terem um Nani, um Moutinho ou um Ronaldo que perderam campeonatos. Eu diria que os perderam APESAR de terem estes jogadores.

O que mais lhes faltou no que diz respeito a jogadores foi "guita" para complementar uns quantos reforços da casa com uns quantos reforços de milhões de fora (fruto acima de tudo da tal "fuga para a frente" do início do milénio). E mesmo assim lutaram pelo título até ao fim ou quase em umas quantas épocas (aliás, um deles perderam à custa de mais um frango na penúltima jornada desse erro de casting que dá pelo nome de Ricado).

Isto para além de outros factores em que o FCP terá sido melhor gerido ao longo dos anos - mas nunca na questão de uma aposta (ou recusa, no nosso caso) deliberada em prata da casa.

Para terminar, os próprios dirigentes do SCP têm ajudado a propagar este mito do "modelo SCP" porque é muito mais confortável pegar em exemplos de sucesso da "Academia" do que admitir aos sócios que andaram a estourar dinheiro a torto e a dinheiro no início do milénio e que não têm (tinham) guita para contratações. Acima de tudo, dá-lhes jeito chamar a atenção para esse sucesso relativo quando os exemplos de claro sucesso nas contratações (mesmo recentes) são raros - quantos dos 13 jogadores contratados no último ano e meio se pode dizer que foram casos de sucesso?

25 comentários:

Miguel Lourenço Pereira disse...

José,

Análise certeira. A "Academia" é um mito propagado muito bem pela comunicação social e que acenta em quatro ou cinco casos de sucesso (dos quais só o de Ronaldo é verdade absoluta, porque os restantes acabaram por, cada um à sua medida, falhar no salto).

Essencialmente significa recrutar jovens em vários pontos do país (Minho (H. Viana), Madeira (C. Ronaldo), Tras os Montes (Simao), Algarve (Moutinho) e formá-los junto aos "meninos de Lisboa". Nisso o Sporting é, realmente, das poucas equipas a ter um campo de análise lato. Se o Benfica não é exemplo de formação para ninguém (daí a necessidade em Lisboa de ter um "bom exemplo" para propagandear) o campo de recrutamento do Porto historicamente é mais reduzido. E nota-se na procedência de muitos dos nossos jovens.

No entanto a gestão desportiva do Sporting é tão ou mais caótica que a nossa. Sem os milhoes recorrentes da CL, não deixaram de gastar muito (e mal a meu ver) em jogadores de nível inferior ao nosso. Continuam a depender de um goleador para ir sacando resultados. Sem ele esta equipa é amorfa. Provavelmente este ano teriam de voltar a vender e talvez não o façam. O endividamento é progressivo, não tão acentuado como no caso do Benfica, mas vai deixa-los (ainda mais) num bom aperto. A liquidez financeir e o apoio social que têm não roça a do clube do regime.

Quanto a nós, sempre defendi que apostar na formaçao por apostar é inutil. E dispendioso. Basta ver os emprestados que vamos tendo, muitos para o que realmente se vai aproveitar. Sempre preferi o nosso modelo histórico. Recrutar jovens noutros clubes numa fase de afirmação, incutir-lhes o espirito à Porto e equilibrar o plantel com algum que outro jovem da formação e um ou dois jogadores contratados de bom nivel.

O nosso problema actual é que fomos buscar demasiados jogadores do 1 grupo (apesar de Varela e R. Micael, muitos não mostram qualidade para estar no Porto) e nenhuns do segundo e terceiro (com a excepção de Falcao).

Daí a mediania que fomos vendo.

um abraço

José Rodrigues disse...

Eu penso que apesar de tudo o SCP tem hoje melhor plantel do que tinha há 3 anos, já que se várias das contratações recentes (a partir do momento em que começaram a ter algum dinheiro para isso) não deram certo, 3 ou 4 foram bem vistas (por ex Izmailov, Vukcevic e J Pereira, mas há mais um par deles), e tirando Nani não venderam nenhum bom jogador (e até se livraram do "Labrecas").

Ao mesmo tempo o nosso plantel está mais fraco, daí que a diferença de qualidade entre os plantéis esbateu-se um bom bocado, a meu ver.

Há no entanto e como dizes algum caos. Não acertaram no treinador (P Bento), não sabem potencializar os bons jogadores (algo em q somos claramente melhores), e a organização em geral fica a dever à nossa.

Quanto ao aproveitamento da prata da casa (e por isso entendo a definição da UEFA, i.e. um mínimo de 3 anos ao serviço do clube qdo atingem 21 anos), penso q é acima de tudo benéfico para preencher uns quantos lugares secundários no plantel, de forma a libertar fundos (passe, salário) para o reforço da equipa titular. E penso q poderíamos ter hoje 3 ou 4 jogadores desses no plantel sem comprometer o desempenho desportivo (o dinheiro poupado nas 3 ou 4 contratações respectivas poderia ter sido investido na manutenção de um Lucho ou equivalente de 2 em 2 anos, ou saneamento parcial do passivo).

E não tenho dúvidas q vamos começar a ter mais disso no plantel, fruto do aperto financeiro.

Miguel Lourenço Pereira disse...

"E penso q poderíamos ter hoje 3 ou 4 jogadores desses no plantel sem comprometer o desempenho desportivo (o dinheiro poupado nas 3 ou 4 contratações respectivas poderia ter sido investido na manutenção de um Lucho ou equivalente de 2 em 2 anos, ou saneamento parcial do passivo."

José,

Acho que é precisamente esse o caminho. Essa postura permite poupar salários mais caros, ocupar posições como segundas ou terceiras linhas (laterais, médio defensivo, avançado), que teriam poucos minutos. Mas também cimentar no balneário esse espirito colectivo de jogador portugueses e da casa que, mais tarde ou mais cedo, tomarão o testemunho.

Ter um Sergio Oliveira, Castro, Ukra, Nuno Coelho e companhia é claramente uma aposta a médio-longo prazo. Nenhum deles seria titular naturalmente. Mas seriam opções interessantes. Além do mais garantia uma valorização a 100% no caso de futura venda, ao contrário de cada compra que implica procurar um retorno que muitas vezes nao supera o valor da compra.

O Sporting jogou bem com o J. Pereira e o P. Mendes, mas como dizes, sem um técnico realmente potenciador dos poucos recursos que têm, vão continuar a ter problemas. Porque o passivo aumenta e o retorno é minimo.

Um abraço

Zé Luís disse...

Vítor Baía já tinha referenciado, calmamente mas certeiramente, que esse "mito" leonino valia o que valia e tinha precisamente sido fruto das asneiras anteriores obrigando a jogar com o que havia em casa. Por sinal alguns bons, outros nem por isso, deu para safar a coisa, complementada com a oportunidade, também casual, dada ao treinador então nos juniores.

Isto não acontece, esta lengalenga badalada mas improfícua no que diz respeito às coisas mais importantes acima do 2º lugar, porque os dirigentes o dizem. Nada do que os dirigentes dizem tem impacto ou leva respaldo público se uns totós não amplificarem a mensagem e os calimeros sempre tiveram a sua franja de aduladores na Imprensa do regime lisbonense.

O José Rodrigues elencou bem as coisas que qualquer adepto atento sabe serem assim, logo o que é preciso é saber do que se fala, conhecer os factos e não entrar em contos da carochinha.

Exemplo disso são os próprios jornaleiros de merda propagandearem que o Sporting gasta pouquinho, era sempre na ordem dos 20 ME, mas o último R&C de 2009 mostrou que a coisa ia já nos 56 ME...

Só os tolos são enganados, e serem-no duas vezes só quem quer mesmo.

Tivemos ainda o mito da equipa mais jovem que era superada no campeonato por uma mais jovem equipa do FC Porto, até caírem no ridículo e ao terceiro ano abandonarem a tese do "mais jovem".

Compaginando com o FC Porto em que muitos advogam o uso da prata da casa, primeiro é preciso ver se vale e, depois, os "impacientes" adeptos que o Miguel lembrava ontem não acredito que voltassem a ser pacientes com o recurso à cantera. E continuo a não ver um jogador bom mesmo para pegar de estaca na equipa, nem os tantos que já lá andaram e se lamentou (alguns) ter-se perdido, vendido ou emprestado, nem os que por aí andam também, vejo apenas um potencial melhor em Ukra mas a confirmar e não para pegar de estaca.

É muito bonito isso da prata da casa, e ao FC Porto já valeu muito quando deu porque os havia bons e muitos. São momentos de felicidade, sem dúvida, e o FC Porto jogou na Europa só com portugueses e quase todos da casa, o que o Sporting não fez.

Como se sabe, o Projecto 611, como em muitos clubes, tem miúdos estrangeiros e com a realidade actual do mercado, desde o acórdão Bosman, as coisas não podem ser vistas como no tempo do Baía, Folha, F. Couto, Rui Jorge etc.

Equipa que aposta em jogar a Champions, e não para fazer número, não pode hipotecar hipóteses com alternativas da casa por confirmar. É o modelo desejado, mas raramente conseguido com sucesso. E sempre testando a tal "paciência" dos adeptos...

José Rodrigues disse...

"Equipa que aposta em jogar a Champions, e não para fazer número, não pode hipotecar hipóteses com alternativas da casa por confirmar."

Alternativas da casa por confirmar, ou alternativas vindas de fora por confirmar, vai dar ao mesmo desportivamente. Não foi por termos o M Lopes, o T Costa ou o Guarin no banco (e o Prediger na bancada) q deixámos de ir aos 1/8s e 1/4s da LC nas últimas 2 épocas.

A diferença está no custo - e nunca é demais referir, milhões poupados em "alternativas de fora por confirmar" para posições secundárias no plantel são milhões a mais para segurar Luchos e contratar mais Falcones.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Zé Luis,

Basta ver que o Barcelona, uma das melhores canteras da Europa, esteve 6 anos sem sacar um jogador de nível (sem contar com o Fabregas e o Pique), desde o Iniesta até ao Busquets, para perceber que essa ladaínha da cantera tem muitos "ses".

Nesta década assistimos ao florescer de duas "gerações falhadas" de cantera portista.
A primeira, dos Postigas, Hugo Almeidas, Moreiras, Ricardo Costas, Toneis, Bruno Vale e companhia. A segunda com os Bruno Gamas, Helder Barbosas, Vieirinhas ou Paulos Machados. Honestamente, e talvez exceptuando o P. Machado de que não desgosto, nenhum desses teria lugar num bom plantel do FCP. É a dura verdade. Por isso pretender agora, só porque faz falta, que é lá que vamos encontrar a galinha dos ovos de ouro é perigoso como bem dizes. E concordo também na questão dos jovens "portugueses". O miudo turco contratado à pouco e o gigante senegales têm de ser o espelho de que o clube terá de alargar a sua base de prospeçao para nao estagnar.

No entanto tenho de concordo com o José num aspecto. Olhando para os melhores planteis da Europa, vemos que as equipas que melhores resultados apresentam sao as que se mexem menos no mercado. Procuram ter um onze fortissimo, 4 ou 5 alternativas de 1 nivel e depois, jogadores jovens, formados ou nao em casa.

Em 1 lugar é dificil contentar 25 jogadores se todos acham que vao jogar e vêm de fora para ser valorizados. Em segundo, há um imenso gasto com as transferencias, comissoes e salarios que essas compras significam e que nada teriam que ver com a promoçao regular de jovens ou recrutamentos estratégicos noutros clubes de jogadores que sabem o seu lugar.

Para um clube que nao é rico e que está com problemas de liquidez, a politica de "contentores" não me parece lógica. O risco supera em muito o beneficio. Ter um banco repleto de Guarins, Tomas Costa, Mariano, Farias, Belluschi, Maicon ou Sapunarus não acrescenta nada. Mas faz-nos perder muito. Muitas vezes olhei para os bancos dos clubes dito grande nos jogos europeus. Há lá sempre dois ou tres miudos mais ou menos desconhecidos. O tecnico sabe que dificilmente jogarao. Mas, estarem ali, se calhar permite que em campo estejam 11 jogadores de verdade, e nao 8 mais 3 coxos.

Para o proximo ano deveriamos pensar nisso. Que ninguem pense encontrar um Cristiano Ronaldo no Sergio Oliveira e companhia. Mas que quatro ou cinco lugares de um plantel de 23 sejam de jogadores com as suas caracteristicas, parece-me um exercicio de boa gestão.

O problema, sabemos todos, sao as relaçoes da SAD com os empresários. Aí está a razao dos nossos contentores mais do que na falta de talento da nossa cantera (ou na dos outros que poderiamos aproveitar).

um abraço

José Rodrigues disse...

"Nesta década assistimos ao florescer de duas "gerações falhadas" de cantera portista.
A primeira, dos Postigas, Hugo Almeidas, Moreiras, Ricardo Costas, Toneis, Bruno Vale e companhia."

Bem, o Postiga foi um claro caso de sucesso até ao momento q saiu - contribui bastante para a vitória na taça UEFA e deu muitos milhões aos nossos cofres. Pena a borrada feita depois ao irmos buscá-lo outra vez por... muitos milhões.

Mas tb um R Costa foi para mim um caso de sucesso - nunca passou de um "jogador de banco útil", mas por estar lá poupamos milhões em uma contratação adicional para o banco. E depois a venda foi mais-valias puras. Idem para H Almeida.

Repare-se que em Junho de 2004 o valor contabilístico do plantel (q basicamente reflecte o q se gastou em passes) era de uns 75M€; hoje é de uns 110M€. E porquê?

Em boa parte (mas não só, claro) porque tínhamos vários jogadores da casa no plantel na altura, não só os titulares (como os Baías ou J Costas) mas tb os R Costas deste mundo. E ninguém vai disputar q tínhamos menos competitividade desportiva por causa disso...

Abraços

AFC disse...

“Ter um Sergio Oliveira, Castro, Ukra, Nuno Coelho e companhia é claramente uma aposta a médio-longo prazo. Nenhum deles seria titular naturalmente. Mas seriam opções interessantes. Além do mais garantia uma valorização a 100% no caso de futura venda, ao contrário de cada compra que implica procurar um retorno que muitas vezes nao supera o valor da compra.”

Creio que ter um plantel constituido por vários jovens vindos da cantera poderá ser uma estratégia contra-producente. Ok, já sei que me vão falar que por cada Guarin, Prediguer, Mariano e outros, esses jovens fariam o mesmo e por menos dinheiro. Quero acreditar que se tratou apenas de uma má adaptação desses jogadores. Estamos a falar de internacionais pelos seus respectivos países. A presença de jogadores como esses confere ao grupo de trabalho durante uma semana de treinos uma intensidade diferente do que se tivessemos um plantel com 4 ou 5 jovens.

Qual será o pensamento de um Bruno Alves, um Rodriguez, um Raul Meireles ou um Falcao ao saber que a única opção para o lugar dele é um jovem acabado de sair dos juniores sem provas dadas e em alguns casos a tremer de medo.

José Rodrigues disse...

Para reforçar o meu ponto anterior: o meu problema não é tanto com os titulares, mas sim com o banco.

Eu olho para o nosso banco e vejo q a clara maioria é composta por aquisições de 4M€ para cima; penso q é desejável ter uma clara maioria no banco de jogadores da casa e contratações relativamente baratas do campeonato português (os Miguéis Lopes e Maicóns deste mundo).

"Qual será o pensamento de um Bruno Alves, um Rodriguez, um Raul Meireles ou um Falcao ao saber que a única opção para o lugar dele é um jovem acabado de sair dos juniores"

Antes de mais nada, acho q só em casos muito excepcionais é q devemos ter no plantel jovens "acabados de sair dos juniores": o percurso normal é fazer 1 ou 2 épocas como senior em clubes da I ou II Liga.

Em segundo lugar, isso não foi problema no passado qdo tínhamos R Costa, Postiga ou H Almeida no banco. E pergunto, virando a pergunta ao contrário: então e o descontentamento de jogadores de muitos milhões, com enorme ambição (incluindo chamadas à selecção do seu país), quando se vêm sistematicamente no banco?

Miguel Lourenço Pereira disse...

José,

O Postiga foi, efectivamente, uma das melhores vendas do clube. Pena que, tal como o Secretario antes, termos ido cometer o erro de o repescar. Era um jogador de muito potencial que estagnou psicologicamente. O R. Costa era um operário competente, mas nunca deu o salto como conseguiu o B. Alves, na altura a rodar por esse Mundo.

É precisamente esse o truque. Com jogadores formados na casa poupa-se no orçamento de compras e de salários. E ao contrário do AFC nao concordo que seja um elemento desmotivador. Nunca o foi anteriormente em casos como o J. Costa (com o R. Carvalho) ou McCarthy (Hugo Almeida). E ter jogadores que sao, precisamente, internacionais pagos a peso de ouro no banco, e que raramente aportam algo de positivo e diferente ao onze titular, é que me parece um despecidicio. De dinheiro e recursos. E também nao digo que sejam juniores fresquinhos. Que bem faz ao Falcao ter como alternativa o Farias e o Orlando?

Muitos desses sao jogadores que por vezes nao funcionam neste ou naquele clube. Há muitos casos assim. Nao atribuo culpas, apenas acho que é má gestao ter um banco que valha tanto ou mais como muitas equipas titulares e que nao seja aproveitado, nao seja eficaz e, ainda por cima, nos saia caro.

um abraço

Anónimo disse...

A famosa estratégia do Sporting de aposta na prata da casa resume-se (e desmascara-se) assim: com a guita da venda do Nani contrataram logo nove estrangeiros, entre compras e empréstimos. Está tudo dito.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Alexandre,

Touché!

abraço

Miguel Teixeira disse...

Há poucas semanas, tive oportunidade de jantar na mesa ao lado de um antigo campeão pelo FC Porto (não é o Costinha), Veloso (o pai) e outro que não quero referir o nome e que fala mais alto que um feirante de roupas contrafeitas. Ora a avaliar pelo que ouvi - mesmo que não quisesse - o Sporting prepara-se para no próximo ano fazer o maior investimento da sua história. Pretende manter as pérolas e investir nos tais jogadores de milhões que costumam complementar uma equipa para ser campeã. Não sei de onde vem o dinheiro, provavelmente de quem sacou o cartão para pagar a refeição...


Vai ser mais um "clube" a fazer a fuga para a frente. Benfica este ano, Sporting no próximo, e nós, bom, nós vamos ter de ter muita paciência e capacidade estratégica.

Modelo à Sporting...diria que o que veio para ficar (até não dar para mais), será o modelo à LFV...


É triste, é o futebol português.



PS. Cumprimentos Zé Luís. Agrada-me que estejas por aqui pois a "reflexão" sairá reforçada.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Miguel,

A irresponsabilidade é habitual em qualquer dirigente portugues que pensa apenas no agora. Depois do falhanço do "projecto Roquette" o Sporting nao aprende a licção. Se for como dizes será mais um que terá de ser salvo pelo governo mais tarde ou mais cedo porque, ao contrário do Benfica, nao tem o apoio popular e de instituições do regime para sobreviver com a mesma facilidade.

No fundo é mais um aviso à navegação. Se mantivermos uma politica minimamente coerente (e deixar-mo-nos de por o pescoço na forca todos os Verões), poderiamos acabar por ser a unica força desportiva financeiramente saneada. Mas a nossa "fuga para a frente" é mais misteriosa e inexplicável porque os milhoes perdem-se pelo caminho e dificilmente chegam à equipa.

um abraço

Penta disse...

«Eu olho para o nosso banco e vejo q a clara maioria é composta por aquisições de 4M€ para cima; penso q é desejável ter uma clara maioria no banco de jogadores da casa e contratações relativamente baratas do campeonato português (os Miguéis Lopes e Maicóns deste mundo).»

é exactamente este o meu pensamento, também, relativamente às contratações (falhadas) desta época.

atente-se no seguinte facto: no jogo ante a académica o Professor preparava-se para efectuar «apenas e só» uma única substituição - não fosse o azar (ou a nossa sorte) do Mariano.
é confrangedor percebermos que não há soluções de facto no banco do FCP. é preocupante percebermos que não temos "banco". é imperioso dar a volta a esta preocupante situação, para que o Futuro seja bem mais risonho do que o Presente, «penso eu de que». ;)

saudações PENTACAMPEÃS!

eumargotdasilva disse...

do que tenho visto na europa do norte e centro não se dá um passo, sem ter já tudo equacionado, e quando se fala que a partir de 2012 só se puderá ter 25 jogadores acima dos 21 anos, é fácil compreender que não é para ajudar os clubes formadores, mas para ajudar os mais ricos, ou, porque esse é o modelo que mais lucro/resultados trará.
isto, do ponto de vista de que existe uma receita, porque todos os modelos económicos têm mostrado - e duramente - que o que funciona em Freixo de Espada à Cinta não funciona em Neuschwanstein, ou vice-versa...porque os modelos têm que ser adaptados e circunscritos às evidencias quotidianas...
pode ser que este modelo do porto tenha apenas falhado este ano, porque se gastou em si, ou porque falhou, como falham tantas coisas.
pela leitura que faço dos jornais estrangeiros parece que não falhou em si como modelo, apenas falhou...
(- ou, este ano falhou porque eventualmente não era para ter sucesso...isto é difícil de entender e pode ser uma ideia rebuscada de mais, mas quem sabe se o projecto não foi equacionado para dois anos, e não para um...?-)

José Rodrigues disse...

"quando se fala que a partir de 2012 só se puderá ter 25 jogadores acima dos 21 anos"

Andas muito(a) distraído, Reine... já é assim há muitos anos. :-)

Só para relembrar as inscrições na UEFA:

-4 vagas para jogadores da casa (mesmo q tenham 40 anos)

- 4 vagas para jogadores formados no país

- 17 a la volonté

- nr ilimitado de vagas para jogadores de menos de 21 anos com pelo menos 3 anos de casa

É por causa disso q do plantel A este ano só inscrevemos 22 jogadores (já q 3 das vagas dos jogadores casa ficaram por preencher, só o B Alves cumpria os requisitos dos 3 anos no FCP até aos 21 anos), e o Prediger ficou de fora.

José Correia disse...

Miguel Pereira disse...
«Nesta década assistimos ao florescer de duas "gerações falhadas" de cantera portista. A primeira, dos Postigas, Hugo Almeidas, Moreiras, Ricardo Costas, Toneis, Bruno Vale e companhia. A segunda com os Bruno Gamas, Helder Barbosas, Vieirinhas ou Paulos Machados. Honestamente, e talvez exceptuando o P. Machado de que não desgosto, nenhum desses teria lugar num bom plantel do FCP. É a dura verdade.»

Estou, em parte, de acordo com o Miguel, mas também estou de acordo com o Zé Rodrigues. Isto é, entre os jogadores emprestados que têm andado a rodar nos últimos anos, não vejo jogadores com a qualidade (potencial demonstrado) de um Rui Barros (Covilhã, Varzim), Fernando Couto (Académica), Jorge Costa (Marítimo), Sérgio Conceição (Felgueiras), Ricardo Carvalho (Alverca) ou Bruno Alves (Guimarães, AEK).
Mas também é verdade, que alguns dos emprestados (Paulo Machado, Ukra, Castro, Helder Barbosa) não fariam pior figura que muitas das contratações milionárias que ocupam o banco (ou a bancada) azul-e-branca.

Anónimo disse...

Reine Margot diz:"(- ou, este ano falhou porque eventualmente não era para ter sucesso...isto é difícil de entender e pode ser uma ideia rebuscada de mais, mas quem sabe se o projecto não foi equacionado para dois anos, e não para um...?-)"

Ou seja, Vossa Majestade acha que o fracasso deste ano poderia estar previsto e que, portanto, o "projecto" continuará no próximo ano, o que logicamente arredaria a possibilidade da mudança de treinador?

José Rodrigues disse...

"ela leitura que faço dos jornais estrangeiros parece que não falhou em si como modelo, apenas falhou..."

Mal estamos nós se para formarmos opinião própria precisamos de recorrer a jornais estrangeiros, que estão 100x menos familiarizados com o que se passa no FCP (e no futebol português) do que nós...

"isto é difícil de entender e pode ser uma ideia rebuscada de mais, mas quem sabe se o projecto não foi equacionado para dois anos, e não para um...?-)"

Mais do que rebuscada, esta é uma ideia muito peregrina... se bem entendi, segundo a teoria a nossa direcção entendeu prescindir propositadamente de um pentacampeonato para ganhar antes o campeonato da px época, começando a contagem do zero. Será que o 3o lugar, ficando de fora da LC (como é quase certo que aconteça, infelizmente), também foi propositado?

De resto se era para prescindir do penta, podia-se ter disfarçado melhor; para começar, era escusado gastar 35 milhões € em contratações como fizémos (o que está longe de ser uma ninharia, convenhamos).

Miguel Teixeira disse...

@José Rodrigues


(LOL)

eumargotdasilva disse...

Sua majestade vai esclarecer:
a) certo Alexandre. That's exactly what I meant.
b) amigo Rodrigues: 25 na totalidade! (o arsenal p.ex tem 30 jogadores na equipe principal, e para aí uns trinta e tal nas reservas! - e assim que eles sobrevivem às lesões e castigos com bancos de luxo...) não são os inscritos!
C) 'prescindir e voltar à estaca zero' não foi o que eu disse, o que disse era que este poderia ser o 1º ano de outra coisa qualquer ...

Bernini disse...

Aqueles que falam na formação não esqueçam que estamos a passar pelo momento mais degradante a nível de resultados das nossas selecções mais jovens... Há aqui claramente uma grandíssima falta de qualidade. Será devida à invasão de estrangeiros nos últimos anos? Será uma crise momentânea? Não sei, mas que ela existe lá isso existe...
A pressão de ganhar no Porto é demasiada grande para se apostar em jogadores a longo prazo, mas também concordo com quem afirma que deveriamos apostar em jogadores da nossa cantera como alternativas. De qualquer maneira a aposta nos empréstimos é para manter, é preferível um jogador jogar assiduamente num pequeno clube, cresce muito, do que ficar a aquecer o nosso banco ou a bancada...
Não posso concordar é com esses mimos aos miúdos como a clausula de rescisão do Sérgio Oliveira de 30 milhões. Agora a responsabilidade dele é bem maior. Eu sei que podem vir me dizer que é para blindar a sua saída para um "tubarão", mas em todo o caso aí é que veriamos se ele realmente era um dragão ou não, se era um miúdo inteligente ou não... E o que foram fazer ao Hélder Barbosa? Porquê um dragão de ouro aos 17 anos? E quem não se recorda do Zeferino e do Tinaia? Se tivessem ficado talvez as suas "carreiras" fossem outras...
Isto para mostrar que é preciso saber lidar com esta malta jovem, e neste momento o Porto parece não saber...

José Rodrigues disse...

Bernini disse:

"A pressão de ganhar no Porto é demasiada grande para se apostar em jogadores a longo prazo"

Curiosamente foi precisamente com o argumento da "aposta de futuro" que muita gente "vendeu aos adeptos" a contratação de um Bolatti, de um Prediger, de um O. Sá, de um T. Costa, de um Guarin, e tantos outros estrangeiros que chegaram ao FCP jovens, sem CV que se visse, e custando vários milhões cada um...

Custa-me portanto imenso entender que o argumento seja suposto funcionar para jovens da casa, mas já não funcione para jovens de fora com CVs modestos (não incluo nessa lista um Diego, Anderson ou Lisandro que sendo jovens já tinham um CV muito respeitável).

Bernini disse...

José, sim, é verdade isso que diz, mas desses nomes que enunciou o Bolatti e o Prediger estavam num nível idêntico ao do Lisandro. Só que curiosamente jogam numa posição em que cá em Portugal se faz de uma maneira e na Argentina de outra...foram claramente problemas de adaptação. Todos os outros são claramente apostas falhadas porque à partida também não tinham currículo suficiente para vestir a nossa camisola. Mas aqui parece claro que há um tratamento diferente para com os produtos da nossa formação... tanto por parte de quem dirige como de nós adeptos. Se surgir agora a noticia que determinado jogador do Arsenal de Sarandi vem para o Porto o pessoal fica todo empolgado só porque vem da Argentina. No entanto o Arsenal de Sarandi não é mais que o Leixões...