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A presente época ainda não chegou ao fim, longe disso: ainda podemos conquistar a Taça de Portugal, e resta uma esperança ínfima de chegar ao 2o lugar no campeonato. Mas se o treinador e jogadores se devem concentrar nos próximos jogos - é para isso que lá estão e que são bem pagos - não é nada cedo para que a direcção e os adeptos comecem a pensar na próxima época. Mas comecemos por umas reflexões sobre a época em curso.
Nesta temporada assistimos ao maior investimento de sempre no FCP em jogadores - pelo menos 45M€ (para além dos
31M€ no primeiro semestre tivémos ainda A. Pereira, O. Sá, Valeri, Maicón, M. Lopes e Beto antes de 1 de Julho, e R Micael e Addy depois de 31 de Dezembro); e aos
mais elevados custos com pessoal (i.e. salários e bónus) entre clubes portugueses. Logo não foi certamente devido a qualquer contenção de despesas que não atingimos os objectivos: tal como em épocas anteriores "esticámos a corda" (aliás, por alguma razão contraímos em Dezembro um empréstimo obrigacionista superior ao caducado),
ainda que sem cometer loucuras.
Apesar disso vimo-nos arredados da luta pelo título a 10 jornadas do fim, o 2o lugar por um canudo, uma final da Taça da Cerveja perdida sem brilho nem honra, uma equipa em baixa em vez de em crescendo à medida que o campeonato passa, e um potencial de mais-valias no próximo Verão claramente inferior ao da época passada - apesar de uma prestação honrosa (mas com saída humilhante) na LC. Que pasó?
O slb também investiu fortemente, com a diferença de que não venderam "jóias da coroa" (e isto à custa de empréstimos obrigacionistas ainda mais elevados do que os nossos, e a venda de % de jogadores a um fundo de investimento); mas penso que mais importante do que isso foi uma maior competência nas contratações, o acerto na escolha do treinador, e "colo" quando deu jeito (com a colaboração do ignóbil R. Costa).
No entanto a explicação de "colo" já não funciona para o Braga, que até foi em certa medida vítima (alô Vandinho); muito menos a de uma "fuga para a frente", tendo eles um orçamento umas 10 vezes inferior ao nosso (e é também unânime que o plantel é mais fraco do que o nosso).
Ilações para o futuro?
Antes de mais, penso que há que rever em baixa a estratégia de alto risco (
ainda que não tão elevado como a do slb esta época, como expus em Agosto): subir a parada ainda mais - a única alternativa credível - seria hipotecar seriamente o futuro do clube. Nesse caso outra época má sucedida, e sem receitas da Liga dos Campeões, levaria a um impacto por muitos e longos anos. Sendo assim temos que rever significativamente em baixa o investimento em contratações, que tem andado entre os 20 e 40 milhões, tal como a altíssima rotatividade do plantel. Os 15M€ a menos em receitas da LC vão-se fazer sentir, principalmente a partir de Dezembro.
Em segundo lugar, um emagrecimento progressivo da "estrutura" no que está fora do "core business" (que é os jogadores): nomeadamente em custos de salário com administradores, directores, treinadores e restantes administrativos; e em FSE (Fornecimentos e Serviços Externos). Estas rubricas atingiram os 13M€ e 20M€, respectivamente, em 08/09 (e não andarão longe disso em 09/10). Estes custos (só por si umas 3x superiores ao orçamento total de um Braga) têm crescido imenso desde 2003 e precisam mais do que nunca de uma trajectória inversa se quisermos evitar um brusco "apertar do cinto" nas épocas seguintes.
Em terceiro lugar, a mudança de treinador - devido às limitações próprias previamente apontadas neste blog, Jesualdo chegou ao fim do seu "ciclo" no FCP: muito obrigado, estamos gratos pelo balanço geral positivo destes 4 anos, mas adeuzinho e boa sorte.
Penso que o próximo treinador deve encetar trabalho no dia seguinte à final da Taça de Portugal (se não for mais cedo), de forma a ter opinião mais formada sobre prioridades no plantel e possíveis dispensas - mas mesmo antes de se assinar contrato tem que haver uma discussão profunda entre ele e SAD sobre a adequação das ideias dele ao plantel e cultura do FCP, sobre as mais prováveis vendas de Verão, sobre o dinheiro que se estima disponível para investimento (no próximo Verão e seguintes), sobre os papéis de um e outros nas contratações e formação do plantel (com o treinador a ter um papel mais forte do que tem sido o caso), etc.
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Em
quarto lugar, fugir à tentação de revoluções no plantel: uma meia dúzia de entradas e saídas, não mais, até porque temos jogadores subaproveitados. Nas entradas, repescar para aí uns 3 emprestados (Ukra e Castro são os mais fortes candidatos, mas há outros), comprar um par de jogadores que tenham dado nas vistas no campeonato português (de longe o mercado de compras com melhor rácio sucesso/custo ao longo dos últimos anos), e uma eventual contratação de mais monta no estrangeiro (dependendo do dinheiro encaixado em vendas); não escamoteando a possibilidade de mais outra barata (i.e. 2M€ ou menos) de elevado potencial, seja em Portugal ou no estrangeiro. E chega bem.
Nas saídas, vender um ou no máximo dos máximos dois titulares se aparecerem boas propostas (e não me acredito que apareçam propostas superiores a 20M€), e entre os dispensáveis privilegiar os que tenham mais mercado (mesmo que não sejam os menos úteis), mesmo que sejam libertados "de borla" caso tenham salários muito elevados; Farias é um exemplo desse tipo de jogador. Entre os mais indispensáveis coloco Falcao no topo da lista, apesar de possivelmente ser o jogador com mais mercado: faz muita falta e vai bem a tempo de ser vendido numa das épocas seguintes. Já Meireles é, dos titulares com mercado, porventura o que mais facilmente será substituído (penso que um meio-campo com Fernando, Rúben e Belluschi pode ser interessante, se bem trabalhado).
Em quinto lugar, evitar a aquisição de % de passes de jogadores que já nos pertencem (como fizémos este ano com T. Costa, Fernando, Guarin, Falcao) , a não ser que seja por uma pechincha - o que não foi de todo o caso nos casos mencionados. Quem tem uma situação financeira apertada (para não falar num plantel curto) não pode dar-se ao luxo de jogar no casino.
Em sexto lugar, deixarmo-nos de ser "comidos de cebolada" nas instituições, nomeadamente LPF e FPF: temos certamente poder suficiente para evitar que sejam controladas pelo slb a seu bel prazer, começando por um trabalho de casa diligente nas próximas eleições na Liga (muito ao contrário do que aconteceu nas duas eleições anteriores).
Encerro assim as linhas-mestras do que penso ser desejável para a próxima temporada. Como ficou bem explícito, penso que a mudança de treinador é mais do que desejável mas muito longe de ser a única medida necessária ou até mesmo suficiente. Naturalmente, o sucesso desportivo depende também imenso do pequeno "detalhe" da qualidade de execução: começando pelo acerto na escolha do treinador, ou em contratações cirúrgicas - a margem de erro é muito mais baixa, e o trabalho de casa pela frente é portanto imenso. Esperemos que tudo corra pelo melhor, o que é perfeitamente possível.
Cabeça fria para todos e muito trabalho dedicado e honesto para quem lá está dentro, é tudo o que se pede.